segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Gente chata

E lá arrancou a Liga Sagres 2009/2010. Os três grandes mostraram-se previsíveis nos resultados e nas exibições. O campeão nacional pouco jogou à bola, tal como tinha feito na final da Supertaça, e deu-se por contente com um empate na Mata Real, obtido com apenas dez jogadores em campo. O Sporting melhorou um pouco em relação à eliminatória com o Twente, mas não o suficiente para conseguir uma vitória e, principalmente, apaziguar os seus adeptos furiosos com o constrangedor arranque de temporada da equipa de Paulo Bento. Pior esteve o Benfica. Até podem dizer que a equipa efectuou uma boa exibição perante o Marítimo no Estádio da Luz, mas a tão ambicionada vitória não apareceu (tirando a que voa antes do apito inicial do árbitro). Ao fim da primeira jornada, com bom ou mau futebol, todos têm os mesmos pontos, mas o Benfica fica já um passo atrás dos seus rivais que a seguir jogam em casa, enquanto que os encarnados vão a Guimarães. Tristemente previsível é este nosso futebol.

Felizmente não consegui assistir a qualquer partida desta nossa primeira jornada, a praia e as jantaradas retiraram-me essa possibilidade — não seria nada mau se assim fosse no ano inteiro — mas basta ler as manchetes dos jornais desportivos, e ouvir um pouco das declarações dos técnicos dos grandes para ver o filme todo. É sempre o mesmo, o filme, claro está, se o argumento fosse outro, então não era preciso justificar o que fosse… Se as equipas tivessem capacidade e futebol para marcar três ou quatro golos aos seus adversários, pouco importava quem jogou bem, ou quem dominou, enfim, o discurso de sempre: “dominámos sempre a partida”; “a haver um vencedor seríamos nós”; “o futebol tem destas coisas”; “o resultado é injusto”. Só me apetece aplicar um estrangeirismo: lmao (laughing my ass off). Marquem golos, repito, marquem golos, depois podem vir falar se no intervalo dos golos houve espaço para jogar bom futebol ou não. Que espécie chata é esta, a do treinador de futebol português… Para a semana há mais, do mesmo?

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Dia Seguinte

Que bimbos! Longe vão os tempos em que eu conseguia ver uns minutos de «O Dia Seguinte» na SIC Notícias. Guilherme Aguiar deve ter acções na empresa de Balsemão, está agarrado à cadeira e de lá não sai. O representante do Futebol Clube do Porto aparenta ser tudo o que de desprezível se aponta ao campeão nacional: tem ar de mafioso; é faccioso e mais depressa dá um tiro na cabeça de cada membro da sua família do que admite que alguma coisa possa ser melhor do que o seu clube. Já Dias Ferreira é um troglodita. Até pode ser um tipo esperto, mas é ranhoso até dizer basta! E o Sílvio Cervan... Credo! Que imbecil. A sua entrada para o trio de comentadores deve ter sido resultado de um protocolo celebrado entre a SIC e a CERCI de Benfica.

Só recentemente compreendi o verdadeiro significado do título de programa, é que assim que passo pelo canal 5 nas noites de segunda-feira, fico logo com vontade de que o dia seguinte chegue bem depressa... Nas palavras do malogrado Jorge Perestrelo, «O que é que é isso meus?»

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Inter perde... Mas é grande

No sábado passado, mais uma vez graças às transmissões pirata via Web, fiz duplo clique no ícone do SOPCAST para assistir à final da Supertaça de Itália. Frente a frente, o Inter de José Mourinho e, diriam os mais afoitos, de Quaresma, e a Lazio de Roma. Grandíssimo jogo de futebol, tipicamente italiano no que toca à competitividade, mas este Inter 2009/2010 não tem nada de tipicamente italiano. Apesar de derrotado por 2-1 na partida disputada em Pequim, a equipa de Mourinho revelou um futebol muito atractivo, com especial destaque para a excitante dupla de avançados: Eto’o e Diego Milito.

Depois de uma primeira parte bem disputada, em que o Inter foi superior ao seu adversário mas com a Lazio a responder com eficácia defensiva e com alguns contra-ataques perigosos, na segunda parte o Inter de Milão entrou de rompante. Eto’o, Milito e companhia praticaram um futebol de altas rotações e criaram oportunidades de golo a um ritmo assustador, um domínio avassalador. Curiosamente, foi neste período que a equipa romana concretizou os seus dois tentos, o primeiro fruto de um golpe de sorte, o segundo fruto de uma finalização genial do seu capitão Tommaso Rocchi. Como o futebol pode ser injusto... Mesmo assim, os interistas não desistiram, e continuaram a proporcionar um grande espectáculo aos chineses que encheram o Estádio Olímpico de Pequim, mas apenas lograram concretizar uma das dezenas de oportunidades que dispuseram até ao final da partida, por intermédio de Eto’o.

Fiquei com água na boca relativamente ao que este Inter pode fazer a nível interno e na Champions na época desportiva que se avizinha. Além da referida dupla de avançados que promete fazer muitas mossas nas defensivas adversárias, a contratação do central brasileiro Lúcio veio fortalecer ainda mais o sector defensivo da equipa treinada pelo «specialle». Só espero que, para variar um pouco, Mourinho não calhe de novo no caminho de uma equipa portuguesa na Liga dos Campeões, o resultado pode ser catastrófico... Para os portugueses, claro.

Resumo do jogo:

sábado, 8 de agosto de 2009

Galopar merengue

Graças ao fenómeno das transmissões televisivas pirata via Web, tive a oportunidade de assistir esta madrugada à partida do Real Madrid em Toronto, frente à equipa local. O FC Toronto até joga bem à bola, mas é uma equipa ingénua, o que proporcionou muito espaço para os galácticos encantarem o público com pormenores deliciosos. Neste capítulo, dos pezinhos de seda e da bola colada às chuteiras, o velho Raúl (ainda) é um caso à parte. Mas a correr, com e sem bola, Kaká e Ronaldo são um espectáculo dentro do espectáculo. Dois puro-sangue que aceleram o jogo como se estivessem a perseguir novos recordes de velocidade, e introduzem no futebol uma componente estética habitualmente associada ao desporto equestre: a excelência do galope.

Neste Real Madrid 2009/2010 ainda não é certo se Pellegrini irá optar por um 4x4x2 (com Ronaldo descaído para a esquerda e Kaká para a direita) ou por um 4x3x3 (com CR9 no trio da frente e o brasileiro solto no meio-campo). Seja qual for a táctica, uma coisa é certa: Ronaldo; Kaká; Raúl e Benzema têm carta-branca para atacar a baliza... E que gozo é ver estes quatro cavaleiros do apocalipse a galgar terreno em direcção à grande área contrária. Se o capitão merengue prima o seu futebol pela inteligência e delicadeza no toque de bola, ao que ainda se pode acrescentar um raro «faro» de golo, o francês alia técnica à força bruta. Já o português e o brasileiro... sempre que houver espaço, sempre que surgir um contra-ataque, meus senhores, ponham os olhos nestes dois. Para quem aprecia a estética do corpo humano em movimento, contemplar estes dois atletas com características físicas excepcionais a correr livres, vestidos de branco em cima da relva verde é uma visão que vai deixar os mais sensíveis assombrados. Tenho de admitir, apesar de não ser gay, nem fã de ballet e, ainda menos, de corridas de cavalos, eu fiquei com pele de galinha.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A vaca verde e branca

É preciso ter sorte... Uma equipa que fez tudo mal, e um treinador que fez ainda pior. No final, lá se passou uma eliminatória imerecidamente perante uma equipa da terceira divisão europeia. Não é que eu fique triste, fico contente, pois claro. Afinal, temos a possibilidade de colocar duas equipas na Champions. Resta saber se o Sporting vai conseguir ter melhor rendimento na próxima eliminatória. A jogar como fez perante o Twente, arrisca-se a sofrer mais derrotas históricas como na época passada frente a Barcelona e Bayern de Munique.

Muitas vezes me interrogo se o papel de Paulo Bento é preparar a sua equipa para vencer, ou se é promover os jovens saídos da formação sportinguista para que o clube possa encaixar alguns milhões nos finais de época. No encontro da segunda-mão da eliminatória de acesso ao play-off de acesso à Liga dos Campeões — alguns bancos em Portugal não têm tantos obstáculos no acesso ao ouro como a renovada prova da UEFA — Paulo Bento deixou Caneira e Tonel no «banco», e fez entrar para o «onze» Carriço e André Marques. Nada contra apostar nos jovens, mas então para que serve ter jogadores experientes e com currículo no plantel, senão para «chupar» alguns milhões de euros por ano ao clube? Não será nos jogos decisivos que a experiência mais importa? Não será importante a voz de comando de jogadores como Caneira para impedir que os jovens tremam desde as unhas dos pés até à ponta do cabelo? Eu diria que sim, mas quem sabe é Paulo Bento, ou a direcção do Sporting, fica a dúvida. E Djaló, que andou ele a fazer em campo? O pobre do Vukcevic nem com a lesão do Ismailov consegue «calçar» nesta equipa leonina. Até é jovem... Mas não é português.

O relvado do Twente foi uma espécie de campo dos sonhos de Paulo Bento, onde o treinador do risco ao meio explanou o seu imaginário futebolístico ao colocar Djaló na posição de médio interior esquerdo. Tenho de admitir que, por muito que pense, não consigo perceber a ideia do técnico, diria até que se ele queria surpreender alguém, a missão foi cumprida, só que esse alguém foi o próprio avançado (disfarçado de médio) sportinguista. Passando à frente, ou melhor, para a lateral direita, Pedro Silva saltou de titular para futebolista de bancada no espaço de uma semana, e a julgar pela exibição de Abel, mais uma vez me questiono, porque não Caneira? Acho que não há muito mais a dizer em relação ao «onze» do Sporting, mas a entrada de Pereirinha foi outra experiência falhada, com a agravante de ter saído o jogador errado ao intervalo, e queimar as substituições a meia hora do final da partida, quando apenas bastava marcar um golo para vencer a eliminatória, também não me parece manobra de pessoa inteligente. E se há algum azar? Tenta-se a recuperação com dez homens em campo? Ok, já chega. Acrescento apenas que já vi o Paulo Bento fazer muitas asneiras, mas tantas em tão pouco tempo foi a primeira.

De resto, o que se viu foi a ausência total de um fio de jogo. Viu-se também que não foi planeado um pico de forma para ultrapassar esta eliminatória, antes um vale (bem profundo) de forma. Assistimos a uma exibição horripilante de Liedson, a jogar assim nem na Selecção tens lugar. E observámos uma equipa que está a milhas de poder representar Portugal ao mais alto nível na montra do futebol europeu. Fica a esperança de que as próximas semanas tragam uma versão diferente deste Sporting que, para já, não merece o estatuto de equipa grande... Nem no nosso futebol de gente pequena.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O antimourinho

Em recente entrevista, Luís Filipe Vieira afirmou que Jorge Jesus era o melhor treinador português. Quando o jornalista que o entrevistou resolveu acrescentar, “a seguir a Mourinho”, Vieira reforçou a sua ideia: “Para mim, ele é o melhor treinador português” (ponto final). Na altura, atribuí pouca importância a esta afirmação do presidente benfiquista, mas ontem, depois de ouvir as declarações de Jorge Jesus no final do encontro com o Vitória de Guimarães, debrucei-me de novo sobre essa possibilidade, principalmente porque as declarações de Jesus marcaram uma clara diferenciação filosófica na abordagem motivacional que os dois técnicos fazem aos seus jogadores.

O Benfica venceu o Torneio Cidade de Guimarães. Tudo correu bem à equipa encarnada: duas vitórias; bom futebol; seis golos marcados e nenhum sofrido. Mas houve um percalço, a lesão de Maxi Pereira. No final do jogo frente ao Guimarães, no qual o lateral uruguaio já não participou, um repórter da SporTV questionou o técnico benfiquista sobre se os encarnados tinham soluções no plantel para substituir Maxi Pereira, que deverá estar afastado dos relvados por um mês, Jesus não teve papas na língua: “Ficou provado com este jogo que não temos soluções à altura para substituir o Maxi”, jogador considerado fundamental pelo treinador. Por outras palavras, o que Jorge Jesus disse foi que o Patrick, lateral direito brasileiro que teria dificuldades em garantir um lugar a titular numa equipa que luta para não descer na Liga de Honra, não presta.

E é aqui que se estabelece uma clara distinção entre JJ e Mourinho. As únicas vezes que José Mourinho “bate” nos seus jogadores é quando o treinador sabe que os futebolistas podem render mais do que o que demonstram em campo — basta lembrar Sabry nos tempos do Benfica, ou Adriano no Inter — já Jorge Jesus não tem pejo em dizer que os seus jogadores não prestam e que, se pudesse, ia já a correr trocar Patrick por um outro lateral qualquer. Ah, e Jesus continua um bronco, enquanto Mourinho espalha charme por esta Europa fora. Nem com ajudas de um staff de especialistas do bem falar o técnico benfiquista consegue dizer três palavras seguidas sem se engasgar. Mourinho à parte, aos sportinguistas calhou o treinador da “tranquilidade” e do penteado ridículo, aos benfiquistas calhou um que não sabe falar. Só que o último parece ter uma equipa que lhe permite expressar-se através dos resultados, enquanto o primeiro... nem por isso.