quarta-feira, 11 de novembro de 2009

4 meses a mais

“Estive quatro meses a mais” à frente deste clube. Esta frase de Paulo Bento, proferida na conferência de imprensa de despedida aos sócios e simpatizantes leoninos, explica tudo. Paulo Bento ficou quatro meses a mais no cargo de treinador principal do Sporting porque o presidente do clube implorou publicamente pela sua continuidade, era requisito obrigatório para que José Eduardo Bettencourt avançasse com a sua candidatura a presidente do Sporting Clube de Portugal. Bento, sportinguista, deu uma mãozinha e tramou-se.

Portanto, se a exigência do presidente funcionou como o catalisador da desgraça do treinador e, como consequência, da equipa de futebol, já os jogadores foram os carrascos: os que não vieram — defesas precisam-se, o plantel não tem um lateral de jeito, é aflitivo — e os que ficaram... Ressabiados porque já estavam fartos daquele treinador, queiram outro e, ao que tudo indica, Paulo Bento disseminou indícios pelo balneário de que o seu disciplinador reinado chegaria ao fim em Junho/Julho de 2009. Pois é... “Assim não dá. Então o homem ia embora e agora já não vai. Assim não jogo!” A vida de futebolista é lixada.

E Pedro Barbosa? Nenhuma das carências mais evidentes do plantel foi colmatada, nem sequer atenuada. Depois, depois há aquela frase de Paulo Bento: “A pré-época do Benfica deprimiu os sportinguistas, isso criou anticorpos e mais condicionantes à equipa do Sporting”. Neste caso, não compreendo se a culpa é dos adeptos, ou dos jogadores. É um pouco como a conversa do ovo e da galinha... Quem fez porcaria primeiro? Foram os adeptos que assobiaram jogadores e treinador prematuramente, ou foi a equipa que desesperou os adeptos logo no tiro de partida? Até agora, salvou-se o play-off com a Fiorentina, apesar da eliminação, e o percurso tranquilo na Liga Europa. O resto foi uma sucessão de exibições fracassadas e resultados medíocres.

O senhor que se segue no comando da equipa leonina será, forçosamente, um grande motivador. Os jogadores já estão motivados para a Europa, mas no Campeonato vai ser um bico-de-obra convencer os tipos de que ainda é possível salvar a honra do convento. Os índices de motivação e coragem para enfrentar os duelos internos vão determinar se o Sporting chega ao fim em sétimo, ou em terceiro lugar. E porque não ainda melhor? Se há um tipo que diz que já viu um porco a andar de bicicleta...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

4 pontos com sotaque

Tanto ou mais badalado do que o sinuoso percurso de Portugal rumo ao Mundial, o assunto da naturalização de Liedson foi alvo de intenso debate entre comentadores, pseudo-comentadores, cidadãos em geral e ignorantes. O mesmo ocorreu por alturas das oportunas naturalizações de Deco e Pepe.

A nossa Selecção exibe três luso-brasileiros nas suas fileiras: dois jogadores formados em Portugal e um que nos chegou já feito. Se do ponto de vista desportivo não restam dúvidas de que estes três futebolistas são fundamentais para a Selecção, já de um ponto de vista de promoção de valores patrióticos as dúvidas paridas são compreensíveis... Mas não fomos os pecadores originais, nações bem superiores pecaram antes de nós, e se ganharmos o Mundial? Tu não festejas porque estiveram luso-brasileiros em campo? Se assim for, então mereces ser da oposição. Aos outros, só nos resta apoiar a Selecção.

Para já, Portugal está no Play-off de acesso ao Mundial. Não estaria nesta posição sem o empate na Dinamarca, golo de Liedson, nem sem a vitória na Hungria, golo de Pepe. Somando estes dois golos decisivos com o golo do dinamarquês que tem nome de jogador famoso, mas não é ele, é outro que ninguém conhecia e que marcou o golo da sua vida, como dizia, a soma destes três golos tem por resultado que três dos momentos mais marcantes na caminhada portuguesa rumo ao Mundial da África do Sul são da autoria de dois brasucas e um viking. Eu sei que custa um bocadinho, mas bute aí. Viva Portugal!

domingo, 6 de setembro de 2009

Só pode ser dos nervos

Trinta e não sei quantos remates, meia dúzia de oportunidades de golo que não se podem falhar, no final, apenas um golo marcado na sequência de um canto, um golo de todo improvável frente aos gigantes dinamarqueses.

Os entendidos dirão que Liedson devia ter jogado de início, e o mais curioso é que a maioria desses entendidos foi contra a convocação do luso-brasileiro para a nossa Selecção. Do que não me esqueço é que Cristiano Ronaldo foi o melhor marcador da Premier League e da Champions League, também não me esqueço que Simão foi um dos melhores marcadores da nossa Liga nas duas últimas épocas ao serviço do Benfica. E, tanto um como o outro, não se limitavam a marcar golos de penalty ou de livre directo, ambos desenvolveram características de finalizador. No entanto, na Selecção, por muito que rematem, por muito que tenham oportunidades claras, a bola não entra. Só pode ser dos nervos.

É inegável que Portugal voltou a fazer um bom jogo ofensivo frente à Dinamarca, mesmo em períodos da segunda parte apesar de o seleccionador voltar a sacrificar Tiago ao intervalo, um erro crasso. O jogador da Juventus é o elemento mais esclarecido do nosso meio-campo e, juntamente com Deco, o mais evoluído tecnicamente, mas independentemente de jogar este ou aquele, o que mais chateia é que se vê claramente que este Portugal — mesmo em tempo de reestruturação e com um central na posição de trinco — é melhor do que todos os seus adversários, melhor em tudo menos na hora de rematar à baliza. E esta falha não se deve à falta de um goleador de classe mundial, quantos há no futebol actual? Uma dúzia, talvez. Aquele dinamarquês do Arsenal que nos marcou um grande golo é um trambolho com quase dois metros, não é um génio da bola, no entanto, quando chegou o momento deixou-se guiar pelo instinto, por aquilo que vai aprendendo e repetindo nos treinos. Os outros jogam descontraídos, fazem o que podem e o melhor que sabem, divertem-se a jogar futebol, estão concentrados nas suas tarefas... Parece simples, mas nós não chegamos lá. Só pode ser dos nervos.

Daqui a uns dias jogamos com a Hungria. Uma derrota arrumava de vez com o assunto e podíamos todos começar a pensar noutras coisas que não no Mundial da África do Sul. No entanto, nenhum de nós deixa de ser tuga, nem eu, nem tu, nem o Deco, nem o Pepe, nem o Liedson. Ainda acreditamos que vamos encontrar uma fórmula mágica para conseguir o apuramento. Só se for por causa dos nervos... Dos outros.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Angulo para recuar Pereirinha

Nas últimas horas antes do fecho do mercado, o Sporting, talvez, tenha conseguido salvar a época. Uma contratação e uma dispensa que podem revelar-se vitais no ressuscitar de uma equipa que, em apenas um mês, já parecia morta.

Quando tenho a oportunidade de passar uns dias em casa dos meus pais, normalmente, sento-me ao lado do meu pai e vemos desporto na televisão. Quando calha vermos futebol, vamos conversando sobre quem é bom, quem é mau, os problemas deste e daquele. Apesar do meu pai já só ter paciência para assistir aos grandes jogos de futebol, raros no nosso Campeonato, no outro dia fez uma análise ao Sporting que me soou como a mais acertada que já ouvi: “ o problema do Sporting é aquele brasileiro gordo, o Rochemback. Não é admissível que um profissional venha de férias com 5 ou 6 quilos a mais. Contratar este tipo foi o maior erro do Paulo Bento, além de tirar o lugar ao Veloso que é um puto cheio de talento.” Não acrescento um ponto, nem uma vírgula a esta opinião. Rochemback era um cancro para o Sporting, e, se eu fosse adepto leonino, estaria tão contente com a saída do obeso brasileiro como se tivesse acabado de contratar o melhor jogador do mundo.

Por falar em contratações, lá chegou mais um reforço para o Sporting, Angulo de seu nome. Futebolista que fez grande parte da carreira ao serviço do Valência, jogando como segundo avançado, a 10, ou como médio agarrado a uma das linhas laterais. Tenho de admitir que sempre nutri especial simpatia por este jogador espanhol. Sempre me pareceu um jogador com garra, tacticamente irrepreensível, com capacidade técnica mais do que suficiente para se afirmar como um atleta acima da média. Não chegou a ser um jogador de eleição, mas sempre foi um dos meus eleitos. “Mas o tipo já é velho, tem 32 anos”, dirão alguns. É verdade, já não é uma criança, mas acredito que num atleta com as características dele, ter 32 anos não é sinónimo de incompetência, antes pelo contrário. E numa equipa tão jovem como o Sporting, a sabedoria de Angulo será, por certo, muito bem-vinda.

No entanto, há outro ângulo para a contratação de Angulo. Para compreender a abordagem que agora inicio, tem de se constatar dois factos castradores do futebol leonino. Primeiro, a falta que Izmailov faz a esta equipa. Segundo, a defesa do Sporting está uma lástima. Enquanto durar a baixa de Izmailov, Moutinho, Matías Fernández e Angulo deverão ocupar as posições mais ofensivas no meio campo, com Miguel Veloso a trinco. Num processo de adivinhação que se poderá comprovar na próxima jornada da Liga Sagres, daqui a duas semanas, acredito que esta nova opção para o meio-campo irá proporcionar o recuo de Pereirinha para lateral direito. No lado esquerdo da defesa está o puto André Marques, que, sem ser brilhante, não faz muitas asneiras. No centro está outro puto, Carriço, que, apesar de ocasionalmente fazer uma ou outra asneira fruto da sua juventude, já provou ser um central com categoria. No lado direito, Pedro Silva e Abel. Que desgraça! Estão bem um para o outro, até podiam assumir-se como o primeiro casal gay do futebol português que assim só se estragava uma casa. Nos poucos minutos que jogou nessa posição, Pereirinha demonstrou ser melhor que a soma das qualidades dos outros dois pretendentes ao lugar. Está na altura de colocar o puto a titular. Para que a defesa do Sporting deixe de ser uma lástima, depois da (obrigatória) entrada de Pereirinha para a lateral direita, só falta que Polga recupere a voz de comando que se sumiu durante as férias. O que se passa Polga, estás a querer seguir as pisadas do Rochemback?

Afinal, até é fácil

Numa coisa o nosso futebol não engana: as equipas ditas pequenas são muito fraquinhas. Portanto, não há desculpas quando os grandes não vencem os pequenos. Criem oportunidades e tenham a eficácia para as converter em golos que o Campeonato se decide nos jogos entre grandes e nas deslocações aos terrenos daquelas equipas que são mais ou menos.

Na jornada 3 da Liga Sagres, finalmente, os grandes começaram a marcar golos. Dois para o Sporting, três para o Porto e oito para o Benfica, e não ficou espaço para dúvidas, os candidatos ao título foram inequivocamente superiores aos seus adversários e souberam materializar essa superioridade em golos. Por muito que a goleada de 8-1 do Benfica ao Setúbal tenha o condão de resultado histórico, na minha modesta opinião, foi tão-somente a manifestação real da diferença de qualidade entre as duas equipas. Quantas vezes um grande cria dez ou mais oportunidades de golo frente a uma equipa verdadeiramente pequena, para apenas conseguir concretizar uma ou duas, ou, às vezes, nenhuma? Eu respondo... Vezes de mais. Cardoso e Saviola, Hulk, Farias e Falcão, Liedson... Tantos goleadores, tantos médios de qualidade para alimentar estes goleadores e, no entanto, os treinadores sistematicamente se queixam do azar e do penalty que ficou por marcar.

Para quem não saiba, a ciência de marcar um golo não se resume a fazer pontaria na altura do remate. Há uma componente psicológica importante. Tem de existir autoconfiança, discernimento e, principalmente, capacidade de mandar às malvas a ansiedade própria de quem está obrigado a vencer, e concentrar-se apenas naquilo que se treina todos os dias. A ansiedade é a morte do artista, neste caso, do futebolista. Meus amigos, caros médios e avançados com a responsabilidade de marcar golos, executem com confiança e tranquilidade, humilhem estas equipas da treta que povoam o nosso Campeonato e, assim, talvez chegue o dia em que os senhores do futebol percebam que Campeonato a sério, no máximo, só pode ter doze equipas. E mesmo assim...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Gente chata

E lá arrancou a Liga Sagres 2009/2010. Os três grandes mostraram-se previsíveis nos resultados e nas exibições. O campeão nacional pouco jogou à bola, tal como tinha feito na final da Supertaça, e deu-se por contente com um empate na Mata Real, obtido com apenas dez jogadores em campo. O Sporting melhorou um pouco em relação à eliminatória com o Twente, mas não o suficiente para conseguir uma vitória e, principalmente, apaziguar os seus adeptos furiosos com o constrangedor arranque de temporada da equipa de Paulo Bento. Pior esteve o Benfica. Até podem dizer que a equipa efectuou uma boa exibição perante o Marítimo no Estádio da Luz, mas a tão ambicionada vitória não apareceu (tirando a que voa antes do apito inicial do árbitro). Ao fim da primeira jornada, com bom ou mau futebol, todos têm os mesmos pontos, mas o Benfica fica já um passo atrás dos seus rivais que a seguir jogam em casa, enquanto que os encarnados vão a Guimarães. Tristemente previsível é este nosso futebol.

Felizmente não consegui assistir a qualquer partida desta nossa primeira jornada, a praia e as jantaradas retiraram-me essa possibilidade — não seria nada mau se assim fosse no ano inteiro — mas basta ler as manchetes dos jornais desportivos, e ouvir um pouco das declarações dos técnicos dos grandes para ver o filme todo. É sempre o mesmo, o filme, claro está, se o argumento fosse outro, então não era preciso justificar o que fosse… Se as equipas tivessem capacidade e futebol para marcar três ou quatro golos aos seus adversários, pouco importava quem jogou bem, ou quem dominou, enfim, o discurso de sempre: “dominámos sempre a partida”; “a haver um vencedor seríamos nós”; “o futebol tem destas coisas”; “o resultado é injusto”. Só me apetece aplicar um estrangeirismo: lmao (laughing my ass off). Marquem golos, repito, marquem golos, depois podem vir falar se no intervalo dos golos houve espaço para jogar bom futebol ou não. Que espécie chata é esta, a do treinador de futebol português… Para a semana há mais, do mesmo?

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Dia Seguinte

Que bimbos! Longe vão os tempos em que eu conseguia ver uns minutos de «O Dia Seguinte» na SIC Notícias. Guilherme Aguiar deve ter acções na empresa de Balsemão, está agarrado à cadeira e de lá não sai. O representante do Futebol Clube do Porto aparenta ser tudo o que de desprezível se aponta ao campeão nacional: tem ar de mafioso; é faccioso e mais depressa dá um tiro na cabeça de cada membro da sua família do que admite que alguma coisa possa ser melhor do que o seu clube. Já Dias Ferreira é um troglodita. Até pode ser um tipo esperto, mas é ranhoso até dizer basta! E o Sílvio Cervan... Credo! Que imbecil. A sua entrada para o trio de comentadores deve ter sido resultado de um protocolo celebrado entre a SIC e a CERCI de Benfica.

Só recentemente compreendi o verdadeiro significado do título de programa, é que assim que passo pelo canal 5 nas noites de segunda-feira, fico logo com vontade de que o dia seguinte chegue bem depressa... Nas palavras do malogrado Jorge Perestrelo, «O que é que é isso meus?»

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Inter perde... Mas é grande

No sábado passado, mais uma vez graças às transmissões pirata via Web, fiz duplo clique no ícone do SOPCAST para assistir à final da Supertaça de Itália. Frente a frente, o Inter de José Mourinho e, diriam os mais afoitos, de Quaresma, e a Lazio de Roma. Grandíssimo jogo de futebol, tipicamente italiano no que toca à competitividade, mas este Inter 2009/2010 não tem nada de tipicamente italiano. Apesar de derrotado por 2-1 na partida disputada em Pequim, a equipa de Mourinho revelou um futebol muito atractivo, com especial destaque para a excitante dupla de avançados: Eto’o e Diego Milito.

Depois de uma primeira parte bem disputada, em que o Inter foi superior ao seu adversário mas com a Lazio a responder com eficácia defensiva e com alguns contra-ataques perigosos, na segunda parte o Inter de Milão entrou de rompante. Eto’o, Milito e companhia praticaram um futebol de altas rotações e criaram oportunidades de golo a um ritmo assustador, um domínio avassalador. Curiosamente, foi neste período que a equipa romana concretizou os seus dois tentos, o primeiro fruto de um golpe de sorte, o segundo fruto de uma finalização genial do seu capitão Tommaso Rocchi. Como o futebol pode ser injusto... Mesmo assim, os interistas não desistiram, e continuaram a proporcionar um grande espectáculo aos chineses que encheram o Estádio Olímpico de Pequim, mas apenas lograram concretizar uma das dezenas de oportunidades que dispuseram até ao final da partida, por intermédio de Eto’o.

Fiquei com água na boca relativamente ao que este Inter pode fazer a nível interno e na Champions na época desportiva que se avizinha. Além da referida dupla de avançados que promete fazer muitas mossas nas defensivas adversárias, a contratação do central brasileiro Lúcio veio fortalecer ainda mais o sector defensivo da equipa treinada pelo «specialle». Só espero que, para variar um pouco, Mourinho não calhe de novo no caminho de uma equipa portuguesa na Liga dos Campeões, o resultado pode ser catastrófico... Para os portugueses, claro.

Resumo do jogo:

sábado, 8 de agosto de 2009

Galopar merengue

Graças ao fenómeno das transmissões televisivas pirata via Web, tive a oportunidade de assistir esta madrugada à partida do Real Madrid em Toronto, frente à equipa local. O FC Toronto até joga bem à bola, mas é uma equipa ingénua, o que proporcionou muito espaço para os galácticos encantarem o público com pormenores deliciosos. Neste capítulo, dos pezinhos de seda e da bola colada às chuteiras, o velho Raúl (ainda) é um caso à parte. Mas a correr, com e sem bola, Kaká e Ronaldo são um espectáculo dentro do espectáculo. Dois puro-sangue que aceleram o jogo como se estivessem a perseguir novos recordes de velocidade, e introduzem no futebol uma componente estética habitualmente associada ao desporto equestre: a excelência do galope.

Neste Real Madrid 2009/2010 ainda não é certo se Pellegrini irá optar por um 4x4x2 (com Ronaldo descaído para a esquerda e Kaká para a direita) ou por um 4x3x3 (com CR9 no trio da frente e o brasileiro solto no meio-campo). Seja qual for a táctica, uma coisa é certa: Ronaldo; Kaká; Raúl e Benzema têm carta-branca para atacar a baliza... E que gozo é ver estes quatro cavaleiros do apocalipse a galgar terreno em direcção à grande área contrária. Se o capitão merengue prima o seu futebol pela inteligência e delicadeza no toque de bola, ao que ainda se pode acrescentar um raro «faro» de golo, o francês alia técnica à força bruta. Já o português e o brasileiro... sempre que houver espaço, sempre que surgir um contra-ataque, meus senhores, ponham os olhos nestes dois. Para quem aprecia a estética do corpo humano em movimento, contemplar estes dois atletas com características físicas excepcionais a correr livres, vestidos de branco em cima da relva verde é uma visão que vai deixar os mais sensíveis assombrados. Tenho de admitir, apesar de não ser gay, nem fã de ballet e, ainda menos, de corridas de cavalos, eu fiquei com pele de galinha.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A vaca verde e branca

É preciso ter sorte... Uma equipa que fez tudo mal, e um treinador que fez ainda pior. No final, lá se passou uma eliminatória imerecidamente perante uma equipa da terceira divisão europeia. Não é que eu fique triste, fico contente, pois claro. Afinal, temos a possibilidade de colocar duas equipas na Champions. Resta saber se o Sporting vai conseguir ter melhor rendimento na próxima eliminatória. A jogar como fez perante o Twente, arrisca-se a sofrer mais derrotas históricas como na época passada frente a Barcelona e Bayern de Munique.

Muitas vezes me interrogo se o papel de Paulo Bento é preparar a sua equipa para vencer, ou se é promover os jovens saídos da formação sportinguista para que o clube possa encaixar alguns milhões nos finais de época. No encontro da segunda-mão da eliminatória de acesso ao play-off de acesso à Liga dos Campeões — alguns bancos em Portugal não têm tantos obstáculos no acesso ao ouro como a renovada prova da UEFA — Paulo Bento deixou Caneira e Tonel no «banco», e fez entrar para o «onze» Carriço e André Marques. Nada contra apostar nos jovens, mas então para que serve ter jogadores experientes e com currículo no plantel, senão para «chupar» alguns milhões de euros por ano ao clube? Não será nos jogos decisivos que a experiência mais importa? Não será importante a voz de comando de jogadores como Caneira para impedir que os jovens tremam desde as unhas dos pés até à ponta do cabelo? Eu diria que sim, mas quem sabe é Paulo Bento, ou a direcção do Sporting, fica a dúvida. E Djaló, que andou ele a fazer em campo? O pobre do Vukcevic nem com a lesão do Ismailov consegue «calçar» nesta equipa leonina. Até é jovem... Mas não é português.

O relvado do Twente foi uma espécie de campo dos sonhos de Paulo Bento, onde o treinador do risco ao meio explanou o seu imaginário futebolístico ao colocar Djaló na posição de médio interior esquerdo. Tenho de admitir que, por muito que pense, não consigo perceber a ideia do técnico, diria até que se ele queria surpreender alguém, a missão foi cumprida, só que esse alguém foi o próprio avançado (disfarçado de médio) sportinguista. Passando à frente, ou melhor, para a lateral direita, Pedro Silva saltou de titular para futebolista de bancada no espaço de uma semana, e a julgar pela exibição de Abel, mais uma vez me questiono, porque não Caneira? Acho que não há muito mais a dizer em relação ao «onze» do Sporting, mas a entrada de Pereirinha foi outra experiência falhada, com a agravante de ter saído o jogador errado ao intervalo, e queimar as substituições a meia hora do final da partida, quando apenas bastava marcar um golo para vencer a eliminatória, também não me parece manobra de pessoa inteligente. E se há algum azar? Tenta-se a recuperação com dez homens em campo? Ok, já chega. Acrescento apenas que já vi o Paulo Bento fazer muitas asneiras, mas tantas em tão pouco tempo foi a primeira.

De resto, o que se viu foi a ausência total de um fio de jogo. Viu-se também que não foi planeado um pico de forma para ultrapassar esta eliminatória, antes um vale (bem profundo) de forma. Assistimos a uma exibição horripilante de Liedson, a jogar assim nem na Selecção tens lugar. E observámos uma equipa que está a milhas de poder representar Portugal ao mais alto nível na montra do futebol europeu. Fica a esperança de que as próximas semanas tragam uma versão diferente deste Sporting que, para já, não merece o estatuto de equipa grande... Nem no nosso futebol de gente pequena.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O antimourinho

Em recente entrevista, Luís Filipe Vieira afirmou que Jorge Jesus era o melhor treinador português. Quando o jornalista que o entrevistou resolveu acrescentar, “a seguir a Mourinho”, Vieira reforçou a sua ideia: “Para mim, ele é o melhor treinador português” (ponto final). Na altura, atribuí pouca importância a esta afirmação do presidente benfiquista, mas ontem, depois de ouvir as declarações de Jorge Jesus no final do encontro com o Vitória de Guimarães, debrucei-me de novo sobre essa possibilidade, principalmente porque as declarações de Jesus marcaram uma clara diferenciação filosófica na abordagem motivacional que os dois técnicos fazem aos seus jogadores.

O Benfica venceu o Torneio Cidade de Guimarães. Tudo correu bem à equipa encarnada: duas vitórias; bom futebol; seis golos marcados e nenhum sofrido. Mas houve um percalço, a lesão de Maxi Pereira. No final do jogo frente ao Guimarães, no qual o lateral uruguaio já não participou, um repórter da SporTV questionou o técnico benfiquista sobre se os encarnados tinham soluções no plantel para substituir Maxi Pereira, que deverá estar afastado dos relvados por um mês, Jesus não teve papas na língua: “Ficou provado com este jogo que não temos soluções à altura para substituir o Maxi”, jogador considerado fundamental pelo treinador. Por outras palavras, o que Jorge Jesus disse foi que o Patrick, lateral direito brasileiro que teria dificuldades em garantir um lugar a titular numa equipa que luta para não descer na Liga de Honra, não presta.

E é aqui que se estabelece uma clara distinção entre JJ e Mourinho. As únicas vezes que José Mourinho “bate” nos seus jogadores é quando o treinador sabe que os futebolistas podem render mais do que o que demonstram em campo — basta lembrar Sabry nos tempos do Benfica, ou Adriano no Inter — já Jorge Jesus não tem pejo em dizer que os seus jogadores não prestam e que, se pudesse, ia já a correr trocar Patrick por um outro lateral qualquer. Ah, e Jesus continua um bronco, enquanto Mourinho espalha charme por esta Europa fora. Nem com ajudas de um staff de especialistas do bem falar o técnico benfiquista consegue dizer três palavras seguidas sem se engasgar. Mourinho à parte, aos sportinguistas calhou o treinador da “tranquilidade” e do penteado ridículo, aos benfiquistas calhou um que não sabe falar. Só que o último parece ter uma equipa que lhe permite expressar-se através dos resultados, enquanto o primeiro... nem por isso.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A homenagem devida

É sempre triste quando um homem bom nos deixa. E é precisamente essa a imagem que guardo de Bobby Robson... A de um homem bom. Pode ser uma grande mentira, mas essa ideia ninguém me tira.

O contributo de Bobby Robson para o futebol português não ficou registado nos livros de resultados, ficou registado na memória das pessoas. Na memória de quem se lembra de um Sporting que jogava à bola que era um disparate, um futebol lindo que, se calhar, não voltaremos a ver uma equipa portuguesa praticar nos nossos relvados. Na memória de quem se lembra de um treinador do Porto que encarava com elegância as derrotas, comportamento deveras invulgar nos treinadores de um clube pouco habituado a perder. Enfim... Bobby Robson era um senhor carago!

Rest in peace Sir Bobby Robson.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Tricampeão da pré-época

Lá vai o Benfica a todo o vapor e em grande estilo para mais uma época desportiva. Em grande estilo, mas que não deixa de ser um déjà vu. Desde a chegada de Luís Filipe Vieira ao trono, a águia tem primado por contratações de vulto: de Trapattoni a Rui Costa; passando por Miccoli ou Aimar. Mas os benfiquistas sentem algo de diferente nesta pré-época... E não é por causa de Saviola ou Ramirez, é por causa de Jesus, Jorge Jesus.

Trapattoni, Koeman, Camacho, Quique Flores. Quatro nomes de vulto que treinaram o Benfica nos últimos anos. Se o primeiro ainda venceu um Campeonato — praticando o futebol mais horrível de que há memória num campeão nacional — os outros fracassaram com estrondo. Para a época 2009/2010, o director desportivo Rui Costa optou por mandar Quique Flores de volta para Espanha, e contratar Jorge Jesus, técnico que todos apreciavam mas que ninguém (dos grandes) queria contratar. Foi o Benfica quem deu o salto para o escuro. Será que o “bronco” do Jesus consegue fazer o que os letrados que o antecederam não conseguiram? Isto é, ser um vencedor e colocar a equipa a jogar um futebol que entusiasme a massa associativa? Para já, sim. Mas de campeões da pré-época estão os benfiquistas fartos.

Quando os encarnados receberem o Marítimo na primeira jornada da Ligra Sagres 2009/2010 é que se vai ficar a saber qual o estofo do Benfica de Jesus. A poucas semanas do dia D, a equipa apresenta bom futebol e um “onze” definido, onde os jogadores aparecem nos sítios em que mais rendem. Mas, em outras alturas, o Benfica também se apresentou em boas condições na pré-época, para depois claudicar quando começa a competição a sério. Por isso, independentemente dos vários jogos decisivos que vão decorrer ao longo da temporada, o encontro da primeira jornada será o mais importante para este SLB com um treinador português, e com um “onze” titular totalmente estrangeiro, algo que se apresenta como a nota mais negativa da pré-época encarnada. Mas se o Arsenal pode, o Benfica também pode, quer se goste ou não. O que conta são os resultados, sejam escritos em português com sotaque, ou em castelhano.

Portanto, caro Jesus e caríssimos benfiquistas, assim que terminar o Benfica-Marítimo da primeira jornada, vamos todos poder averiguar se o Benfica se vai limitar a ser, mais uma vez, o campeão da pré-época, ou se, finalmente, há equipa para aspirar a ser campeão de algo verdadeiramente importante. Até lá...

Onze ideal Liga Sagres 08/09

Como o FC Porto foi campeão num 4x3x3, a equipa ideal segue com o mesmo esquema táctico:

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O melhor golo do mundo

«Un impresionante obus». «Strepitoso tiro dalla distanza». «40-yard screamer». Estes são alguns exemplos das descrições do golo assinado por Cristiano Ronaldo no Estádio do Dragão que podemos encontrar ao navegar nos principais sítios desportivos da Europa. Um remate portentoso que determinou o vencedor de uma partida e de uma eliminatória.

Estádio do Dragão, cidade do Porto, jogo referente à segunda mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões entre Futebol Clube do Porto e Manchester United. Depois do empate a duas bolas no encontro da primeira mão, o Porto partia em vantagem para a batalha de ontem. Os diabos vermelhos estavam obrigados a vencer a partida ou a empatar pelo menos a dois golos. Tarefa que se adivinhava complicada depois da pálida exibição dos ingleses na recepção aos dragões. Só que todos os portugueses, mesmo os mais optimistas, sabiam que o Manchester era melhor, aliás, o Manchester é o melhor! É o campeão inglês, da Europa e do Mundo em título, e nas suas fileiras conta com o futebolista eleito como o melhor do planeta. Aos ingleses bastava serem iguais a si próprios para aumentarem e muito as probabilidades de passarem a eliminatória... Ao Porto pedia-se superação.

Apesar de me encontrar optimista no início da partida, diria que fiquei apreensivo assim que surgiu na TV a constituição inicial do United. Sir Alex não teve pejo em montar a sua equipa com o único intuito de bloquear o futebol do campeão português. Considero inclusive hilariante que a fórmula vencedora implantada por Ferguson seja em tudo idêntica à fórmula de Quique Flores para o Benfica, um 4x4x1x1, com um duplo pivot defensivo na zona central do meio-campo... Os estrategas ingleses identificaram os pontos fortes da formação portuguesa como sendo a circulação de bola promovida pelo trio do meio-campo, apoiada nas movimentações no flanco esquerdo da dupla Rodriguez-Cissokho. A agressividade e o pressing que Carrick, Anderson e Rooney imprimiram no jogo rapidamente obstruíram a engrenagem do futebol azul e branco. A colocação de Wayne Ronney a médio direito foi determinante durante os 90 minutos, de facto, não está ao alcance de muitos ter um jogador que consegue anular a produção ofensiva do flanco adversário mais forte, sem nunca deixar de constituir ele próprio uma ameaça ofensiva — Extraordinária capacidade para preservar a posse de bola — As outras duas armas azuis, os devaneios de Hulk (jogatana horrível) e Lisandro, foram controladas com classe por três defesas que são do melhor que há no futebol mundial: Vidic; Ferdinand e Evra.

O primeiro minuto do encontro revelou um Manchester a colocar em campo tudo o que o seu treinador imaginou para a partida, e revelou um Porto atarantado, privado da sua identidade. Ao minuto seis mataram a eliminatória. O dragão foi-se erguendo lentamente durante oitenta e quatro minutos mas nunca chegou a cuspir fogo. Um United igual a si próprio no carisma e no talento, mas diferente na abordagem táctica trucidou as ambições portistas. No entanto, a portistas e portugueses sobram vários motivos de orgulho que se podem englobar numa única frase: O Futebol Clube do Porto só foi eliminado pela melhor equipa do mundo porque um português, que é o melhor do mundo, marcou o melhor golo do mundo.


Golo de Cristiano Ronaldo analisado por caras bem conhecidas

quarta-feira, 8 de abril de 2009

The Porto’s way

À moda do Porto, ou «the Porto’s way», é o chavão que se pode colar ao desempenho portista ontem à noite em Old Trafford. À moda do Porto porque a noite de Manchester não foi obra de Pedroto, Artur Jorge, Mourinho, nem de Jesualdo Ferreira, foi fruto da tradição aliada a um nome e a duas cores que simbolizam luta, sofrimento, superação e conquista... tradição essa que nem Octávio Machado conseguiu arruinar.

Qualquer homem sábio concordaria com a presunção de que uma das grandes virtudes do Homem é conhecer as suas limitações. Segundo este prisma, a grande virtude do treinador portista neste último terço de época tem sido saber reconhecer as suas limitações. Afirmo sem medo que Jesualdo Ferreira é um treinador assim-assim, não é um dos grandes, e é curioso constatar que, ao contrário do habitual, o experiente técnico decidiu-se por não introduzir uma surpresa ao escalar a constituição inicial azul e branca para a partida de Manchester. Nos últimos dois anos e meio os dragões têm claudicado repetidas vezes nos encontros de alto gabarito, essencialmente porque o professor tem insistido em baralhar e redistribuir os seus pupilos no relvado, por forma a tentar surpreender os adversários mais cotados. A esperteza saloia tem-se revelado catastrófica.

Colocar a equipa a jogar certinho e esperar que três ou quatro jogadores-chave resolvam as partidas é o máximo a que o professor pode ambicionar. Foi assim que «esmagou» o Arsenal, eliminou o Atlético de Madrid e não restam dúvidas de que Jesualdo finalmente tomou consciência de que esta é a sua realidade e, ao mesmo tempo, o seu «happy place». A nação portista saiu muito a ganhar com este episódio de cariz introspectivo.

O empate a duas bolas conseguido frente ao Manchester United no inferno de Old Trafford, com o detalhe de os dragões terem oferecido dois golos ao adversário, foi a manifestação ofuscante de uma áurea azul e branca que por vezes erradia de cada portador do emblema nortenho. Não se soube de jogadas de bastidores, não foram empregues surpresas tácticas, antes surgiram 14 jogadores (a maioria modestos) sob a influência de uma poção mágica que não perdeu as suas propriedades em trinta anos de utilização. E agora o todo-poderoso Manchester United, vencedor em título da Champions League, está obrigado a fazer algo que nenhuma outra equipa inglesa conseguiu fazer... Ganhar no Estádio do Dragão.

Obviamente que o campeão inglês continua a ser o favorito na eliminatória. Se a poção mágica deles for distribuída nas doses habituais, serão os de vermelho a passar às meias-finais, mas isso por enquanto pouco importa. O que importa é que todos sentimos orgulho, mais ou menos secreto, no trabalho de uma equipa e de um clube que uma porção dos portugueses gasta uma vida a insultar. Para todos os efeitos e independentemente do que se passar no encontro da segunda-mão, a este empate ninguém tira o rótulo de mais uma vitória à moda do Dragão!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O que eu não compreendo

A partida Portugal-Suécia, que terminou com um empate a zero golos muito penalizador para a nossa Selecção, foi a terceira consecutiva em que Portugal não conseguiu marcar golos. O tópico sobre a incapacidade concretizadora dos nossos avançados tem sido amplamente debatido, mas no meu ponto de vista existem apenas dois motivos que explicam esta aselhice nacional: os jovens jogadores só aprendem a fintar e não os ensinam a rematar à baliza; e a pressão que os nossos atletas passaram a sentir depois da derrota com a Dinamarca, ampliada (e muito) com o escândalo Albânia. Portanto, esta parte do nosso fracasso frente à Suécia, eu compreendo. Compreendo ainda a utilização do Pepe a «trinco», até compreendo a escolha inicial para o tridente de ataque e também compreendo que fizemos uma boa exibição. No entanto, passaram-se algumas ocorrências durante o encontro que não compreendo, e passo a enumerar:

1.º O «banco». Mais propriamente, os defesas que foram para o banco de suplentes. Nélson ficou na «bancada», Miguel e Paulo Ferreira não foram convocados. Gonçalo Brandão e Rolando foram os eleitos. O primeiro é um defesa versátil, que pode jogar a central ou a defesa esquerdo, e faz todo o sentido a sua presença no «banco«, ainda mais quando no «onze» está um lateral-esquerdo adaptado (Duda). Já Rolando é um central, como Ricardo Carvalho, Bruno Alves e o «trinco» Pepe. No onze inicial estavam três jogadores que podiam jogar na posição de defesa-central, no «banco» estavam dois jogadores que podiam jogar a defesa central e, um deles, a defesa esquerdo. Pois é, a única posição que não estava assegurada com jogadores em campo ou no «banco», caso sucedesse algo de imprevisto, era a de defesa-direito. Surpresa das surpresas... Foi Bosingwa quem se magoou e lá tivemos que fazer mais uma adaptação e perder profundidade atacante no lado direito. Nélson no lugar de Rolando parecia ser uma medida simples para precaver qualquer eventualidade na defesa... Não foi essa a visão do seleccionador.

2.º A substituição de Tiago. O médio da Juventus fez uma primeira parte sofrível, no entanto, iniciou a segunda metade do jogo em grande nível, ofereceu golos aos seus companheiros, colocou inteligência e visão de jogo ao serviço do colectivo. Uma exibição de encher o olho que foi bruscamente interrompida pouco depois dos 60 minutos de jogo, por decisão técnica. Meireles estava em noite de desnorte, muito ao contrário, Pepe tomava conta do meio-campo. Como teria sido belo contemplar Tiago e Deco a «fazerem jogo» por Portugal naquela última meia hora do tudo ou nada... Não compreendo.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Fim-de-semanário – Semana 6

Depois do regime excepcional a semana passada, o diário de fim-de-semana regressa ao seu formato habitual, isto é, o relato dos eventos futebolísticos ocorridos de sexta a segunda-feira. Bem sei que devia restringir-me ao sábado e ao domingo, afinal isto é um fim-de-semanário, mas tentem explicar isso aos senhores da Liga... Mais depressa os convencem que a carga de ombro é uma cabeçada na omoplata, seguida de um soco na barriga.

Apesar de o formato ter regressado às origens, o dia de publicação é que teima em não corresponder às expectativas. Peço desculpa aos milhares de portugueses que aqui vêem à procura das minhas opiniões espertas todas as terças-feiras, mas na próxima semana também só será possível a publicação na quarta ou quinta-feira. É que vou passar os próximos cinco dias em Arruda dos Vinhos, num retiro espiritual organizado por um imigrante português que descobriu o budismo nos Alpes suíços. Árbitros e dirigentes do nosso futebol também deviam fazer um retiro espiritual, mas daqueles que terminam em suicídio colectivo.


Vá ao estádio, cá dentro

A expectativa era grande à entrada da 17.ª jornada da Liga Sagres. O Porto recebia o Benfica no Dragão, com um ponto de vantagem na liderança da competição. Por sua vez, o Sporting recebia o Braga no Alvalade XXI. Além da vertente desportiva, este jogo tinha na arbitragem outro motivo de interesse. Seria o Braga de novo roubado em partida contra um grande?

O clássico não desiludiu e até se pode dizer que foi houve um clássico dentro do clássico, porque o Porto empatou o jogo por intermédio de um penalty inventado. No Dragão, um encontro razoável foi estragado por um árbitro acagaçado. Já no Sporting-Braga, o comportamento do árbitro foi mais inesperado e os minhotos não foram roubados. Os bracarenses venceram os leões por três bolas a duas e fica a sensação que os outros dois grandes teriam sofrido o mesmo destino, caso a equipa de Jesus não tivesse sido crucificada pelos senhores do apito. É o futebol que temos... Por muito que nos esforcemos por falar apenas dos jogadores e dos golos, lá aparece o homem do apito armado em Marilyn Monroe do desporto.

Olhando apenas para a classificação, vemos a Liga Sagres ao rubro. O Leixões finalmente deixou-se dos empates e venceu o Trofense. A vitória valeu aos de Matosinhos a subida ao terceiro lugar, com os mesmos pontos do Sporting, e as duas equipas seguem a quatro e a três pontos de distância de Porto e Benfica respectivamente. Seis pontos separam o primeiro do quinto e do sexto, Braga e Nacional. Se os dirigentes dos clubes deixassem de pagar aos árbitros, até arriscava dizer que temos campeonato.


Imigrantes de chuteiras

O primeiro destaque luso desta semana vai para Luís Figo. O eterno craque português marcou o segundo golo da sua equipa na deslocação ao terreno do Lecce, partida que terminou com o resultado de 0-3. Aproveitando o empate caseiro do AC Milan, a equipa de Mourinho aumentou para sete pontos a vantagem para o segundo classificado, agora, a Juventus. Figo é o símbolo máximo dos imigrantes de luxo, dentro e fora do campo. Português inteligente e culto, o extremo soube gerir a sua carreira sempre em busca do próximo sucesso e de muito mais guito. Agora que Quaresma se mudou para Inglaterra, o Inter de Mourinho e Figo é a principal montra internacional do melhor produto nacional.

Ainda por Itália, de saudar o regresso do Tiago ao onze titular de Ranieri, na vitória forasteira da Juve perante o Catania. No empate a duas bolas entre a Sampdoria e o Siena, o jovem defesa português Gonçalo Brandão esteve em campo os 90 minutos. Quem não participou do encontro foi outro jovem defesa luso, Manuel da Costa, que se transferiu da Fiorentina para a Sampdoria no mercado de Inverno. Não podia deixar de referir que me orgulho de ter colocado o Gonçalo Brandão na luzes da ribalta, algumas semanas atrás, agora que Carlos Queirós o convocou para a Selecção. É a prova de que o meu trabalho de prospecção de talento nacional é um lavor de utilidade pública. Faça favor de passar por cá mais vezes professor, porque é sempre bem-vindo.

Por Inglaterra a grande notícia do fim-de-semana foi o despedimento do Scolari. O Chelsea empatou a zero na recepção ao Hull City, os adeptos gritaram que o treinador não percebia nada daquilo e Abramovich concordou. Ricardo Carvalho, Bosingwa, Hilário, Quaresma e um tal de Deco, ficam à espera de novo treinador. Em relação à partida propriamente dita, Hilário, Bosingwa e Quaresma foram titulares, tendo o extremo efectuado estreia promissora. Mas com mais este empate, os azuis de Londres já se encontram com sete pontos de atraso para o Manchester United, que ainda tem um jogo em atraso. Os Red Devils venceram no reduto do West Ham por 0-1, com o melhor do mundo, Cristiano Ronaldo, em bom plano durante os noventa minutos.

Quem teve menos feliz foi Makukula, o seu Bolton perdeu 3-0 na visita ao Everton e o avançado português efectuou exibição apagada, tendo sido substituído aos 83 minutos. Finalmente, o West Bromwich recebeu o Newcastle. A partida terminou com a derrota dos da casa por 2-3 e Filipe Teixeira entrou aos 46 minutos com o objectivo de dar nova vida ao futebol ofensivo do WBA. Missão cumprida! A prestação do jovem português foi, inclusive, aplaudida pela crítica. Fico ansiosamente à espera que o jovem médio agarre a titularidade de vez. O treinador do rapaz só pode ser uma besta... Quando se tem no plantel um jogador português, que ainda por cima é médio e ainda por cima se chama Teixeira, tem que se colocar o jogador de início. Mais indícios de que estamos perante um produto tipicamente português e, portanto, de gabarito, é impossível encontrar, até um inglês lerdo e bronco devia conseguir ver isso.

Termino a ronda dos imigrantes de luxo em Espanha. Para não variar, Pepe efectuou uma exibição sólida, provando, mais uma vez, ser um dos melhores centrais do mundo. O Real venceu o sétimo jogo consecutivo, encontrando-se isolado no segundo lugar da classificação, com nove pontos de atraso para o primeiro, Barcelona, e os mesmos nove pontos, mas de vantagem, sobre o terceiro, Sevilha. Precisamente em Sevilha houve derby local, com o Betis a sair vencedor, quebrando um jejum de 14 anos sem vitórias no terreno do seu rival. Ricardo e Nélson foram titulares, com o lateral direito a ser substituído aos 55 minutos, depois de ver cartão amarelo. O Bétis continua a sua recuperação na tabela classificativa, abrindo uma distância de 8 pontos para os lugares de descida. Em Maiorca houve duelo de centrais portugueses, com a equipa de Nunes a receber o Deportivo de Zé Castro. Os dois defesas foram titulares e efectuaram exibições seguras, como é habitual, num encontro que terminou empatado a uma bola. O Atlético Madrid venceu por 0-3 na deslocação a Huelva. Com Beto e Simão lesionados, Maniche foi o único tuga com intervenção na partida, entrando em jogo aos 78 minutos.

O Valência, com Miguel e Manuel Fernandes a titulares, saiu derrotado por 1-0 na deslocação a Osasuna, onde defrontou a equipa orientada por Camacho. No final da partida o treinador espanhol foi cumprimentar o seu antigo pupilo, Manuel Fernandes, que o deixou de mão estendida, recusando-se a retribuir o cumprimento. O caso gerou grande estranheza porque foi Camacho quem lançou o médio no futebol de alta competição. Será o português um ingrato ou houve problemas entre os dois no passado? Acredito mais na segunda hipótese, porque dizem que o ex-técnico do Benfica é muito próximo dos jogadores e, se calhar, o Manuel é daqueles que não papam grupos.

O último motivo de destaque luso vem de Málaga, onde os locais venceram o Almería por 3-2. Hélder Rosário, Duda e Eliseu foram titulares, e apenas Duda não ficou em campo até ao final da partida. Tal como no caso de Gonçalo Brandão, Eliseu também passou a ser conhecido da maioria dos portugueses depois dos meus rasgados elogios neste fim-de-semanário. Agora que foi chamado à Selecção principal, fica mais um caso que me enche de orgulho e mais uma motivação para continuar este trabalho tão mal remunerado, mas nunca ingrato.


Debaixo d’olho


– Na próxima sexta-feira e no sábado, convém ter debaixo d'olho dois jogos da Liga Sagres, Nacional-Guimarães e Braga-Leixões. Dois encontros que vão ajudar a compreender quem tem pedalada para acompanhar os grandes na corrida pelo título.

– Ainda pelo nosso futebol alcoolizado, é imperativo manter o Benfica debaixo d’olho. Luís Filipe Vieira referiu que era preciso manter o «espírito à Benfica». Hoje em dia, já nenhum português faz ideia o que é o espírito à Benfica, portanto, não percam a exibição dos encarnados no próximo fim-de-semana, porque talvez tenhamos a resposta à pergunta: afinal o que é isso do espírito à Benfica?...


Por Bernardino Glória

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Fim-de-semanário – Semana 5

Excepcionalmente, esta semana alarguei o alcance do fim-de-semanário. Com o fecho do mercado de Inverno na segunda-feira, a decisão de quem seria o semifinalista a defrontar o Benfica na Taça da Liga a ser conhecida apenas terça-feira e, já agora, com os jogos das meias-finais da Taça da Liga a disputarem-se na quarta-feira, decretei indispensável dar a conhecer as minhas opiniões espertas sobre todos estes eventos.

Lá por fora, no Bétis, Ricardo voltou a ser santo e lá chegou a pré-convocatória para a Selecção. Entre o pré e o definitivo, reside a distância do pânico ao suicídio de toda uma nação. Outro Ricardo, o Quaresma, teve nova oportunidade para brilhar ao mais alto nível, desta vez, ao serviço de Chelsea. O português agradeceu a Scolari e o melhor que tem a fazer é mostrar serviço. Se falhar, vai ter de agradecer a muita gente porque só com cunhas volta a jogar num grande fora de Portugal.


Vá ao estádio, cá dentro

Vivemos uma semana invulgarmente rica no futebol português. Rica em verdadeiro conteúdo desportivo, obviamente salpicada com polémicas e burrices tipicamente tugas, mas que apenas servem para nos lembrar que Portugal ainda pertence aos portugueses.

A 16.ª jornada da Liga Sagres teve o condão de despertar um herói adormecido... Decorria o minuto 70 da partida Benfica-Rio Ave, quando Pedro Mantorras cravou mais uma seta no coração benfiquista. Tal como Cupido, o angolano permanece invisível a maioria do tempo, mostrando-se apenas na altura certa para desferir um golpe de amor na nação encarnada. O golo que apontou frente aos vila-condenses, e que ditou o resultado final da partida, foi um grito de revolta de um herói há muito silenciado. Mantorras mostrou a toda a gente que ainda pode ser útil... Se conseguiu fazer quatro filhos, de certeza que ainda dá para marcar mais uns golitos. Deixem jogar o Mantorras!

O Benfica lá conseguiu arrancar a vitória e descolar do Sporting. É que os leões insistem em marcar golos fora-de-jogo... Há tanta tranquilidade que os avançados levitam pelas defesas adversárias, não se inquietando com coisas tão triviais como estar atrás do último defesa contrário na altura do último passe. Na Trofa, o Sporting ficou-se pelo 0-0. Quem não consegue manter os mais altos níveis de tranquilidade é o Miguel Veloso. Abortada a transferência para o Bolton, Miguel passou uma manhã difícil e chegou a pensar abandonar o futebol. Fico sem palavras ao contemplar esta tragédia pessoal.

Comparação, à escala real, da altura do Nuno Assis com uma nota de 500 eurosQuem se manteve atento à posição dos defesas contrários, foram os avançados do Porto e marcaram três contra um do Belenenses. A visita ao Restelo foi tranquila quanto baste e os dragões continuam na liderança, em vésperas de receber o Benfica. Um ponto separa os dois gigantes e adivinha-se um embate escaldante na próxima jornada. Mas, mantendo o foco ainda na jornada 16, alerto para a possível obtenção de dois recordes do Guinness: o maior número de empates consecutivos num campeonato profissional de futebol e o hat-trick mais baixo de sempre num campeonato profissional de futebol. Na Madeira, frente ao Nacional, o Leixões empatou pelo quinto jogo consecutivo. Em Setúbal, Nuno Assis marcou três golos ao Vitória local. Com pouco mais de 1,60 metros, o médio será, por certo, um dos jogadores mais baixos de sempre a atingir tal marca num campeonato profissional. É das tais coisas em que fico a matutar... Haverá motivo de celebração ou não, quando as duas principais figuras da jornada são um coxo e um anão?

Saltando para o meio da semana, quarta-feira foi dia de meias-finais da Taça da Liga, com um clássico e... polémica. Apenas terça-feira, véspera das duas partidas, se saberia qual o adversário do Benfica. A escolha recaiu no V. Guimarães, porque o recurso do Belenenses nem foi apreciado pelo Concelho de Justiça. Fico de tal forma impressionado com a astúcia dos senhores do futebol, que perco a capacidade de organizar as ideias. Por isso, faço uma analogia com o boxe para simplificar a explicação da não apreciação do recurso apresentado pelos de Belém. No canto azul temos o Belenenses e no canto vermelho o Guimarães, o CJ da Liga é o árbitro. Normalmente, num combate de boxe, perde-se por KO ou aos pontos, neste caso, o Belenenses foi desclassificado antes de dar o primeiro murro. E porquê? Porque perguntou à pessoa errada onde podia pendurar o roupão. A pergunta foi dirigida à senhora sentada em segundo lugar a contar da esquerda na mesa da campainha, em vez de ser endereçada ao primeiro tipo a contar da direita... E o roupão ficou por pendurar.

Indo adiante para o futebol, Guimarães e Benfica tinham 24 horas para preparar o encontro. Os desgraçados dos vimaranenses foram obrigados a viajar para Lisboa no próprio dia do jogo, abdicando do tão necessário estágio. De qualquer forma, a equipa de Cajuda bateu-se com valentia e vendeu cara a derrota. Os encarnados venceram por 2-1 e carimbaram a presença na final. Já para os lados de Alvalade havia clássico, com o Sporting a receber o Porto. Jesualdo decidiu apresentar uma equipa de habituais suplentes, de forma a poupar os seus craques para a recepção ao Benfica. Já Paulo Bento mandou para o campo a sua principal equipa, apenas com uma ou duas alterações relativamente ao onze base. A partida começou bem para o Porto mas acabou muito mal. Pelo meio, dois penalties disparatados facilitaram a reviravolta no marcador e o leão brindou o dragão com uma goleada à moda antiga.


Imigrantes de chueiras

Ao contrário do habitual, não vou alongar-me muito na apreciação ao comportamento dos nossos imigrantes de luxo por essa Europa fora, porque, também ao contrário do habitual, a minha atenção esteve essencialmente orientada para o futebol dentro de portas. Vou fazer uns poucos destaques pontuais sobre os nossos imigrantes de chuteiras.

José Mourinho fartou-se de esperar que o QI do Quaresma subisse para valores dentro dos mínimos comunitários e passou a batata quente para Scolari. Cabe, agora, ao brasileiro a tarefa de mostrar ao mundo que o Harry Potter não é um efeito especial... Que a Nossa Senhora de Caravaggio te ajude Filipão. Por falar em Inglaterra, O Chelsea ficou ainda mais distante da liderança, fruto da derrota forasteira com o Liverpool por 2-0. Lampard foi expulso injustamente e Bosingwa livrou-se de justa expulsão, depois de pontapear as costas de um adversário. Ao menos os tugas nunca são expulsos injustamente, os bons nem são expulsos quando merecem. Em Manchester, Ronaldo foi o autor do único golo da partida na recepção ao Everton e o United segue no topo da classificação, com dois pontos de vantagem sobre o Liverpool e um jogo a menos.

Por Espanha, Simão lesionou-se na derrota caseira perante o Vallodolid. O extremo português deverá regressar à competição por alturas da eliminatória com o Porto, para a Liga dos Campeões. Mas o grande destaque luso vai para Ricardo. O guarda-redes do Bétis foi decisivo no empate as duas bolas na recepção ao Getafe. Contrariamente ao que muitos possam pensar, quando falo em empate a dois golos e em Ricardo, não faço referência ao guardião por este ter frangado nos golos sofridos, mas sim por ter evitado ainda mais golos na sua baliza. Após ter defendido uma grande penalidade e um remate com selo de golo, mesmo no final da partida, o nosso guarda-redes foi elevado à categoria de herói do encontro. É uma reviravolta inesperada e a prova de que um português nunca desiste. És um exemplo Ricardo!

Na Alemanha voltou o campeonato, depois da paragem de Inverno, e com grande evidência lusa. O Bremen perdeu em casa com o Bielefeld por 1-2. O único tento caseiro foi da autoria de Hugo Almeida, na conversão de um livre. O pontapé do avançado português foi de tamanha violência, que a Al Qaeda vai enviar um olheiro ao próximo jogo da equipa alemã. Outro português a brilhar foi Sérgio Pinto. O médio do Hannover apontou o único golo na vitória frente ao Schalke 04. Sem dúvida, um fim-de-semana com motivos de orgulho para toda a comunidade portuguesa por terras germânicas.

Termino os destaques lusitanos na Grécia e, uma vez mais, com Sérgio Conceição. Depois do episódio do papel higiénico na semana passada, o capitão do PAOK regressou aos relvados esta quarta-feira, na primeira-mão da meia-final da Taça grega. A equipa de Santos recebeu e venceu o Olympiakos e Sérgio Conceição foi o autor do único golo da partida, ao executar um chapéu, de dificílima execução técnica, ao guardião da equipa do Pireu. Parece que os rituais de hooliganismo de que foi alvo no oráculo de Salónica, serviram para dar novo lustro nas qualidades futebolísticas do médio. Resta saber que resposta vai dar quando for alvo da próxima provação... Se misturarmos o seu feitio com a influência dos hooligans gregos, temo que o resultado final seja verdadeiramente explosivo e não me admiraria que, depois de apreciarem a capacidade bélica do pé esquerdo de Hugo Almeida, os olheiros da Al Qaeda se desloquem à Grécia para analisar a capacidade destruidora do nosso homem-bomba. Quem sabe como seria hoje o Mundo se, em tempo útil, os mesmos olheiros tivessem ouvido falar do Sá Pinto...


Debaixo d’olho

– Esta semana, aliás, hoje, quinta-feira, Carlos Queirós vai anunciar a lista de convocados para o particular com a Finlândia. Será que Ricardo vai ser convocado? Será que Deco, depois das declarações de traição à pátria de adopção, vai ser convocado? A acompanhar com muita atenção.

– No fim-de-semana que se aproxima, vai disputar-se a 17.ª jornada da Liga Sagres, com três principais motivos de interesse: o clássico do Dragão, onde Porto e Benfica vão batalhar pela liderança; o jogo do Leixões, seja ele qual for, para aferir se os de Matosinhos continuam determinados a aumentar o recorde do Guinness do maior número de empates consecutivos; o Sporting-Sp. Braga que, além da vertente desportiva, desperta grande curiosidade relativamente à arbitragem. Será que o Braga vai ser, de novo, escandalosamente roubado frente a um grande? A acompanhar com muitas repetições.


Por Bernardino Glória

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Fim-de-semanário – Semana 4

Tenho de admitir que começo a ficar cansado de tanto maldizer. No entanto, o estado do futebol no meu país não inspira outra postura. Só dá mesmo vontade de bater, ainda mais, no ceguinho, até porque este ceguinho é tudo menos pobrezinho. Dirigentes metem o guito ao bolso, árbitros metem o guito ao bolso, futebolistas e treinadores ganham guito como poucos e depois ainda se espantam que o povinho lhes queira cortar o pescoço?

Lá por fora nem tudo são rosas, no entanto, nos futebóis deles colhemos mais flores que ervas daninhas. Camacho queixa-se que os árbitros já roubaram 11 pontos à sua equipa, Mourinho diz que querem lixar o Inter... Mas do que mais se fala, do que mais se escreve, é do show do Messi, do golo do eterno Raul, da finta do Ibrahimovic ou da cabeçada do Berbatov. Quem me dera que o meu país fosse assim...


Vá ao estádio, cá dentro

Décima quinta e última jornada da primeira volta da Liga Sagres. Eis o que nos aguardava este fim-de-semana. Quem seria o campeão da primeira volta? Pouco interessa. Quem foi roubado esta jornada? Ah, agora sim, isso já interessa. E roubado foi... o Braga. O Benfica também o foi um bocadinho. O Futebol Clube do Porto foi o principal beneficiado da jornada, além de vencer a sua partida com muita ajuda do ladrão de serviço na pedreira, subiu, de novo, à liderança da Liga Sagres. De facto, a cada jornada que passa, o nome da nossa Liga mais se assemelha à realidade do nosso futebol... Uma grande bebedeira.

O Porto ganhou em Braga 0-2. Marcou um golo irregular e o árbitro não assinalou três penalties a favor dos bracarenses. O Benfica empatou a zero em Belém e o árbitro não marcou dois penalties a favor dos encarnados. O Sporting empatou a uma bola na Madeira, com o Nacional. O Leixões empatou o quarto jogo consecutivo, desta vez a zero golos e frente ao Marítimo, na Madeira. O Porto está na frente e leva um ponto de vantagem para Benfica e Sporting. O Leixões segue, ainda em quarto lugar, a quatro pontos da liderança. Pronto!


Imigrantes de chuteiras

Respiro fundo e visualizo o meu pensamento positivo. Deixo para trás a tragédia lusa e abraço o universo dos imigrantes de luxo. Não me canso de repetir como estes homens são vitais para manter vivo o orgulho nacional. Se não fosse gente como Cristiano Ronaldo, Figo ou Mourinho, que visão de Portugal teriam os estrangeiros? O Portugal da Liga Sagres? O Portugal da Fátima Felgueiras ou do Vale e Azevedo? Futebolistas, gente nobre, partam à aventura e façam ecoar bem alto o nome deste país à beira-mar plantado. Vão e conquistem!

Recordo as palavras de Jorge Valdano durante a passagem do Baía pelo Barcelona. Na altura, Valdano comentou que o nosso guarda-redes era elegante até quando sofria golos. Transporto o significado dessas palavras para o presente e para outro português de luxo, José Mourinho. O treinador português é digno, mesmo quando é expulso, que foi precisamente o que aconteceu esta última jornada da Serie A. O técnico teve de abandonar o terreno de jogo, depois de acesa discussão com o árbitro da partida frente à Sampdoria. Como sempre, a discussão gerou-se quando Mourinho saiu em defesa de um seu jogador. Se eu fosse rico e tivesse todo o dinheiro que me apetecesse, não era Mike Tyson ou Steven Segal quem eu escolhia para guarda-costas, era mesmo Il Speciale. O Inter venceu por 1-0 e Luís Figo entrou em campo nos últimos 15 minutos, para pôr a casa em ordem. Missão cumprida! Quaresma é que tem de trabalhar muito para atingir o mesmo nível do veterano. Se não fores lá com o Mourinho, é porque nunca lá vais chegar. Aproveita agora Ricardo, quem te avisa teu amigo é. Quem continua a aproveitar muito bem as oportunidades é o Gonçalo Brandão. O central do Siena efectuou mais um jogo seguro, na vitória caseira por 1-0, perante a Atalanta e parece decidido a afirmar-se no panorama internacional.

Sigo para o sul de Itália, para uma terra chamada Brindisi, e apanho o barco para o porto de Pireu, em Atenas. A capital grega assistiu a mais um golo lusitano. Edinho, avançado ex-Setúbal, marcou o segundo dos três tentos com que a sua equipa venceu o Panionos. Em tempo de crise de avançados, convém não esquecer este nosso representante na terra dos deuses.

Mas o grande destaque na Grécia vai inteirinho para Sérgio Conceição. Não é todos os dias que se é expulso de uma partida por atirar um rolo de papel higiénico. Conceição continua a provar que é um dos jogadores portugueses com maior currículo internacional e, esta experiência, vem colocar a fasquia ainda mais alta para todos os outros que ambicionam atingir o patamar onde o médio se encontra. Tudo se passou na deslocação da equipa de Fernando Santos ao terreno do Aris, no momento em que Sérgio foi impedido de marcar um canto porque os adeptos locais atiraram objectos contundentes na sua direcção. Depois de muito se conter (como é seu timbre) o internacional luso não aguentou mais e arremessou, violentamente, um rolo de papel higiénico de volta para a bancada. O árbitro mostrou-lhe o cartão vermelho. O resultado final foi 0-0 e o PAOK deixou fugir ainda mais o Olympiakos na liderança da Super Liga. Mas o melhor estava para vir. Ao regressar ao seu estádio, juntamente com os restantes elementos da sua equipa, Conceição foi recebido como um herói. Nunca antes aqueles adeptos tinham testemunhado um arremesso de rolo de papel higiénico com tamanho fervor. Na boa tradição grega, o português foi levado para o oráculo local, onde foi presenteado com os rituais mais secretos do hooliganismo. Fernando Santos tem, agora, um forte concorrente ao título do português mais popular por terras helénicas.


Por Espanha, Pepe voltou a ser o esteio da defesa merengue, na vitória (1-0) sobre o Corunha, no Santiago Bernabéu. José Castro foi titular no Depor e realizou boa exibição. O Maiorca, com Nunes a jogar os 90 minutos, recebeu e venceu o Valência por 3-1. Do lado dos visitantes, apenas um português em campo, Miguel. Já o Bétis, com Ricardo e Nelson a jogarem toda a partida, foi perder 1-0 ao terreno do Huelva, ainda com Beto a recuperar de lesão. Esta jornada, o guarda-redes luso não foi suficiente para garantir um bom resultado da sua equipa, mas também não frangou! Finalmente, a partida com mais portugueses em campo, o Málaga-Atlético de Madrid, que terminou empatado a um golo. Os três portugueses do Málaga jogaram de início e estiveram todos em bom plano. Nos madrilenos, Simão foi titular e o elemento mais perigoso do ataque da sua equipa. Maniche entrou apenas a vinte minutos do final do encontro. Esta jornada não teve golos portugueses mas, como vem sendo hábito, a tropa lusa destacada para encantar os nossos vizinhos conquistou mais uns pontos de credibilidade. Os nossos capacetes azuis continuam a mostrar competência e aptidão para brilhar em território hostil.

Terminamos a ronda lusa em Inglaterra, onde se interrompeu o campeonato para se jogar a taça... Mas foi taça a sério, não apenas seis joguinhos como na nossa santa terra. Foram uma porrada deles! O Manchester United recebeu e venceu o Tottenham por 2-1. Cristiano Ronaldo fez uma exibição razoável e o Nani não jogou. Um dia destes ainda vou ter uma conversa com o senhor Ferguson a propósito do nosso menino das piruetas... O Chelsea eliminou o Ipswich, vencendo o jogo por 3-1. Os dois portugueses de corpo e alma, Carvalho e Bosingwa, foram titulares e cumpriram muito bem os seus papéis. Já o português arrependido, Deco, entrou apenas a dez minutos do fim. Curioso verificar que o luso-brasileiro nunca mais fez um jogo de jeito, desde que se lembrou de dizer que era no Brasil que se sentia verdadeiramente em casa... Ironia do destino ou justiça divina?

No fim-de-semana em que chegou mais um português a terras de Sua Majestade, Pelé, emprestado pelo Porto ao Portsmouth, reparei (nem eu nasci a saber tudo) que já andava por lá outro Pelé, também ele tuga e que joga no West Bromwich. Este Pelé (ver foto) jogou no Belenenses e depois de duas épocas na segunda divisão inglesa, deu o salto para a Premier League. O polivalente jogador, pode actuar a central ou a trinco, foi titular no empate a duas bolas com o Burnley e esteve em bom plano. Fica no ar a possibilidade de vir a agarrar a titularidade no WBA. Estou torcer por ti pá. Também no mesmo clube, joga outro futebolista lusitano, Filipe Teixeira de seu nome. O talentoso médio foi titular, sendo substituído por volta dos 70 minutos. Teixeira sofreu uma grave lesão no início da temporada e está ainda à procura da sua melhor forma. Não tenho dúvidas de que o jovem jogador tem qualidade para ser figura de proa na sua equipa, haja tempo e tenha oportunidades para isso. Não desistas Filipe.


Debaixo d’olho

– Esta semana traz-nos Taça de Portugal. São os quartos de final e os encontros são disputados a meio da semana. Parabéns à FPF. Na quarta-feira temos a partida cabeça-de-cartaz, Porto-Leixões, e também o Paços de Ferreira-Naval. Quinta-feira joga-se o Atlético Valdevez-Nacional. O último jogo da eliminatória, Guimarães-Amadora, só se disputa no dia 17 de Fevereiro.

– A manter debaixo d’olho está a visita da ilustre Fátima Felgueiras ao nosso país. A ex-autarca vai responder em tribunal por apoios alegadamente ilícitos ao clube da sua cidade. Haja bom-senso meus senhores, como pode qualquer tipo de apoio a um clube de futebol ser considerado ilícito? Quem comete tais actos é um bom patrício. Desta vez, estou contigo Fátima.


Por Bernardino Glória

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Deviam morder a língua

É o tópico do momento em Portugal (como se existisse outro) mas os árbitros estão, mais do que o habitual, na linha de fogo. Os erros grosseiros sucedem-se, jornada após jornada e os protestos ecoam de norte a sul. É difícil prognosticar o fim da polémica porque os árbitros não vão deixar de errar. Esta é uma das poucas certezas no futebol.

A corrente época desportiva já viveu períodos de forte contestação à arbitragem. Podemos lembrar os comentários de Paulo Bento, quando referiu que os adeptos em Alvalade eram muito brandos com os senhores do apito. Podemos lembrar a veemente contestação benfiquista por causa do golo anulado por Pedro Henriques, frente ao Nacional. Mais recentemente, os dois jogos do Braga com Benfica e Porto foram o motivo do alvoroço. Pelo meio, o Sporting venceu um jogo da Taça da Liga graças a um golo apontado em evidente fora-de-jogo.

The Smiling Referee – David FawcettA vitória do Benfica frente ao Sp. Braga, em jogo relativo à 14.ª jornada da Liga Sagres, desencadeou uma avalanche de críticas ao trabalho da arbitragem. Treinador e presidente do clube minhoto gritaram roubo e foi apresentada queixa-crime contra o juiz da partida — Será que sou o único a ver o exagero nisto? — O Sr. Mesquita Machado acusou a comissão de arbitragem de ter substituído o árbitro inicialmente nomeado para essa partida, com o intuito de prejudicar o seu clube, acusação essa feita sem o auxílio de qualquer prova. O treinador do Porto, Jesualdo Ferreira, além de se queixar do trabalho do juiz da sua partida relativa à mesma jornada, fez questão de referir que um rival directo foi, por sua vez, claramente beneficiado pelo homem do apito.

Uma jornada mais tarde, os papeis inverteram-se. Desta vez foram os portistas claramente beneficiados por erros grosseiros de arbitragem, em jogo frente ao Braga. No entanto, o discurso de Jesualdo mudou como da noite para o dia. Na flash interview no final do encontro, quando confrontado com uma pergunta sobre a legalidade do primeiro golo, o técnico virou as costas ao jornalista. Uns minutos mais tarde, na conferência de imprensa, o treinador dos dragões referiu que não estava em posição de ajuizar o lance e que ia para casa ver as repetições na TV. Curioso constatar que na jornada anterior teve tempo para ter certezas sobre os lances polémicos de duas partidas, antes de ir a casa ligar a televisão... A hipocrisia não tem limites neste nosso futebol.

O que se ganha quando treinadores e dirigentes constantemente lançam achas para a fogueira da arbitragem? Porque não se preocupam, acima de tudo, com as suas equipas e o futebol que estas praticam e deixam para a comunicação social e para a opinião pública o exercício da crítica e, se inevitável, do insulto aos senhores do apito? Como já se comprovou, quem hoje é roubado, amanhã acaba por ser presenteado... Até o Braga há-de ter a sua vez. E se há motivos para o trabalho de um árbitro se transformar em caso de polícia, então que se respeite o segredo de justiça. Que se acabe com a hipocrisia, depois, com a peixeirada e, quem sabe, talvez os portugueses voltem a sofrer o desporto-rei com alegria.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Fim-de-semanário – Semana 3

Que saudades dos tempos antigos, quando as famílias iam ao futebol nos fins-de-semana para assistir aos jogos da Liga... Não da Taça da Liga. Apenas seis jogos disputados em dois dias e as duas principais ligas paradas. Um fim-de-semana em que só se disputam partidas de uma taça qualquer, não passa de um fim-de-semana de aluguer. Como quem empresta o seu ventre para fazer um filho e depois o entrega a outra mulher. Que pobreza!

No estrangeiro, onde se sabe respeitar o desporto-rei, muitos imigrantes de luxo estiveram em acção nos seus respectivos campeonatos. Sim, nos campeonatos. O principal foco de interesse tuga residia na possibilidade de Makukula se estrear ao serviço do seu novo clube e logo contra o Manchester United. Por Espanha, o destaque luso consistia em saber se o nosso Ricardo iria manter a titularidade na baliza do Bétis. No entanto, como muitos portugueses foram mal paridos (claro que não falo dos nossos futebolistas imigrantes) encontra-se sempre algo mais para destacar... A ler na secção «Imigrantes de chuteiras».


Vá ao estádio, cá dentro

Bom, que escrever sobre o futebol em Portugal no passado fim-de-semana? Podia fazer um resumo da jornada da Taça da Liga em duas linhas, uma coisita para despachar. Mas não me resigno em ser tão pobre de espírito como os senhores da Liga e deixo aqui uma prenda para a malta jovem. Porque são os jovens que podem vir a salvar o nosso futebol da treta. Vamos a isto!

Oh yeah! Hum, hum, hum, bute aí malta! É o rap da taça da liga!
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Doze equipas
Do-do-do-do doze equipas
Disputam a taaaça da liga
Rebentam a escaaala d’euforia
Do-do-do-do doze equipas
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Yeah pá
Io brother, bute aí à bola no fim-de-semana
Io bacano, não há bola este fim-de-semana
Tas a brincar primo? A taça da liga tá a rebentar na cena
Vê lá se queres uma naifada nas ventas
Fica cool meu, aqui na Amadora é que não há nada pa ninguém
Se vives em Lisboa, Setúbal, Porto, Funchal ooooooou Guimarães, tá-se bem
Tou-te a ver, futebol a valer só um ou dois tugas podem ver
E quando é assim só há uma coisa a fazer
Cantar este rap e mandar os cotas fooooo (agora todos) der
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Doze equipas
Do-do-do-do doze equipas
Disputam a taaaça da liga
Rebentam a escaaala d’euforia
Do-do-do-do doze equipas
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Topaste os jooogos bacano?
Yaaaaa podes crer
Vi no café do cromo que bulia na REFER
O Benfas despachou os azuis como convém
Mas o árbitro apitou uma falta que não lembra a ninguém
Ya com o Moreeetto tá-se bem
Se não fosse o árbitro quem ria eram os de Belém
E viste o leeevezinho?
Um hat-trick não é pra qualquer bacanozito
Yaaaaa tá-se bem
Com ele o Sporting não tem medo de ninguém
Mas bué da seca é não haver mais jogos pra ver
Ya brother, podes crer
E quando é assim só há uma coisa a fazer
Cantar este rap e mandar os cotas fooooo (agora todos) der
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Doze equipas
Do-do-do-do doze equipas
Disputam a taaaça da liga
Rebentam a escaaala d’euforia
Do-do-do-do doze equipas
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Instrumental
(base rítmica do Sam The Kid e solo de flauta do Rão Kyao)

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Doze equipas
Do-do-do-do doze equipas
Disputam a taaaça da liga
Rebentam a escaaala d’euforia
Do-do-do-do doze equipas
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Oh yeah! Hum, hum, hum
(falado e com a batida em fade)
Vai dar banho ó cão ó cota da liga
Dá cá mais 12 meu ganda anormal
Ya tá-se bem... mal


Imigrantes de chuteiras

Começamos a ronda pelos países da Europa onde ainda existe gente civilizada. Como em Inglaterra, onde a partida Bolton-Man. United despertava grande interesse para as cores nacionais. De um lado estava o melhor do mundo, Ronaldo — Nani não saiu do banco — Do outro estreava-se Makukula, possante avançado português que foi à procura de melhor sorte em terras britânicas. Para comprovar o prestígio que os nossos emigrantes de luxo gozam por esse mundo fora, o técnico do Bolton incluiu o avançado lusitano na equipa inicial. Foi chegar e jogar. Mas os de Manchester ganharam o desafio, com o único tento da partida a ser apontado no último minuto por Berbatov. Nenhum dos portugueses teve dia de grande inspiração. Melhores dias virão.

Quem brilhou foi outro português a jogar nas ilhas britânicas, Bruno Aguiar. O ex-benfiquista marcou um golo na vitória da sua equipa, Hearts, frente ao Kilmarnock, por 0-2, em mais uma jornada da liga escocesa. Aguiar parece de volta à sua melhor forma, depois de debelados os problemas físicos que o apoquentaram por várias semanas. Recorde-se que o médio foi considerado o melhor jogador do mês de Novembro (antes de se lesionar) e é figura de proa no campeonato principal da Escócia. Força Bruno!

Este fim-de-semana, como nos outros, houve muito talento português à solta para deleite do cidadão espanhol. Houve, ainda, pelo menos um português a observar com muita atenção as prestações dos jogadores lusos aqui ao lado. Julgava eu que o seu trabalho consistia em observar com muita atenção mas enganei-me. Falo do correspondente em Espanha do único jornal que leio. O senhor jornalista, que é pago para passear no estrangeiro e ver jogos de bola, preocupa-se mais em escavacar o produto nacional do que em promovê-lo. Já nem digo promovê-lo mas pelo menos que o descreva com justiça.

O indivíduo em causa, assinou a crónica do Real Madrid-Osasuna, que os merengues venceram por 3-1 e fez questão de referir que o Pepe realizou uma má exibição, com particular realce para o lance do único golo sofrido, em que o central português terá sido muito mal batido pelo ar. O problema é que quem foi batido nesse lance foi o Cannavaro e não o nosso centralão. A foto ao lado não está muito actualizada, pois o italiano está agora careca e os dois jogadores ficam um tudo nada mais parecidos, no entanto, não desculpa o erro, principalmente quando se faz questão enfatizar uma falha grave que não foi cometida pelo nosso representante. O senhor jornalista vê mal, não tem orgulho nos nossos e anda a chular o seu patrão. Fica a denúncia e estou à disposição caso queiram contratar um profissional sério e orgulhoso da sua pátria.

Nos restantes jogos da jornada, grande destaque para a confirmação de que Ricardo é mesmo o dono da baliza do Bétis. Com Nelson igualmente a jogar de início, os sevilhanos foram vencer a casa do Valladolid por 1-3 e ascenderam ao 13.º lugar na classificação da liga espanhola. A titularidade do guardião português poderá implicar nova chamada à Selecção — Assombra-me a visão de centenas de milhares de portugueses a fugirem de suas casas, de mãos nas cabeças e o terror estampado nas caras — Em Barcelona, Castro foi incapaz de impedir o vendaval catalão e o Corunha perdeu por 5-0. O Atlético de Madrid, com Simão e sem Maniche, empatou a um golo no terreno do Almería. Já o Málaga, com os três tugas em campo, recebeu e venceu o espanhol por expressivos 4-0. Finalmente, o Valência deslocou-se a Bilbao e perdeu 3-2. Manuel Fernandes foi o nosso único representante em campo e não esteve feliz. Foi uma falta sua que originou o penalty que resultou no golo da vitória do Atletic, no último minuto. Não desanimes rapaz, continuo a ter orgulho em ti.

Passamos por Itália para finalizar os destaques lusitanos além-fronteiras. Mourinho teve um dia para esquecer e o seu Inter acabou derrotado por 3-1 na deslocação ao terreno da Atalanta. Os interistas estão ainda na liderança, com três pontos de vantagem para a Juventus, que já contou com Tiago nos convocados mas ainda não entrou em campo. Força Tiago, o pior já passou. Não podia deixar de referir um jogador que poucos conhecem mas que é pedra fundamental na defesa do Siena. Falo de Gonçalo Brandão, ex-central do Belenenses, que decidiu procurar melhor sorte no estrangeiro. Para já, a experiência está a correr muito bem e no sábado o Siena venceu a Reggina por 1-0, com o nosso central a jogar os 90 minutos. Bem-vindo ao clube dos emigrantes de luxo Gonçalo.


Debaixo d’olho

- Um assunto apenas vai merecer toda a minha atenção esta semana. O caso goal average, que promete vir a ser tão badalado com o caso dos voos da CIA em espaço aéreo nacional. Segundo os advogados do Belenenses, os senhores da Liga não sabem qual é a diferença entre goal average e goal difference e, por esse motivo, contestaram a passagem do V. Guimarães às meias-finais da Taça da Liga. Não me vou dar ao trabalho de fazer contas mas fico com a ideia que os azuis têm uma certa razão. O que, por si só, seria mais um atestado de burrice passado aos comandantes do nosso futebol. A seguir com muita chacota e atenção...


Por Bernardino Glória

P.S. Gostaria de pedir desculpa aos caríssimos leitores pelo atraso na publicação desta rubrica nas últimas duas semanas. É que o meu chefe fugiu para o Brasil com o dinheiro dos nossos salários e não há guito para pagar a net. Tenho contado com a boa vontade de amigos para poder navegar de vez em quando. Mas prometo que o fim-de-semanário vai voltar a ser publicado todas a terças, já a partir da próxima semana... A não ser que o próximo chefe também se arme em Fátima Felgueiras.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Esquecer Cruyff

No dia 17 de Janeiro de 2009, o Barcelona goleou o Deportivo da Corunha por expressivos 5-0 e alcançou novo recorde de pontos somados numa primeira volta do campeonato espanhol, desde que este se disputa com 20 equipas e com a vitória a valer 3 pontos. Decorridas 19 jornadas, os catalães marcaram 59 golos (média de 3.1 por partida) e sofreram apenas 13. Números impressionantes que atestam a qualidade do trabalho de um treinador que muitos condenaram ao fracasso, entre os quais eu me incluo.

No início da época, consegui entender o porquê de Laporta contratar Guardiola mas de imediato vaticinei um retumbante fracasso do projecto Barcelona 2008/2009. O jovem técnico tinha pouca ou nenhuma experiência a treinar jogadores de elite, a sua postura denotava pacatez e até alguma passividade, que me levou a prever que o treinador espanhol não teria pulso para orientar equipas de topo. A seu favor, tinha o facto de ser um homem da casa e ter atingido uma dimensão enquanto futebolista apenas ao alcance de uns poucos. Como jogador, o ex-médio era, essencialmente, um atleta muito inteligente e possuidor de impecável cultura táctica, atributos que vemos reflectidos no actual futebol do Barcelona.

Os primeiros jogos da temporada pareciam confirmar as suspeitas de muitos. O Barcelona ganhou pouco e jogou mal. No entanto, essa fraca produção não durou muito e, paulatinamente, começou a surgir uma equipa cada vez mais demolidora. Depois de uma pequena limpeza de balneário e sem ter o plantel mais rico do planeta, longe disso, o Barça parece ter as pedras certas nos sítios certos. Um grande central, Puyol, dois médios muito inteligentes e de enorme capacidade técnica, Xavi e Iniesta, o melhor jogador do momento, Messi e um goleador, Eto’o. Não posso deixar de referir Thierry Henry, que atravessa uma fase bastante produtiva, ele que alguns meses atrás parecia terminado para o futebol.

O Barcelona também evidencia algo que muitas equipas carecem, os tais mecanismos de que tanto se fala. É uma equipa com um fio de jogo perfeitamente estabelecido, coerente com a tradição filosófica do clube, que assenta em posse de bola prolongada, alternada com grande rapidez de execução no último terço do campo e sempre em busca do golo. Fica a ideia de que, com mais ou menos craques, a equipa sabe sempre o que fazer e como chegar à baliza do adversário. É, na essência, o Barcelona de tradição holandesa, cujo representante máximo era o futebol praticado pelas equipas orientadas por Cruyff. Digo era porque, mantendo estes números no que resta da época, a grande referência do futebol espectáculo e eficiente passará a ser o Barcelona de Guardiola, com a vantagem de ostentar uma solidez defensiva nunca antes vista por terras de Gaudí.

O futebol é uma caixinha de surpresas, o próprio desempenho do Barcelona começou por ser uma surpresa mas, se não ocorrer uma grande surpresa, Pepe Guardiola está destinado a render Johan Cruyff no trono da memória colectiva blaugrana... Disso, tenho a certeza.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Pronto, já podes jogar à bola

Ufa! Lá deram o galardão ao CR7 e fizeram dele o homem mais feliz do planeta. Depois do craque português ter vivido os últimos meses em constante obsessão com a atribuição do prémio FIFA World Player de 2008, agora, Ronaldo pode voltar a jogar à bola.

Já fui extremamente crítico das performances e da postura que Cristiano Ronaldo evidenciou desde o final da época 2007/2008 – Cliquem para recordar esse post – Um dos principais motivos que referi para explicar o comportamento da estrela maior do nosso futebol, foi a sua fixação doentia em vir a ser confirmado como o melhor do mundo, que afastou a espontaneidade e alegria da sua forma de agir em campo. Também implicou que, na corrente época, não tenhamos conseguido vislumbrar o Cristiano que tanto trabalhou para ser melhor que todos os outros.

No momento em que Pelé anunciou o melhor jogador de 2008, não vi o Ronaldo vaidoso e pedante dos últimos tempos. Vi sim, um homem pleno de felicidade e, diria até, estonteado com a magnitude do que lhe estava a suceder. Reconheci um homem ambicioso mas no sentido certo, alguém que será sempre polémico mas que não se esquece que o segredo do sucesso está no trabalho.

Não tenho dúvidas de que vamos voltar a ver o CR7 em grande, que entra em campo descontraído mas concentrado no trabalho, em vez de se perder em brilhantismos para a bancada. Não tenho dúvidas de que vai voltar a ser um gozo vê-lo jogar futebol, partir os adversários e marcar grandes golos. Arrisco, inclusive, que na Selecção e no que resta da fase de qualificação para o Mundial-2010, vamos assistir ao melhor Ronaldo de sempre. Espero não estar a embandeirar em arco, no fundo, todas estas conclusões são baseadas num feeling. Mas, ao bom estilo dos profilers das séries norte-americanas, não se consegue ler futebol sem fazer apelo ao instinto.

Não creio, no entanto, que o português venha a ser o contemplado com o prémio relativo a 2009. Messi já leva muitos pontos de vantagem e está a realizar uma temporada brilhante. Mas, Ronaldo, ainda vai a tempo de brilhar o suficiente para ficar nos três primeiros e aspirar a repetir o título de número um em 2010. Vou ficar muito irritado se o futuro revelar que o meu instinto era um equívoco mas, por enquanto, acredito que o nosso craque está mesmo de volta e... ripa na rapaqueca!