terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Individualidades desequilibram

A palavra individualidades é, no desporto rei, sinónimo de craques: indivíduos que perturbam o equilíbrio entre os adversários numa partida de futebol; os jogadores que resolvem. Mas esta última jornada europeia teve o condão de introduzir, para os portugueses, um novo sinónimo de individualidades no dicionário do futebolês: indivíduos que perturbam o equilíbrio entre os adversários numa partida de futebol; os jogadores que enterram.

Os jogos de Sporting e Benfica, frente a Barcelona e Olympiakos respectivamente, são, hoje em dia, uma raridade que deve ser extinta com a maior urgência. Fico com a clara noção de que jogos destes só acontecem aos clubes portugueses. São o nosso fado. Jogos em que um, dois ou três atletas têm falhas catastróficas ao nível da concentração, tremem como varas verdes, falta-lhes confiança e parecem perdidos em campo. Será, provavelmente, um problema do foro psicológico que urge ser diagnosticado e erradicado rapidamente.


Ora enterras tu, ora enterro eu

O Sporting recebeu o Barcelona para mais uma jornada da Liga dos Campeões. O resultado final foi 2-5. Desfecho que se poderia encarar como normal tendo em consideração os resultados que o Barcelona tem conseguido esta época, a nível interno e na Champions. No entanto, focando a atenção exclusivamente nos golos, fica a ideia de que os leões foram responsáveis pelos sete ocorridos na partida. Que o Barcelona pouco ou nenhum mérito teve na obtenção dos seus cinco tentos.

Para começar, Carriço: verdadeiramente infantil a forma como se deixa bater por Messi antes do argentino assistir Henry para um golo fácil. Incompreensível, também, a forma como Miguel Veloso não faz o mínimo esforço para acompanhar a entrada na área do francês. O segundo golo é, acima de tudo, um golpe de sorte para os catalães, apesar da desorientação geral da defesa leonina. O terceiro tento é patético! Polga mete a mão à bola e ficam quatro jogadores leoninos estáticos a olhar para o árbitro (comportamento típico no nosso futebol) enquanto Daniel Alves marca rapidamente o livre para Messi inserir a bola nas redes. O quarto e o quinto golos são fruto de intervenções, no mínimo, atabalhoadas de Caneira, Grimi e Rui Patrício. É mesmo caso para se dizer... Ora enterras tu, ora enterro eu.


David vira Golias kamikaze

Já no jogo do Benfica em Atenas, frente ao Olympiakos, David Luiz assumiu-se como o grande protagonista da calamidade (derrota por 5-1). O jovem central brasileiro regressava ao onze encarnado, por força do impedimento de Luisão, depois de longa ausência. Oportunidade de ouro para mostrar que estava preparado para ocupar, no futuro próximo, uma das duas posições centrais na defesa titular benfiquista. Oportunidade falhada! Fica no ar a dúvida se a coisa não teria corrido melhor com o outro puto (Miguel Vítor) a titular. De qualquer forma, fazia sentido colocar David Luiz de início. Afinal, todos conhecemos a sua categoria e era importante dar minutos ao brasileiro. A sua exibição é que não fez qualquer sentido.

Diga-se, em abono da verdade, que Jorge Ribeiro e Sidnei deram uma boa contribuição para facilitar a goleada dos gregos, começando aos 45 segundos e terminando aos 53 minutos. Mas o desnorte de David Luiz era tal que fico com a sensação de que os outros dois se foram malfadando por arrasto. Nunca antes vi um jogador profissional tão perdido em campo, sem saber que terrenos pisar e de que forma intervir nos lances. Como foi possível tal desacerto? Nem consigo começar a elaborar uma explicação. O comportamento do jovem central em campo seria uma óptima fonte de inspiração para um episódio de uma série tipo Twilight Zone. Resta saber como vai reagir...


Rui Santos

Reflecti muito sobre se havia de escrever as linhas que se vão seguir. Não tenho qualquer desejo em criar inimigos com estes artigos de opinião, mas não consigo resistir a fazer uma critica directa a um comentador de futebol da SIC Notícias, Rui Santos.

Quando instado a comentar o jogo entre Benfica e Olympiakos, o ex-chefe de redacção do jornal A BOLA começou por referir que Quique Flores estava obrigado a dar explicações à nação benfiquista sobre a razão da não utilização de Katsouranis. Entre as várias hipóteses que lançou para justificar a ausência do grego da equipa titular não se lembrou da questão física. Só uma pessoa desatenta às notícias diárias é que não sabia que Katsouranis se viu recentemente afectado por uma virose e apenas efectuou um treino antes da partida para a Grécia. E eu a julgar que o trabalho de um comentador passava por estar atento precisamente a estes pormenores...

Mas não se ficou por aqui. De seguida, exigiu explicações a Rui Costa e Filipe Vieira. Porquê? Porque o Benfica contratou grandes nomes que ganham fortunas mas que jogam pouco e estão de rastos fisicamente. Não digo que ele não tenha razão, mas que raio tem isto a ver com a calamidade de Atenas? Todos conseguem perceber que o problema esteve na defesa (tal como na partida de Alvalade) e não propriamente nos craques do meio campo para a frente, independentemente de terem jogado bem ou mal. Continuou, então, a criticar a política de contratações. O foco, desta vez, era a ausência de um médio criativo. Nem vou comentar se o Benfica tem ou não um médio criativo, mas mais uma vez, que diferença teria feito um médio criativo no jogo com o Olympiakos? Absolutamente nenhuma. Pelo meio, lá conseguiu dispensar trinta segundos para aludir à juventude da dupla de centrais benfiquista. Como eu gostaria de ter ouvido os seus comentários à derrota do Sporting...

O essencial a reter é que este ilustre comentador deslocou-se aos estúdios da SIC não com o objectivo de fazer uma análise do Olympiakos-Benfica, mas sim com outro intuito qualquer. Não faço ideia qual, mas de certeza que Rui Santos tem uma missão a cumprir que não envolve fazer o trabalho para o qual foi contratado. Será que ele viu o jogo ou é ceguinho? Se resposta residir na segunda hipótese, então garanto-vos que neste ceguinho dá vontade de bater.

* 28/11/2008

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