segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Cresce e aparece, Ronaldo!

Cristiano Ronaldo, expoente máximo do futebol português da actualidade. Fenómeno madeirense que os portugueses tanto admiram e elogiam. Eu não fujo à regra, ou antes, não fugia. Ultimamente, a minha admiração foi, progressivamente, convertendo-se em antipatia e pena. Sim, pena. Pena de ver um indivíduo que tinha condições de ser um exemplo para a juventude transformar-se num homemzinho que apenas vive para alimentar o seu ego. Pena de constatar que o maior ícone do futebol português não passa de um catraio mimado e irresponsável. Pena de observar que nada está a ser feito para contrariar esta tendência.

A época 2007/2008 viu explodir um novo Ronaldo (havia outro, o brasileiro) no panorama mundial. Mais de quarenta golos marcados numa só temporada. Exibições e golos memoráveis em dezenas de jogos. Títulos individuais e colectivos. Uma época em que foi, sem dúvida, o melhor do Mundo. Mas, pelos vistos, as suas performances em campo não chegaram para o satisfazer. Aparentemente, existe a necessidade de maior exposição. E como se promove ainda maior exposição depois de um ano de tanta visibilidade? Criando e alimentando polémicas. Mostrando ingratidão por quem nos tornou no que somos. Criando ódios dentro da nossa própria casa. Dando respostas parvas e provocadoras em entrevistas. Enfim, é este o Cristiano Ronaldo versão 2008/2009.

Raramente consigo concordar com as ideias de Miguel Sousa Tavares mas, no seu último artigo de opinião em A BOLA, este escreve um comentário sobre Cristiano Ronaldo que me vejo forçado a transcrever: (...) «Cristiano Ronaldo. O homem que já virou griffe e que se faz tratar por CR7, perdeu-se no jogo [frente ao Brasil] apenas por culpa do vedetismo e vaidade que vem dando mostras, em crescente descontrolo. Quando lhe perguntaram se era o melhor jogador do mundo e ele respondeu que era «o primeiro, o segundo e o terceiro», quando lhe perguntaram se era mais bonito que Kaká e ele respondeu «gosto de mim», quando foi substituído no sábado, em Inglaterra, depois de mais um exibição completamente apagada, e saiu com o dedo espetado a indicar que era o n.º 1, já dá para perceber que aquele rapaz precisa urgentemente de quem lhe explique coisas básicas sobre a vida e a maneira de estar no futebol, como em tudo o resto...». Tenho pena de que Sousa Tavares se tenha antecipado (ou que eu demore tanto tempo a escrever o que me vai na alma), porque algumas destas palavras são precisamente as que gostaria de ter escrito.


Os gatilhos

De facto, o rapaz já irrita. A constante necessidade de mostrar serviço em prejuízo da equipa e a sua tendência para se tornar o centro das atenções apenas incutem antipatia em quem o vê pavonear-se por esses estádios fora. Além da ausência de humildade e de uma grande dose de vaidade, há que diagnosticar, ainda, um caso evidente e bem agudo de egocentrismo. Aliás, por muito que me custe revelar esta dica a potenciais adversários da Selecção, há uma forma muito simples de parar Ronaldo. Não é com um, dois ou três defesas, mas sim com elogios. A treinadores e jogadores adversários basta dizer, alto e bom som, que ele é o maior, que «só se consegue pará-lo com uma pistola», e comentários do género. Vão ver que ele entra em campo com o ego de tal maneira inchado que mais ninguém vai ter bola nesse jogo. É tudo dele. E quem se lixa? A equipa onde ele joga e o treinador que não tiver a coragem de o mandar para o banco. Jogos contra Albânia e Brasil são dois excelentes exemplos disso mesmo.

É, de qualquer forma, curioso verificar que este é um fenómeno relativamente recente. CR7 nunca foi um exemplo de humildade, mas os comportamentos que tanto desaprovo só começaram a surgir no defeso. Se me permitirem a ousadia, aponto dois gatilhos que espoletaram esta alteração comportamental. O primeiro é a cada vez mais popular constatação de que Cristiano Ronaldo não rende nos jogos decisivos. Não vale a pena procurar exemplos para contrariar esta crença, porque eles não existem. As dúvidas lançadas sobre o seu rendimento, nos momentos importantes, levaram o jogador português a criar um mecanismo de defesa que o incita a procurar, constantemente, formas de estimular o seu ego. O segundo gatilho é a eleição do melhor jogador do ano, que se tornou uma obsessão do madeirense. E uma obsessão raramente é saudável.


Recados

Hoje em dia, quando vejo um miúdo na rua a jogar à bola e o ouço dizer que quer ser o Cristiano Ronaldo, fico logo nervoso. A minha vontade é dizer-lhe: «não queiras ser o Ronaldo rapaz». Este é o meu recado para os miúdos por este país fora: se gostam de futebol, se querem ser craques, procurem outros jogadores na moda para vos inspirarem. O futebol não se resume a fazer muitas e variadas fintas e impressionar as miúdas.


Quase me esquecia... Por tudo o que é sagrado, prof. Queiroz e sr. Madaíl, tirem a braçadeira de capitão a este menino e coloquem-na no braço de um homem que saiba respeitar os adeptos portugueses e que possua os outros atributos indispensáveis a um capitão de equipa. Atributos esses que, por muito que os procurem, jamais encontrarão em Cristiano Ronaldo.

* 26/11/2008

4 comentários:

Anónimo disse...

"Cristiano Ronaldo não rende nos jogos decisivos. Não vale a pena procurar exemplos para contrariar esta crença"
Não é bem assim. Marcou, por ex, na final da liga dos campeões (aliás foi o melhor marcador da champions, pelo que dede ter marcado mts decisivos, tal como no campeonato)
Manel

O Canetas Pretas disse...

Para cada regra há uma excepção.

É verdade que marcou um golo na final da Champions mas a exibição foi fraquinha e depois falhou o "seu" penalty no desempate, que só não deu a vitória ao Chelsea por causa da escorregadela do Terry.

Esteve muito bem nos quartos-de-final com a Roma e marcou muitos golos na fase de grupos. No duelo com Messi das meias-finais, ficou claramente a perder, tal como no ano anterior no duelo com Kaká.

É raro fazer uma exibição de bom nível nos grandes jogos da Premier League. Nos jogos com os "pequenos" farta-se de marcar golos.

O Canetas Pretas disse...

Dados estatísticos:

Na época 2007/2008, o Man. United marcou 80 golos na Premier League, 31 foram da autoria do Cristiano Ronaldo - 38%

Em 6 jogos disputados contra Arsenal, Liverpool e Chelsea, o Manchester marcou 12 golos, 2 deles por Ronaldo - 17%

Anónimo disse...

Temos mesmo de concordar, o «puto» precisava mesmo de uma banhoca de humildade - qualquer coisa como ficar sem o prémio da FIFA de melhor do Mundo.