quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Fim-de-semanário – Semana 4

Tenho de admitir que começo a ficar cansado de tanto maldizer. No entanto, o estado do futebol no meu país não inspira outra postura. Só dá mesmo vontade de bater, ainda mais, no ceguinho, até porque este ceguinho é tudo menos pobrezinho. Dirigentes metem o guito ao bolso, árbitros metem o guito ao bolso, futebolistas e treinadores ganham guito como poucos e depois ainda se espantam que o povinho lhes queira cortar o pescoço?

Lá por fora nem tudo são rosas, no entanto, nos futebóis deles colhemos mais flores que ervas daninhas. Camacho queixa-se que os árbitros já roubaram 11 pontos à sua equipa, Mourinho diz que querem lixar o Inter... Mas do que mais se fala, do que mais se escreve, é do show do Messi, do golo do eterno Raul, da finta do Ibrahimovic ou da cabeçada do Berbatov. Quem me dera que o meu país fosse assim...


Vá ao estádio, cá dentro

Décima quinta e última jornada da primeira volta da Liga Sagres. Eis o que nos aguardava este fim-de-semana. Quem seria o campeão da primeira volta? Pouco interessa. Quem foi roubado esta jornada? Ah, agora sim, isso já interessa. E roubado foi... o Braga. O Benfica também o foi um bocadinho. O Futebol Clube do Porto foi o principal beneficiado da jornada, além de vencer a sua partida com muita ajuda do ladrão de serviço na pedreira, subiu, de novo, à liderança da Liga Sagres. De facto, a cada jornada que passa, o nome da nossa Liga mais se assemelha à realidade do nosso futebol... Uma grande bebedeira.

O Porto ganhou em Braga 0-2. Marcou um golo irregular e o árbitro não assinalou três penalties a favor dos bracarenses. O Benfica empatou a zero em Belém e o árbitro não marcou dois penalties a favor dos encarnados. O Sporting empatou a uma bola na Madeira, com o Nacional. O Leixões empatou o quarto jogo consecutivo, desta vez a zero golos e frente ao Marítimo, na Madeira. O Porto está na frente e leva um ponto de vantagem para Benfica e Sporting. O Leixões segue, ainda em quarto lugar, a quatro pontos da liderança. Pronto!


Imigrantes de chuteiras

Respiro fundo e visualizo o meu pensamento positivo. Deixo para trás a tragédia lusa e abraço o universo dos imigrantes de luxo. Não me canso de repetir como estes homens são vitais para manter vivo o orgulho nacional. Se não fosse gente como Cristiano Ronaldo, Figo ou Mourinho, que visão de Portugal teriam os estrangeiros? O Portugal da Liga Sagres? O Portugal da Fátima Felgueiras ou do Vale e Azevedo? Futebolistas, gente nobre, partam à aventura e façam ecoar bem alto o nome deste país à beira-mar plantado. Vão e conquistem!

Recordo as palavras de Jorge Valdano durante a passagem do Baía pelo Barcelona. Na altura, Valdano comentou que o nosso guarda-redes era elegante até quando sofria golos. Transporto o significado dessas palavras para o presente e para outro português de luxo, José Mourinho. O treinador português é digno, mesmo quando é expulso, que foi precisamente o que aconteceu esta última jornada da Serie A. O técnico teve de abandonar o terreno de jogo, depois de acesa discussão com o árbitro da partida frente à Sampdoria. Como sempre, a discussão gerou-se quando Mourinho saiu em defesa de um seu jogador. Se eu fosse rico e tivesse todo o dinheiro que me apetecesse, não era Mike Tyson ou Steven Segal quem eu escolhia para guarda-costas, era mesmo Il Speciale. O Inter venceu por 1-0 e Luís Figo entrou em campo nos últimos 15 minutos, para pôr a casa em ordem. Missão cumprida! Quaresma é que tem de trabalhar muito para atingir o mesmo nível do veterano. Se não fores lá com o Mourinho, é porque nunca lá vais chegar. Aproveita agora Ricardo, quem te avisa teu amigo é. Quem continua a aproveitar muito bem as oportunidades é o Gonçalo Brandão. O central do Siena efectuou mais um jogo seguro, na vitória caseira por 1-0, perante a Atalanta e parece decidido a afirmar-se no panorama internacional.

Sigo para o sul de Itália, para uma terra chamada Brindisi, e apanho o barco para o porto de Pireu, em Atenas. A capital grega assistiu a mais um golo lusitano. Edinho, avançado ex-Setúbal, marcou o segundo dos três tentos com que a sua equipa venceu o Panionos. Em tempo de crise de avançados, convém não esquecer este nosso representante na terra dos deuses.

Mas o grande destaque na Grécia vai inteirinho para Sérgio Conceição. Não é todos os dias que se é expulso de uma partida por atirar um rolo de papel higiénico. Conceição continua a provar que é um dos jogadores portugueses com maior currículo internacional e, esta experiência, vem colocar a fasquia ainda mais alta para todos os outros que ambicionam atingir o patamar onde o médio se encontra. Tudo se passou na deslocação da equipa de Fernando Santos ao terreno do Aris, no momento em que Sérgio foi impedido de marcar um canto porque os adeptos locais atiraram objectos contundentes na sua direcção. Depois de muito se conter (como é seu timbre) o internacional luso não aguentou mais e arremessou, violentamente, um rolo de papel higiénico de volta para a bancada. O árbitro mostrou-lhe o cartão vermelho. O resultado final foi 0-0 e o PAOK deixou fugir ainda mais o Olympiakos na liderança da Super Liga. Mas o melhor estava para vir. Ao regressar ao seu estádio, juntamente com os restantes elementos da sua equipa, Conceição foi recebido como um herói. Nunca antes aqueles adeptos tinham testemunhado um arremesso de rolo de papel higiénico com tamanho fervor. Na boa tradição grega, o português foi levado para o oráculo local, onde foi presenteado com os rituais mais secretos do hooliganismo. Fernando Santos tem, agora, um forte concorrente ao título do português mais popular por terras helénicas.


Por Espanha, Pepe voltou a ser o esteio da defesa merengue, na vitória (1-0) sobre o Corunha, no Santiago Bernabéu. José Castro foi titular no Depor e realizou boa exibição. O Maiorca, com Nunes a jogar os 90 minutos, recebeu e venceu o Valência por 3-1. Do lado dos visitantes, apenas um português em campo, Miguel. Já o Bétis, com Ricardo e Nelson a jogarem toda a partida, foi perder 1-0 ao terreno do Huelva, ainda com Beto a recuperar de lesão. Esta jornada, o guarda-redes luso não foi suficiente para garantir um bom resultado da sua equipa, mas também não frangou! Finalmente, a partida com mais portugueses em campo, o Málaga-Atlético de Madrid, que terminou empatado a um golo. Os três portugueses do Málaga jogaram de início e estiveram todos em bom plano. Nos madrilenos, Simão foi titular e o elemento mais perigoso do ataque da sua equipa. Maniche entrou apenas a vinte minutos do final do encontro. Esta jornada não teve golos portugueses mas, como vem sendo hábito, a tropa lusa destacada para encantar os nossos vizinhos conquistou mais uns pontos de credibilidade. Os nossos capacetes azuis continuam a mostrar competência e aptidão para brilhar em território hostil.

Terminamos a ronda lusa em Inglaterra, onde se interrompeu o campeonato para se jogar a taça... Mas foi taça a sério, não apenas seis joguinhos como na nossa santa terra. Foram uma porrada deles! O Manchester United recebeu e venceu o Tottenham por 2-1. Cristiano Ronaldo fez uma exibição razoável e o Nani não jogou. Um dia destes ainda vou ter uma conversa com o senhor Ferguson a propósito do nosso menino das piruetas... O Chelsea eliminou o Ipswich, vencendo o jogo por 3-1. Os dois portugueses de corpo e alma, Carvalho e Bosingwa, foram titulares e cumpriram muito bem os seus papéis. Já o português arrependido, Deco, entrou apenas a dez minutos do fim. Curioso verificar que o luso-brasileiro nunca mais fez um jogo de jeito, desde que se lembrou de dizer que era no Brasil que se sentia verdadeiramente em casa... Ironia do destino ou justiça divina?

No fim-de-semana em que chegou mais um português a terras de Sua Majestade, Pelé, emprestado pelo Porto ao Portsmouth, reparei (nem eu nasci a saber tudo) que já andava por lá outro Pelé, também ele tuga e que joga no West Bromwich. Este Pelé (ver foto) jogou no Belenenses e depois de duas épocas na segunda divisão inglesa, deu o salto para a Premier League. O polivalente jogador, pode actuar a central ou a trinco, foi titular no empate a duas bolas com o Burnley e esteve em bom plano. Fica no ar a possibilidade de vir a agarrar a titularidade no WBA. Estou torcer por ti pá. Também no mesmo clube, joga outro futebolista lusitano, Filipe Teixeira de seu nome. O talentoso médio foi titular, sendo substituído por volta dos 70 minutos. Teixeira sofreu uma grave lesão no início da temporada e está ainda à procura da sua melhor forma. Não tenho dúvidas de que o jovem jogador tem qualidade para ser figura de proa na sua equipa, haja tempo e tenha oportunidades para isso. Não desistas Filipe.


Debaixo d’olho

– Esta semana traz-nos Taça de Portugal. São os quartos de final e os encontros são disputados a meio da semana. Parabéns à FPF. Na quarta-feira temos a partida cabeça-de-cartaz, Porto-Leixões, e também o Paços de Ferreira-Naval. Quinta-feira joga-se o Atlético Valdevez-Nacional. O último jogo da eliminatória, Guimarães-Amadora, só se disputa no dia 17 de Fevereiro.

– A manter debaixo d’olho está a visita da ilustre Fátima Felgueiras ao nosso país. A ex-autarca vai responder em tribunal por apoios alegadamente ilícitos ao clube da sua cidade. Haja bom-senso meus senhores, como pode qualquer tipo de apoio a um clube de futebol ser considerado ilícito? Quem comete tais actos é um bom patrício. Desta vez, estou contigo Fátima.


Por Bernardino Glória

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Deviam morder a língua

É o tópico do momento em Portugal (como se existisse outro) mas os árbitros estão, mais do que o habitual, na linha de fogo. Os erros grosseiros sucedem-se, jornada após jornada e os protestos ecoam de norte a sul. É difícil prognosticar o fim da polémica porque os árbitros não vão deixar de errar. Esta é uma das poucas certezas no futebol.

A corrente época desportiva já viveu períodos de forte contestação à arbitragem. Podemos lembrar os comentários de Paulo Bento, quando referiu que os adeptos em Alvalade eram muito brandos com os senhores do apito. Podemos lembrar a veemente contestação benfiquista por causa do golo anulado por Pedro Henriques, frente ao Nacional. Mais recentemente, os dois jogos do Braga com Benfica e Porto foram o motivo do alvoroço. Pelo meio, o Sporting venceu um jogo da Taça da Liga graças a um golo apontado em evidente fora-de-jogo.

The Smiling Referee – David FawcettA vitória do Benfica frente ao Sp. Braga, em jogo relativo à 14.ª jornada da Liga Sagres, desencadeou uma avalanche de críticas ao trabalho da arbitragem. Treinador e presidente do clube minhoto gritaram roubo e foi apresentada queixa-crime contra o juiz da partida — Será que sou o único a ver o exagero nisto? — O Sr. Mesquita Machado acusou a comissão de arbitragem de ter substituído o árbitro inicialmente nomeado para essa partida, com o intuito de prejudicar o seu clube, acusação essa feita sem o auxílio de qualquer prova. O treinador do Porto, Jesualdo Ferreira, além de se queixar do trabalho do juiz da sua partida relativa à mesma jornada, fez questão de referir que um rival directo foi, por sua vez, claramente beneficiado pelo homem do apito.

Uma jornada mais tarde, os papeis inverteram-se. Desta vez foram os portistas claramente beneficiados por erros grosseiros de arbitragem, em jogo frente ao Braga. No entanto, o discurso de Jesualdo mudou como da noite para o dia. Na flash interview no final do encontro, quando confrontado com uma pergunta sobre a legalidade do primeiro golo, o técnico virou as costas ao jornalista. Uns minutos mais tarde, na conferência de imprensa, o treinador dos dragões referiu que não estava em posição de ajuizar o lance e que ia para casa ver as repetições na TV. Curioso constatar que na jornada anterior teve tempo para ter certezas sobre os lances polémicos de duas partidas, antes de ir a casa ligar a televisão... A hipocrisia não tem limites neste nosso futebol.

O que se ganha quando treinadores e dirigentes constantemente lançam achas para a fogueira da arbitragem? Porque não se preocupam, acima de tudo, com as suas equipas e o futebol que estas praticam e deixam para a comunicação social e para a opinião pública o exercício da crítica e, se inevitável, do insulto aos senhores do apito? Como já se comprovou, quem hoje é roubado, amanhã acaba por ser presenteado... Até o Braga há-de ter a sua vez. E se há motivos para o trabalho de um árbitro se transformar em caso de polícia, então que se respeite o segredo de justiça. Que se acabe com a hipocrisia, depois, com a peixeirada e, quem sabe, talvez os portugueses voltem a sofrer o desporto-rei com alegria.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Fim-de-semanário – Semana 3

Que saudades dos tempos antigos, quando as famílias iam ao futebol nos fins-de-semana para assistir aos jogos da Liga... Não da Taça da Liga. Apenas seis jogos disputados em dois dias e as duas principais ligas paradas. Um fim-de-semana em que só se disputam partidas de uma taça qualquer, não passa de um fim-de-semana de aluguer. Como quem empresta o seu ventre para fazer um filho e depois o entrega a outra mulher. Que pobreza!

No estrangeiro, onde se sabe respeitar o desporto-rei, muitos imigrantes de luxo estiveram em acção nos seus respectivos campeonatos. Sim, nos campeonatos. O principal foco de interesse tuga residia na possibilidade de Makukula se estrear ao serviço do seu novo clube e logo contra o Manchester United. Por Espanha, o destaque luso consistia em saber se o nosso Ricardo iria manter a titularidade na baliza do Bétis. No entanto, como muitos portugueses foram mal paridos (claro que não falo dos nossos futebolistas imigrantes) encontra-se sempre algo mais para destacar... A ler na secção «Imigrantes de chuteiras».


Vá ao estádio, cá dentro

Bom, que escrever sobre o futebol em Portugal no passado fim-de-semana? Podia fazer um resumo da jornada da Taça da Liga em duas linhas, uma coisita para despachar. Mas não me resigno em ser tão pobre de espírito como os senhores da Liga e deixo aqui uma prenda para a malta jovem. Porque são os jovens que podem vir a salvar o nosso futebol da treta. Vamos a isto!

Oh yeah! Hum, hum, hum, bute aí malta! É o rap da taça da liga!
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Doze equipas
Do-do-do-do doze equipas
Disputam a taaaça da liga
Rebentam a escaaala d’euforia
Do-do-do-do doze equipas
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Yeah pá
Io brother, bute aí à bola no fim-de-semana
Io bacano, não há bola este fim-de-semana
Tas a brincar primo? A taça da liga tá a rebentar na cena
Vê lá se queres uma naifada nas ventas
Fica cool meu, aqui na Amadora é que não há nada pa ninguém
Se vives em Lisboa, Setúbal, Porto, Funchal ooooooou Guimarães, tá-se bem
Tou-te a ver, futebol a valer só um ou dois tugas podem ver
E quando é assim só há uma coisa a fazer
Cantar este rap e mandar os cotas fooooo (agora todos) der
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Doze equipas
Do-do-do-do doze equipas
Disputam a taaaça da liga
Rebentam a escaaala d’euforia
Do-do-do-do doze equipas
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Topaste os jooogos bacano?
Yaaaaa podes crer
Vi no café do cromo que bulia na REFER
O Benfas despachou os azuis como convém
Mas o árbitro apitou uma falta que não lembra a ninguém
Ya com o Moreeetto tá-se bem
Se não fosse o árbitro quem ria eram os de Belém
E viste o leeevezinho?
Um hat-trick não é pra qualquer bacanozito
Yaaaaa tá-se bem
Com ele o Sporting não tem medo de ninguém
Mas bué da seca é não haver mais jogos pra ver
Ya brother, podes crer
E quando é assim só há uma coisa a fazer
Cantar este rap e mandar os cotas fooooo (agora todos) der
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Doze equipas
Do-do-do-do doze equipas
Disputam a taaaça da liga
Rebentam a escaaala d’euforia
Do-do-do-do doze equipas
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Instrumental
(base rítmica do Sam The Kid e solo de flauta do Rão Kyao)

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Doze equipas
Do-do-do-do doze equipas
Disputam a taaaça da liga
Rebentam a escaaala d’euforia
Do-do-do-do doze equipas
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Oh yeah! Hum, hum, hum
(falado e com a batida em fade)
Vai dar banho ó cão ó cota da liga
Dá cá mais 12 meu ganda anormal
Ya tá-se bem... mal


Imigrantes de chuteiras

Começamos a ronda pelos países da Europa onde ainda existe gente civilizada. Como em Inglaterra, onde a partida Bolton-Man. United despertava grande interesse para as cores nacionais. De um lado estava o melhor do mundo, Ronaldo — Nani não saiu do banco — Do outro estreava-se Makukula, possante avançado português que foi à procura de melhor sorte em terras britânicas. Para comprovar o prestígio que os nossos emigrantes de luxo gozam por esse mundo fora, o técnico do Bolton incluiu o avançado lusitano na equipa inicial. Foi chegar e jogar. Mas os de Manchester ganharam o desafio, com o único tento da partida a ser apontado no último minuto por Berbatov. Nenhum dos portugueses teve dia de grande inspiração. Melhores dias virão.

Quem brilhou foi outro português a jogar nas ilhas britânicas, Bruno Aguiar. O ex-benfiquista marcou um golo na vitória da sua equipa, Hearts, frente ao Kilmarnock, por 0-2, em mais uma jornada da liga escocesa. Aguiar parece de volta à sua melhor forma, depois de debelados os problemas físicos que o apoquentaram por várias semanas. Recorde-se que o médio foi considerado o melhor jogador do mês de Novembro (antes de se lesionar) e é figura de proa no campeonato principal da Escócia. Força Bruno!

Este fim-de-semana, como nos outros, houve muito talento português à solta para deleite do cidadão espanhol. Houve, ainda, pelo menos um português a observar com muita atenção as prestações dos jogadores lusos aqui ao lado. Julgava eu que o seu trabalho consistia em observar com muita atenção mas enganei-me. Falo do correspondente em Espanha do único jornal que leio. O senhor jornalista, que é pago para passear no estrangeiro e ver jogos de bola, preocupa-se mais em escavacar o produto nacional do que em promovê-lo. Já nem digo promovê-lo mas pelo menos que o descreva com justiça.

O indivíduo em causa, assinou a crónica do Real Madrid-Osasuna, que os merengues venceram por 3-1 e fez questão de referir que o Pepe realizou uma má exibição, com particular realce para o lance do único golo sofrido, em que o central português terá sido muito mal batido pelo ar. O problema é que quem foi batido nesse lance foi o Cannavaro e não o nosso centralão. A foto ao lado não está muito actualizada, pois o italiano está agora careca e os dois jogadores ficam um tudo nada mais parecidos, no entanto, não desculpa o erro, principalmente quando se faz questão enfatizar uma falha grave que não foi cometida pelo nosso representante. O senhor jornalista vê mal, não tem orgulho nos nossos e anda a chular o seu patrão. Fica a denúncia e estou à disposição caso queiram contratar um profissional sério e orgulhoso da sua pátria.

Nos restantes jogos da jornada, grande destaque para a confirmação de que Ricardo é mesmo o dono da baliza do Bétis. Com Nelson igualmente a jogar de início, os sevilhanos foram vencer a casa do Valladolid por 1-3 e ascenderam ao 13.º lugar na classificação da liga espanhola. A titularidade do guardião português poderá implicar nova chamada à Selecção — Assombra-me a visão de centenas de milhares de portugueses a fugirem de suas casas, de mãos nas cabeças e o terror estampado nas caras — Em Barcelona, Castro foi incapaz de impedir o vendaval catalão e o Corunha perdeu por 5-0. O Atlético de Madrid, com Simão e sem Maniche, empatou a um golo no terreno do Almería. Já o Málaga, com os três tugas em campo, recebeu e venceu o espanhol por expressivos 4-0. Finalmente, o Valência deslocou-se a Bilbao e perdeu 3-2. Manuel Fernandes foi o nosso único representante em campo e não esteve feliz. Foi uma falta sua que originou o penalty que resultou no golo da vitória do Atletic, no último minuto. Não desanimes rapaz, continuo a ter orgulho em ti.

Passamos por Itália para finalizar os destaques lusitanos além-fronteiras. Mourinho teve um dia para esquecer e o seu Inter acabou derrotado por 3-1 na deslocação ao terreno da Atalanta. Os interistas estão ainda na liderança, com três pontos de vantagem para a Juventus, que já contou com Tiago nos convocados mas ainda não entrou em campo. Força Tiago, o pior já passou. Não podia deixar de referir um jogador que poucos conhecem mas que é pedra fundamental na defesa do Siena. Falo de Gonçalo Brandão, ex-central do Belenenses, que decidiu procurar melhor sorte no estrangeiro. Para já, a experiência está a correr muito bem e no sábado o Siena venceu a Reggina por 1-0, com o nosso central a jogar os 90 minutos. Bem-vindo ao clube dos emigrantes de luxo Gonçalo.


Debaixo d’olho

- Um assunto apenas vai merecer toda a minha atenção esta semana. O caso goal average, que promete vir a ser tão badalado com o caso dos voos da CIA em espaço aéreo nacional. Segundo os advogados do Belenenses, os senhores da Liga não sabem qual é a diferença entre goal average e goal difference e, por esse motivo, contestaram a passagem do V. Guimarães às meias-finais da Taça da Liga. Não me vou dar ao trabalho de fazer contas mas fico com a ideia que os azuis têm uma certa razão. O que, por si só, seria mais um atestado de burrice passado aos comandantes do nosso futebol. A seguir com muita chacota e atenção...


Por Bernardino Glória

P.S. Gostaria de pedir desculpa aos caríssimos leitores pelo atraso na publicação desta rubrica nas últimas duas semanas. É que o meu chefe fugiu para o Brasil com o dinheiro dos nossos salários e não há guito para pagar a net. Tenho contado com a boa vontade de amigos para poder navegar de vez em quando. Mas prometo que o fim-de-semanário vai voltar a ser publicado todas a terças, já a partir da próxima semana... A não ser que o próximo chefe também se arme em Fátima Felgueiras.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Esquecer Cruyff

No dia 17 de Janeiro de 2009, o Barcelona goleou o Deportivo da Corunha por expressivos 5-0 e alcançou novo recorde de pontos somados numa primeira volta do campeonato espanhol, desde que este se disputa com 20 equipas e com a vitória a valer 3 pontos. Decorridas 19 jornadas, os catalães marcaram 59 golos (média de 3.1 por partida) e sofreram apenas 13. Números impressionantes que atestam a qualidade do trabalho de um treinador que muitos condenaram ao fracasso, entre os quais eu me incluo.

No início da época, consegui entender o porquê de Laporta contratar Guardiola mas de imediato vaticinei um retumbante fracasso do projecto Barcelona 2008/2009. O jovem técnico tinha pouca ou nenhuma experiência a treinar jogadores de elite, a sua postura denotava pacatez e até alguma passividade, que me levou a prever que o treinador espanhol não teria pulso para orientar equipas de topo. A seu favor, tinha o facto de ser um homem da casa e ter atingido uma dimensão enquanto futebolista apenas ao alcance de uns poucos. Como jogador, o ex-médio era, essencialmente, um atleta muito inteligente e possuidor de impecável cultura táctica, atributos que vemos reflectidos no actual futebol do Barcelona.

Os primeiros jogos da temporada pareciam confirmar as suspeitas de muitos. O Barcelona ganhou pouco e jogou mal. No entanto, essa fraca produção não durou muito e, paulatinamente, começou a surgir uma equipa cada vez mais demolidora. Depois de uma pequena limpeza de balneário e sem ter o plantel mais rico do planeta, longe disso, o Barça parece ter as pedras certas nos sítios certos. Um grande central, Puyol, dois médios muito inteligentes e de enorme capacidade técnica, Xavi e Iniesta, o melhor jogador do momento, Messi e um goleador, Eto’o. Não posso deixar de referir Thierry Henry, que atravessa uma fase bastante produtiva, ele que alguns meses atrás parecia terminado para o futebol.

O Barcelona também evidencia algo que muitas equipas carecem, os tais mecanismos de que tanto se fala. É uma equipa com um fio de jogo perfeitamente estabelecido, coerente com a tradição filosófica do clube, que assenta em posse de bola prolongada, alternada com grande rapidez de execução no último terço do campo e sempre em busca do golo. Fica a ideia de que, com mais ou menos craques, a equipa sabe sempre o que fazer e como chegar à baliza do adversário. É, na essência, o Barcelona de tradição holandesa, cujo representante máximo era o futebol praticado pelas equipas orientadas por Cruyff. Digo era porque, mantendo estes números no que resta da época, a grande referência do futebol espectáculo e eficiente passará a ser o Barcelona de Guardiola, com a vantagem de ostentar uma solidez defensiva nunca antes vista por terras de Gaudí.

O futebol é uma caixinha de surpresas, o próprio desempenho do Barcelona começou por ser uma surpresa mas, se não ocorrer uma grande surpresa, Pepe Guardiola está destinado a render Johan Cruyff no trono da memória colectiva blaugrana... Disso, tenho a certeza.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Pronto, já podes jogar à bola

Ufa! Lá deram o galardão ao CR7 e fizeram dele o homem mais feliz do planeta. Depois do craque português ter vivido os últimos meses em constante obsessão com a atribuição do prémio FIFA World Player de 2008, agora, Ronaldo pode voltar a jogar à bola.

Já fui extremamente crítico das performances e da postura que Cristiano Ronaldo evidenciou desde o final da época 2007/2008 – Cliquem para recordar esse post – Um dos principais motivos que referi para explicar o comportamento da estrela maior do nosso futebol, foi a sua fixação doentia em vir a ser confirmado como o melhor do mundo, que afastou a espontaneidade e alegria da sua forma de agir em campo. Também implicou que, na corrente época, não tenhamos conseguido vislumbrar o Cristiano que tanto trabalhou para ser melhor que todos os outros.

No momento em que Pelé anunciou o melhor jogador de 2008, não vi o Ronaldo vaidoso e pedante dos últimos tempos. Vi sim, um homem pleno de felicidade e, diria até, estonteado com a magnitude do que lhe estava a suceder. Reconheci um homem ambicioso mas no sentido certo, alguém que será sempre polémico mas que não se esquece que o segredo do sucesso está no trabalho.

Não tenho dúvidas de que vamos voltar a ver o CR7 em grande, que entra em campo descontraído mas concentrado no trabalho, em vez de se perder em brilhantismos para a bancada. Não tenho dúvidas de que vai voltar a ser um gozo vê-lo jogar futebol, partir os adversários e marcar grandes golos. Arrisco, inclusive, que na Selecção e no que resta da fase de qualificação para o Mundial-2010, vamos assistir ao melhor Ronaldo de sempre. Espero não estar a embandeirar em arco, no fundo, todas estas conclusões são baseadas num feeling. Mas, ao bom estilo dos profilers das séries norte-americanas, não se consegue ler futebol sem fazer apelo ao instinto.

Não creio, no entanto, que o português venha a ser o contemplado com o prémio relativo a 2009. Messi já leva muitos pontos de vantagem e está a realizar uma temporada brilhante. Mas, Ronaldo, ainda vai a tempo de brilhar o suficiente para ficar nos três primeiros e aspirar a repetir o título de número um em 2010. Vou ficar muito irritado se o futuro revelar que o meu instinto era um equívoco mas, por enquanto, acredito que o nosso craque está mesmo de volta e... ripa na rapaqueca!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Fim-de-semanário – Semana 2

O segundo fim-de-semana de 2009 era pródigo em eventos de gabarito, cá dentro e além fronteiras, com o futebolista lusitano como interveniente de luxo. Os espécimes desta raça são, com frequência, garanhões da província, escassas vezes, meninas da cidade mas sempre... artistas da redondinha.

No país de campeões do Mundo do acordeão — clica e chora coração vermelho e verde — as hostes benfiquistas, animadas com o triunfo na Cidade Berço a meio da semana, ansiavam a entrada em campo para defrontar o Sporting de Braga e Jesus, elemento estatisticamente aziago para os encarnados. O Porto parecia estar perante uma jornada idílica para permanecer na liderança, enquanto o Sporting recebia o Marítimo no Alvalade XXI. A partida entre Leixões e Setúbal também despertava interesse, para ajudar a compreender se os de Matosinhos perderam o gás de vez ou se conseguem ir à boleia dos grandes por mais um bocadinho.

Lá por fora, grande destaque para a batalha de gigantes em Old Trafford, Manchester United versus Chelsea. No domingo, o mundo inteiro iria fixar os olhos em Cristiano Ronaldo!... Nani!... Ricardo Carvalho!... Bosingwa!... Paulo Ferreira!... Hilário!... E Scolari, sem direito a claque, porque lembra Portugal mas não é português. Mais notícias lusas em Espanha, Itália e noutros focos de magia dispersos pelo velho continente. Não sei se repararam mas, ali atrás, o Deco ficou fora da minha lista. Não é que o moço se lembrou de confidenciar ao mundo que é no Brasil que se sente «verdadeiramente em casa». É assim que respondo a gente ingrata: — A ti Deco, só digo isto: há mar e mar, há ir e voltar...


Vá ao estádio, cá dentro

A semana passada, entristeceu-me constatar que o diário de fim-de-semana é de curto alcance. Com a jornada da Liga a começar à sexta e a terminar à segunda, senti-me moralmente corrompido ao ser forçado a escrever em conformidade com uns horários sem tino. Porque é que se insiste em espalhar a porcaria? Deve-se é colocar tudo muito juntinho, porque assim despacha-se mais depressa o martírio. Esta semana foi precisamente isso que aconteceu, com todos os jogos a disputarem-se no sábado e no domingo, parabéns à Liga. Também na jornada anterior, estranhamente, não se verificaram polémicas de arbitragem. No entanto, a felicidade durou pouco e este fim-de-semana gerou polémica suficiente para o ano inteiro. De facto, não há maneira de este nosso futebol dar duas prá caixa, quando se anda dois passos em frente, logo se encontra forma de andar um para trás.


A 14.ª jornada da Liga Sagres implicou nova troca na liderança, fruto das vitórias de Benfica e Sporting e do empate do Porto. O campeão nacional efectuou dezasseis remates, enquanto o Trofense apenas um e dispôs de quinze pontapés de canto contra um conquistado pelo seu adversário. No Dragão, viu-se os jogadores da Trofa safar duas bolas em cima da linha de golo, os jogadores do Porto rematar uma vez ao poste e falhar mais uma quantidade industrial de oportunidades para fazer o marcador funcionar. O último lance do desafio é digno de entrar para os apanhados hilariantes da época. Rodriguez, a um metro da baliza, consegue acertar no único obstáculo entre si e o golo, o seu colega de equipa Guarin. Fico com dúvidas se o principal culpado deste falhanço é o colombiano, por ter muito por onde correr sem ser em direcção de um colega que está prestes a rematar à baliza ou o uruguaio, por possuir uma visão periférica semelhante à de um burro com palas. No final do desafio, Jesualdo queixou-se do azar, da falta de discernimento na finalização e do árbitro. Ficaram duas grandes penalidades por assinalar, segundo o técnico portista, ainda por cima no mesmo dia em que um rival directo foi beneficiado por erros de arbitragem. Haja critério meus senhores. Se um grande é beneficiado, os outros também têm de o ser. Inadmissível!

O Benfica lá ganhou. Um golo, em claro fora-de-jogo, foi suficiente para estabelecer o resultado final da partida. O grande protagonista do encontro foi Paulo Baptista. Além do referido golo irregular, o juiz do encontro ofereceu um penalty ao Benfica e não quis fazer o mesmo aos arsenalistas em outras duas ocasiões. Quem igualmente merece destaque é o pacato presidente do Sp. Braga, por explicar-nos que «Paulo Baptista é o Inocêncio Calabote do século XXI». O senhor António Salvador subiu muito na minha consideração, primeiro por conseguir pronunciar o nome do ex-árbitro sem se engasgar (não é para todos) e, em segundo lugar, porque disse uma grande verdade, que eu me atreveria a classificar de tão incontestável como a pirueta ser a cambalhota do século XXI.

Já para os lados do Estádio José de Alvalade, também este do século XXI, só deu Liedson. O craque de Itaparica é mesmo bom de bola e, em dois lances de génio, resolveu a partida. O Sporting fica colado ao Benfica na liderança da Liga e vai rezando para que o mercado de Inverno feche o mais depressa possível. Referência, ainda, para o Leixões, que comprovou estar a navegar em maré baixa. Esta jornada, empatou a zero em casa com o Setúbal e contabilizou o quinto jogo consecutivo sem vencer. Talvez seja altura de trocar o isco no Estádio do Mar, visto que um quintal e algum futebol já não chegam para convencer os oponentes a morder no anzol.


Imigrantes de chuteiras

Domingo foi dia de jogo grande em terras de Sua Majestade. O Chelsea deslocava-se a Old Trafford para defrontar o Man. United e o resultado foi mais desnivelado do que o inicialmente previsto, com a equipa de Manchester a dominar e vencer a partida por 3-0. Portugueses em campo foram três e meio: Ronaldo; Ricardo Carvalho; Bosingwa e o ingrato, Deco, que, além de ser meio português de verdade, ainda cospe no prato onde come. O Ronaldo esteve em grande, marcou um golo que o ranhoso do árbitro não validou e esteve envolvido nos principais lances de perigo. Do outro lado, nada correu bem ao Chelsea e, dos tugas, apenas Ricardo Carvalho se manteve em campo até ao final da partida. O central e CR7 estiveram envolvidos num desaguisado e, por momentos, pareceu que os dois imigrantes de luxo estavam verdadeiramente zangados um com o outro. Nada disso, são coisas do futebol e os dois amigos estão prontos para jogar e brilhar juntos pela Selecção. Algumas pessoas ficaram apreensivas com a discussão entre os dois talentos nacionais mas já deviam saber que um português só está realmente zangado se leva o jornal enrolado na mão.

Em Itália, o campeonato regressou depois das férias de Natal e o Inter não foi além de um empate a uma bola na recepção ao Cagliari. Com este empate, a equipa de Mourinho passou a liderar apenas com quatro pontos de vantagem para a Juventus de Tiago, que continua a recuperar de lesão. Não havendo mais motivos de interesse lusitano em Itália, a grande notícia foi a visita de Maradona ao centro de estágio interista. El Pibe disse, bem alto para todos ouvirem, que o nosso Mourinho é o melhor treinador do planeta. Não é novidade para ninguém mas o elogio vale mais que qualquer prémio que o nosso mister venha a ganhar na sua carreira.

EliseuEm Espanha, houve novo duelo lusitano, o Bétis-Málaga. A partida teve vários pontos de interesse, começando no regresso de Ricardo à baliza sevilhana, como eu exigi há uma semana. O guardião português esteve em bom plano e apenas não conseguiu segurar o empate porque, no último minuto do encontro, outro português fez um golo de bandeira. O autor do tento que ditou a derrota do Bétis foi Eliseu, médio praticamente desconhecido do público nacional mas que já é figura de destaque na liga espanhola. Em campo tiveram ainda Nelson, pelo Bétis, Hélder Rosário e Duda pelo Málaga. Mais uma jornada positiva de propaganda lusitana.

Muitos mais futebolistas nacionais estiveram em acção na Europa do futebol mas faço apenas mais um destaque individual. Pois é, foi segunda-feira mas também vale. Se sou obrigado a escrever à segunda por causa de jogos de caca, podem querer que não ia deixar de referir este acontecimento. É que há um novo menino d’ouro em Portugal, Cristiano Ronaldo, o melhor do mundo! Contra tudo e contra todos, Cristiano tornou-se, oficialmente, o maior e agora tentem tirá-lo de lá... Mais depressa convencem a dona Dolores a vestir um fato-de-treino cor-de-rosa, do que tiram o nosso Ronaldo do trono. Continua assim rapaz, Portugal voltou a ser gente por tua causa. Muito obrigado.


Debaixo d’olho

– Debaixo d’olho vai estar mais uma jornada da Taça da Liga, a segunda da terceira fase. Desta vez, jogam todos no mesmo dia (quarta-feira). Parabéns à Liga.

– Também debaixo d’olho vão estar os órgãos de comunicação social de todo o mundo, mais propriamente, os artigos publicados sobre o nosso menino Ronaldo. Não é que o sítio do jornal Marca fez uma sondagem a perguntar se a malta ama ou odeia o génio português... E o ódio vai à frente. Embora lá votar, se faz favor.


Por Bernardino Glória

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Mesquita saca do machado

Segunda-feira, 12 de Janeiro de 2009, 22:30 horas. Entro no carro depois da partida de futebol semanal, ligo o Renault e o rádio começar a tocar. Está sintonizado na Antena 1 porque, a caminho do jogo de bola, ia entretido a ouvir notícias da consagração de Cristiano Ronaldo como FIFA World Player de 2008. No regresso a casa, o tópico ainda era o mesmo e depois das reportagens habituais — ora falas tu, ora falo eu — ouvi anunciar que, de seguida, ia ficar a conhecer novas declarações relativamente à arbitragem do Benfica-Sp. Braga, proferidas pelo presidente da Mesa da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Futebol, Mesquita Machado, que também ocupa o cargo de presidente da Câmara Municipal de Braga e, como é do conhecimento geral, foi presidente do Sporting da mesma cidade.

O primeiro pensamento que me assombrou foi se seria o presidente da Mesa da Assembleia Geral da FPF, o presidente da Câmara de Braga ou o ex-presidente e adepto do clube mais representativo da capital do Minho quem prestava as declarações? Depois do que ouvi, fiquei a perceber que não fazia a mínima importância. O ultraje das suas palavras é tal, que nem importa qual Mesquita Machado disse aquilo. O homem é uma grande besta!

Esse tipo — nem a careca e o pêlo branco fazem com que ganhe o meu respeito — disse coisas como isto: «A arbitragem de Paulo Baptista foi um assalto à mão armada». Ou como isto: «Eu disse ao meu presidente [do Sporting de Braga] que se preparasse porque ia ser prejudicado no jogo com o Benfica». E, para abrilhantar ainda mais o texto, isto: «O árbitro da partida era outro e foi trocado. O presidente da comissão de arbitragem que diga porque trocaram o árbitro e puseram um benfiquista ferrenho que iria fazer tudo para prejudicar o meu clube. Ele provavelmente vai negar, eu também não tenho provas do que estou a dizer mas ele que se explique.» É, no mínimo, assustador que este tipo tenha falado nestes modos sobre uma partida de futebol. A expressão «assalto à mão armada» e o tom em que foi pronunciada, por momentos, fez-me acreditar que afinal quem protestava era um joalheiro acabadinho de ser espancado e roubado.

Fiquei deveras exaltado com a parvoíce pegada que ouvi na viagem de volta a casa e não consigo deixar de visualizar a cara vermelha e prestes a explodir do Mesquita Machado, provavelmente sendo aclamado por alguns amigos enquanto pegava no telefone e falava com o jornalista na plenitude da sua raiva. Fico verdadeiramente chocado que um presidente de Câmara, que também é presidente da Mesa da Assembleia Geral da FPF, esteja disposto a deitar a reputação pela janela fora, em troca de insultos a um árbitro e de colocar em causa a honestidade de um presidente de outro organismo e, ainda por cima, sem provas. Este tipo é uma grande besta!

Quando o futebol português vive a ferro e fogo, quando a sociedade portuguesa está descrente nos políticos e no seu próprio futuro, surge um tipo conhecido de todos, respeitado por alguns e presidente de muitos, trucidar tudo o que se puser à sua frente e do seu instinto de justiça. Um instinto à serial killer — Vamos rebentar com isto tudo, quantos mais se desgraçarem melhor, porque o que interessa é que no próximo jogo o árbitro apite o penalty a nosso favor — É uma vergonha! O Mesquita Machado é, definitivamente, uma grande besta.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Tecnologia versus pureza

Iniciar um novo ano força-nos, regra geral, a meditar sobre o futuro. Admitir a utilização de tecnologia no futebol, como instrumento de apoio ao trabalho dos árbitros, não é tópico novo. Mas apenas recentemente se materializaram os suportes tecnológicos que permitem uma aplicação generalizada dos mecanismos idealizados para abolir alguns erros de arbitragem. Os órgãos que regulam o futebol mundial estão a debruçar-se sobre o assunto e urge discuti-lo porque uma primeira regulamentação não deverá tardar muito.

Um pouco ao estilo do referendo sobre o aborto, as opiniões dividem-se em dois grupos: Os que defendem que o caminho é embutir progressivamente a tecnologia no desporto-rei e os que, radicalmente, se opõem a qualquer intromissão no direito de errar, intrínseco da arbitragem. Antes de se concluir quem é dono da razão, importa identificar em que situações a tecnologia está apta a beneficiar o futebol e, ainda, em que áreas (se alguma) da competência dos árbitros é imperativo substituir a probabilidade do erro humano pela infalibilidade do juízo computacional.


Virtudes e limites da tecnologia

Vejamos, então, de que forma a tecnologia pode ser aplicada numa partida de futebol. É plausível a sua intervenção de três formas:
– Utilização de sensores e outras soluções tecnológicas para determinar se a bola ultrapassa os limites do campo.
– Utilização de diversas soluções tecnológicas para avaliar as situações de fora-de-jogo.
– Utilização de imagens televisivas para auxiliar os árbitros na avaliação dos lances polémicos, como jogadas em que há dúvidas se a bola ultrapassa a linha de golo, foras-de-jogo e faltas que impliquem a marcação de grandes penalidades ou livres perigosos.

A utilização de sensores para determinar se a bola ultrapassa os limites do campo é uma solução tecnológica de implementação simples e com custos associados relativamente baixos. Esta tecnologia é amplamente empregue nos nossos dias, desde sistemas de alarme a instrumentos de medição, fazendo uso de micro-ondas, lasers, etc. O principal empecilho logístico para a indústria do futebol, ocorre da obrigatoriedade de os fabricantes de bolas colocarem um chip no interior de cada uma, de modo a que seja reconhecida por sensores que criam zonas de controlo paralelas às linhas do campo.

Outra proposta para ajudar a resolver os problemas relacionados com a observação da localização da bola relativamente às linhas laterais, finais e de golo, foi apresentada pela Adidas. A Teamgeist II (ver foto) emana um campo magnético para fornecer informação em tempo real a um computador. O software interpreta a informação e determina o posicionamento da bola, informando o árbitro quando esta ultrapassa as linhas que delimitam o campo. A implementação destas tecnologias no futebol parece estar apenas dependente da vontade de quem manda.

Se a tecnologia da bola chipada combinada com um conjunto de sensores pode determinar, com certeza, se esta ultrapassa os limites do terreno de jogo, o mesmo princípio pode ser aplicado para avaliar as situações de fora-de-jogo. Neste caso, uma peça do equipamento dos futebolistas é dotada de um chip. O passo seguinte é desenvolver um software que detecte a posição da bola e dos jogadores em campo, distinguindo os membros de cada equipa, de forma a determinar se o futebolista que recebe o esférico está ou não em offside, no momento em que este deixa o contacto com o jogador que efectuou o passe. Este método, foi proposto pela primeira vez em 2005, por um finalista de uma universidade inglesa. Até ao momento, no entanto, nao é conhecido se há organizações a desenvolver o sistema.

Existem mais propostas para ajudar os árbitros auxiliares na análise destes lances, entre elas, a de uma empresa holandesa que criou um sistema de apoio visual capaz de gerar uma linha virtual, perpendicular às linhas laterais do campo, visível apenas para o árbitro auxiliar. No fundo, o mesmo sistema usado nas transmissões televisivas para ajudar a percepcionar o fora-de-jogo, está à disposição dos bandeirinhas.

Relativamente ao uso de imagens televisivas como apoio à tomada de decisão dos árbitros, a nível tecnológico, não são necessárias grandes explicações. Esta é uma solução já implementada em ligas altamente profissionalizadas, como as de basquetebol e futebol americano dos Estados Unidos. Porém, é impossível imitar estes exemplos quando consideramos a logística do futebol. Como podemos exigir ao Tourizense da II Divisão série C, que instale uma dúzia de câmaras no seu estádio, a captar imagens do jogo e que os árbitros possam visionar essas imagens, incluindo repetições de diferentes ângulos, quase em tempo real? O aparato de equipamentos e consequente avultado investimento financeiro, implica que seja impossível banalizar esta plataforma tecnológica no desporto-rei.


Errar é benéfico?

Depois de identificadas as áreas de possível intervenção da tecnologia no futebol, devemos debater em que situações urge salvaguardar a probabilidade do erro associada ao elemento humano e em que cenários o erro prejudica o espectáculo e deve ser erradicado. Grandes penalidades, foras-de-jogo e lances em que surgem dúvidas sobre se a bola ultrapassa ou não a linha de golo, são os que podem influenciar directamente o resultado final de uma partida. Não há dúvidas que estas três situações de jogo, quando mal ajuizadas, podem contribuir para adulterar a verdade do jogo.

Nos casos de fora-de-jogo e bola versus linhas do campo, não existe espaço para qualquer subjectividade de interpretação por parte das equipas de arbitragem. As leis que regulam estas situações de jogo são, essencialmente, de cariz computacional... zeros e uns, sim ou não. E é amplamente reconhecido que o cérebro humano não consegue avaliar correctamente os fora-de-jogo, quando estes resultam de ataques rápidos. Os árbitros auxiliares avaliam estas situações de acordo com a impressão que o lance lhes causou. O mesmo se pode afirmar sobre lances em que, por exemplo, a bola embate com velocidade na barra da baliza e ressalta para perto da linha de golo. Foi dentro ou fora? É golo ou não? Muitas vezes, nem pela TV e em câmara lenta conseguimos avaliar com certeza estes lances. Será que, nestes casos, interessa preservar a probabilidade de erro humano, quando as próprias leis que regem estas situações não dão espaço para qualquer tipo de subjectividade na sua interpretação?

Já no ajuizamento de faltas perigosas, o panorama é diferente. Obviamente que a definição de falta, por si só, não acarreta grande subjectividade, só que, no campo, as circunstâncias do jogo ou mesmo o estilo de arbitragem podem originar diferentes interpretações da lei. Por exemplo, em Inglaterra é raro, se não mesmo inadmissível, a marcação de livres indirectos por pé em riste. Já em grande parte do resto do Mundo, um pé em riste efectuado dentro da área resulta na marcação de um livre indirecto que se transforma automaticamente num lance de perigo. Quando consideramos a marcação de faltas e o uso de imagens televisivas para ajudar os árbitros na tomada de decisão, não vamos, por certo, conseguir encontrar uma fórmula do agrado de todos. Mesmo com recurso a tecnologia para ajuizar os lances, o factor humano e a subjectividade interpretativa das leis, resultam numa imprevisibilidade de opiniões que importa defender.


Bom-senso para definir um rumo

Olhando para os dois lados da barricada, salto com ligeireza para a trincheira dos que acham que a tecnologia deve, progressivamente, ser introduzida como instrumento de apoio ao trabalho da arbitragem. Não compreendo como se defende a pureza do jogo a todo o custo, quando todas as semanas são anuladas jogadas de golo iminente, apenas porque não é humanamente possível ajuizar com certeza esses momentos. E existem as ferramentas para erradicar os erros...

Hoje em dia, é possível avançar um cenário idílico para o uso da tecnologia no futebol e que salvaguarda a pureza do desporto-rei. Esse cenário implica que a máquina substitua o bandeirinha na análise dos lances que este, na maioria das vezes, não é capaz de julgar correctamente. Com o fim do fiscal de linha, será possível a introdução de um ou dois árbitros de campo, continuando a salvaguardar o factor humano como forma de preservar o encanto do futebol... Foi bola na mão ou mão na bola? Respostas a perguntas como esta devem pertencer exclusivamente aos homens do apito, in loco e com base na sua experiência e instinto. As repetições via TV ficam para quem está em casa. Não têm lugar num campo de futebol, embora, do ponto de vista tecnológico e logístico fosse relativamente simples fazê-lo em competições fechadas, como o próximo Mundial 2010.

É uma incógnita o que os homens do futebol têm em mente para o futuro da arbitragem com usufruto tecnológico. No entanto, de uma coisa estou seguro, a única forma da tecnologia prejudicar o futebol é continuando a ignorá-la. Não validar um golo na sequência de um remate a trinta metros da baliza, porque não foi possível confirmar que a bola entrou, isso sim, é um atentado à pureza do jogo.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Fim-de-semanário – Semana 1

O Inverno cai com fúria em Portugal. Um país de condições mínimas mas de grande alma. Sinto-me zangado, revoltado! O meu país está uma treta! Até parece que todo o português de jeito vive no estrangeiro.

Às vezes queixo-me da vida, tem sido injusta comigo... Isso de ser preciso ter um canudo com não sei quantos níveis para se treinar um grande apagou a minha chama. Mas depois, o padre disse-me — Se não podes cavar com as duas mãos, cava só com uma — E prá frente caminhei... Abandonei o sonho de ser treinador de futebol de um grande e abracei a escrita de um fim-de-semanário, aliado com o trabalho de guarda-nocturno. Para quem não sabe, um fim-de-semanário é um diário de fim-de-semana.

Aqui vão ler opiniões espertas sobre os principais eventos do futebol nacional agendados para os fins-de-semana. Também vão saber tudo sobre os fins-de-semana dos nossos futebolistas imigrantes. E ficarão a conhecer os principais eventos a ter debaixo de olho na semana seguinte.


Vá ao estádio, cá dentro

Para inaugurar o fim-de-semanário, seleccionei a partida entre Vitória de Setúbal e Sporting como destaque nacional deste fim-de-semana. O encontro prometia. O facto de ser transmitido em canal aberto era o que mais me seduzia. O jogo (ainda há quem se atreva a o catalogar de Clássico) mobilizou quatro mil espectadores para se deslocarem ao Estádio do Bonfim. A noite fria não justifica tudo. Desconheço o preço dos bilhetes, portanto não posso afirmar que esse pormenor não justifique tudo. Posso afirmar, no entanto, que é uma tristeza.

Começo a análise da partida pelo fim. O Vitória tem sete golos marcados em treze jogos disputados e, mesmo assim, consegue estar acima da linha de água. Outra tristeza. E há quem tenha saudades do campeonato com dezoito equipas... Passando para o início, os primeiros vinte minutos foram uma tugada à italiana. Uma tugada porque o pequeno fartava-se de correr e o grande limitava-se a olhar. À italiana porque o grande marcou na primeira oportunidade de golo. Após o tento inaugural, os jogadores do Sporting perceberam que afinal até dá gozo jogar bom futebol. Os leões mandaram na primeira parte e os sadinos provaram que estão a milhas de conseguir praticar o futebol patenteado na época anterior. Aquele Cissokho (que dizem que vai para o Porto) tem nome de jogador... Mas não sabia que isso era requisito único para equipar de dragão ao peito. A segunda parte do jogo foi uma tugada genuína. O pequeno a tentar e o grande a olhar. O marcador ficou-se no 0-2 construído na primeira metade.

Gosto de ver o Postiga a jogar ao lado do Liedson. O avançado português aparece transformado pelas mãos de Paulo Bento. À vista desarmada, percebe-se logo uma melhor postura competitiva, traduzida em grande predisposição para o trabalho defensivo e em fome de bola para atacar os adversários. Mantém intactos os restantes atributos que sempre demonstrou (categoria técnica e visão de jogo) e é um jogador com apreciável capacidade de choque. Não tenho dúvidas de que Postiga é o que melhor combina com Liedson. Se me obrigarem a escolher outro... Escolho a Mariza! Pelo menos cantava um bocadinho a seguir a marcar um golo, em vez de ficar quieto e calado como faz o Djaló e, mesmo que fosse apalpada repetidas vezes, de certeza que não tinha a média de meia agressão por jogo como o Derlei.

Na restante jornada, começo por destacar a derrota do Benfica na Trofa. Os encarnados continuam a encantar... Numa semana os seus adeptos, na semana seguinte os adeptos dos outros. Ainda mais importante do que a derrota, é a queda para o segundo lugar da Liga por troca com o Porto. Nas vésperas do jogo com o Trofense, Quique Flores mencionou que o Benfica tinha de defender a liderança como se defende um castelo. Se os seus conterrâneos tivessem a mesma competência a defender os seus castelos uns séculos atrás, hoje, seriam outros os campeões europeus em título.

O dragão safou-se mesmo no fim. E até ganhou por dois. Quatro a dois. Desses quatro, dois foram do Hulk. Pé esquerdo fogoso e um corpo à Jonah Lomu trituram os adversários. O Regisconta está a dar a volta ao texto lá para o lado das Antas e fica a sensação de que ainda só descobriu vinte e cinco por cento do que pode fazer... É um sarilho!

Ao embrenhar-me na apreciação do trabalho da arbitragem nesta jornada, reparei na partida Marítimo-Paços de Ferreira. Segundo um jornal desportivo (só leio um e não digo qual é) o árbitro Bruno Paixão poderá ter errado ao anular um golo aos insulares. Outras fontes não têm dúvidas que o golo foi mal anulado. Erro grave! Mas quem vê o resumo do Marítimo-Paços de Ferreira? Só mesmo as gentes desses sítios e o país não é afectado. Conflitos regionais são resolvidos pelas autarquias. Os casos nos jogos dos grandes é que urgem ser discutidos. E nesse capítulo, esta jornada não teve casos para comentar. Falem da mão do Binya... Do penalty do Porto no último minuto... Mas foi tudo bem apitado.


Imigrantes de chuteiras

Olho pela janela do meu posto de trabalho para contemplar o fumo branco que sai da chaminé em contraste com o preto da noite. Bebo um café enquanto desço bem fundo para observar os senhores do apito que empestam o país. E fumo um cigarro enquanto subo bem alto para admirar portugueses de luxo. Os futebolistas imigrantes. Conquistadores do século XXI e únicos que contribuem para que em Portugal ainda se sinta orgulho. Escrevo sobre eles como Camões escrevia sobre os primeiros descobridores, para que sirvam de inspiração a todo um povo!

O grande destaque imigrante do fim-de-semana residia no Valência-Atlético de Madrid, jogo onde podiam marcar presença em campo cinco portugueses — Encho-me de orgulho só de pensar nisso — O Valência venceu por 3-1, com Miguel a ser o que mais brilhou entre os três portugueses utilizados, Manuel Fernandes e Simão foram os restantes. O lateral direito fez, inclusive, uma assistência para golo. É fundamental referir os autores dos passes para golo. O reforço positivo é imperativo, porque os jogadores que passam a bola também têm orgulho. Podem não valer tanto como os que marcam mas também são gente. Maniche está lesionado e o Hugo Viana não foi convocado. Três em quatro possíveis não está nada mal.

Como sucede todos os fins-de-semana, existiam muitos focos de interesse lusitano em terras de nuestros hermanos, como o Real Madrid-Villarreal, partida que assinalava o regresso do Pepe depois de longa paragem por lesão. O nosso centralão foi titular e o esteio da defensiva merengue. Muito elogiado pelo jornal Marca, Pepe está a caminho de alcançar a forma que o confirmou como uma das maiores figuras da liga espanhola esta temporada. No seu reduto, o Málaga venceu e entrou nos lugares que dão acesso à UEFA. O único tento da partida contra o Gijón, resultou de um canto apontado por Duda, outro português a dar cartas aqui ao lado. Em Camp Nou, Nunes secou Eto’o mas o Barcelona acabou por vencer o Maiorca por 3-1. Desfecho imerecido para o possante defesa português. Por fim, o Bétis perdeu 1-0 com o Almería graças a um frango do guarda-redes sevilhano. Se é para jogar um frangueiro, então o nosso Ricardo devia ser o eleito.

Em Inglaterra houve Taça. Apenas um futebolista luso em destaque: Nani. O jovem extremo esteve envolvido em quase todas as jogadas de perigo (e marcou um golo de penalty) do Manchester United, que defrontou e venceu uma equipa oriunda de um dos muitos escalões inferiores do futebol inglês. Estranhamente, ao consultar o sítio da Sky Sports, deparei-me com um valor invulgarmente baixo na classificação atribuída pelo público ao desempenho do português. Como sou um tipo moderno, deixo-vos uma hiperligação – Clica aqui – Ou o nosso menino fez muita porcaria nos intervalos dos lances de perigo ou há muito inglês que não gosta dele. Será que depois de CR7 a fava vai calhar a N17? Vou ficar atento...

Por outras paragens das ilhas britânicas, também aconteceu bola com destaque português. Na Escócia, um bravo conquistador continua a maravilhar um bando de bêbados. Falo de Pedro Mendes. Médio ex-Guimarães; ex-Porto; ex-Tottenham; ex-Portsmouth e agora figura de proa do Rangers de Glasgow. O experiente organizador de jogo marcou o primeiro golo da partida, na tradicionalmente difícil deslocação ao terreno do Inverness. O Rangers venceu por três golos sem resposta e está a cinco pontos de distância da liderança do campeonato ocupada pelo Celtic. O nosso principal representante em terras escocesas saíu tocado por volta dos sessenta minutos. Tudo indica que terá sido retirado do relvado por mera precaução, mesmo assim, envio os meus votos para que os exames revelem tudo o que desejaste Pedro.

Mendes foi eleito o homem do jogo. Vejam e ouçam com atenção o vídeo no televisor aqui em baixo. Além de poderem apreciar o grande golo do médio português (remate perfeito em arco, sem preparação e executado na conclusão de um contra-ataque fulminante) podem ouvir o jogador responder às perguntas do entrevistador evidenciando um inglês de fazer inveja ao Sean Connery. O Pedro Mendes é um senhor!


Destacando muito rapidamente outros portugueses espalhados por esse Mundo fora, começo em Itália e com Manuel da Costa. O jovem e promissor central, que não joga na Fiorentina e por isso está em conflito com o treinador (é a regra de três simples no futebol) está a caminho da Juventus. Manobra surpreendente da equipa orientada por Claudio Ranieri, de quem se diz ser apreciador das qualidades do português.

O PAOK de Fernando Santos venceu o OFI Creta e encontra-se isolado no segundo lugar com seis pontos de atraso para o líder Olympiakos. Referência especial para o regresso de Vieirinha. O jogador emprestado pelo Porto esteve em campo pela primeira vez depois de prolongada ausência por lesão. Força rapaz!

Houve quem me pedisse para fazer uma referência a Chipre, onde foram apontados golos de autoria lusa. Mas devo informar que ali trabalham cinquenta futebolistas portugueses, assim sendo, merece tanto destaque como a nossa segunda Liga. E mais... Português que imigra para países piores que o nosso não é imigrante de luxo, é imigrante a muito custo.


Debaixo d’olho

Esta semana, o primeiro assunto debaixo do meu olho vai ser o hipotético caso do ódio inglês dirigido ao Nani. Será que os bifes vão continuar a atribuir notas injustas ao nosso craque? A seguir com atenção....

Debaixo do outro olho vai estar a primeira jornada da terceira fase da Taça da Liga. Essa competição que faz lembrar um elevador de arranha-céus. Viaja pelos dias da semana com a mesma facilidade com que o elevador sobe ao topo da Torre Vasco da Gama. Na quarta-feira, o Benfica joga em Guimarães. Encontro crítico para os encarnados, mais um. Na quinta-feira, o Porto recebe o Setúbal. Não me perguntem pelos outros jogos da jornada porque não faço ideia quando são ou se já aconteceram.

Debaixo do último olho vai estar a opinião do Sousa Tavares, um borrão de tinta no único jornal desportivo que leio. Oops! O importante é não apanhar uma constipação com a nortada que se aproxima.


Por Bernardino Glória