segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Regularidade a quanto obrigas

É comum ouvir dizer que os campeões ganham mesmo quando jogam mal. Outro lugar-comum é dizer que o campeonato é uma prova de regularidade. Está a tornar-se um lugar-comum dizer que o Benfica é o mais forte candidato ao título, que tem o melhor plantel. Arrisca-se também a tornar-se um lugar-comum a pergunta: o que se passa, Benfica?

No Benfica versão 2008/2009 nota-se, de facto, uma mudança... para melhor. A atribuição de competências no cargo de director desportivo, ocupado por Rui Costa, veio conferir coerência ao processo de aquisições, incluindo a do treinador. O plantel é equilibrado e há soluções para responder a diferentes desafios. Os adeptos aderem aos jogos em número e com entusiasmo. Há, no plantel, jogadores de classe mundial que resolvem partidas e estimulam os sonhos dos sócios.

Porém, de vez em quando, ficamos todos (sócios, simpatizantes e meros espectadores) estupefactos com algumas exibições dos encarnados. Basta lembrar as partidas com o Rio Ave, Leixões e Naval, estes para a Liga, e Penafiel para a Taça de Portugal, para ficarmos com muitas dúvidas se este Benfica tem estofo de campeão. Em contraponto, podemos recordar as (belas) exibições contra o Sporting (Liga) e Nápoles (Taça UEFA), e ficamos deveras confusos sobre o real valor dos encarnados.


As flores para Quique

O novo Benfica iniciou-se com a procura de um treinador. Depois de falados e apalavrados alguns nomes conhecidos de todos, a escolha final recaiu em Quique Flores. Apesar de não ser uma figura de topo no universo dos treinadores de elite, não pode ser considerado um desconhecido por quem está minimamente atento ao que se passa pelo mundo futebolístico.

Pouco importa, agora, discutir o percurso do treinador espanhol... o que ganhou e o que não conseguiu ganhar. Importa, sim, referir que o discurso do ex-técnico do Valência é uma lufada de ar fresco no futebol português. A sua filosofia de futebol positivo é um chamariz para levar adeptos aos estádios. É, de facto, um treinador que se distingue da mesquinhez que, por vezes, marca discursos e comportamentos dos técnicos nacionais.

Em início de época, a missão de Quique Flores encontrava-se bem definida. Avaliar o plantel, livrar-se da fruta estragada e ajudar Rui Costa a escolher fruta da época, capaz de abrilhantar as fruteiras dos jantares mais jet set. Numa análise simplista, diria que a missão foi cumprida. Passava-se, então, à construção de uma equipa e à construção de um futebol. Os tais mecanismos, automatismos e demais ismos que todos conhecemos, tinham que chegar rapidamente, porque o Benfica estava obrigado a entrar forte na época desportiva. Em anos anteriores, as primeiras jornadas serviram, na maioria dos casos, para confirmar que a equipa da Luz continuava sem estilo de campeão. Seria a época 2008/2009 diferente?


Lugares-comuns

A pré-época termina em grande. Os jogos com Inter e Feyenoord revelam uma equipa com mais futebol que o que seria previsível, quando consideramos um plantel renovado e com um novo treinador. Mérito para Quique. A equipa mostrava-se madura e o trabalho ao nível das manobras ofensivas era bem visível. Seria de esperar que o primeiro jogo oficial da época fosse a confirmação de um Benfica convincente e vencedor. Puro engano! Viu-se uma equipa sem futebol, sem pressionar, sem atitude. Definitivamente, um passo atrás.

Seguem-se jogos medíocres alternados com jogos de grande qualidade. Regra geral, nos jogos medíocres, o que se nota é uma falta de atitude confrangedora, diria mesmo, uma bandalheira. Jogadores sem pressionar a bola e o adversário, à espera que os golos apareçam como que por milagre. Quique desespera e não é o único. É aflitivo assistir à forma displicente como alguns jogadores encararam determinadas partidas e os adversários.

O discurso dos responsáveis encarnados é cuidadoso e inteligente. A equipa está em crescimento, em busca da regularidade. Todos acreditamos e aceitamos este discurso. O problema reside no facto de este não servir para justificar o mais evidente: Os jogadores não se apresentam com a mesma atitude em todos os jogos. A culpa será do treinador, que não consegue motivar os jogadores? Duvido. Diria antes que a culpa é dos lugares-comuns... Os jogadores convenceram-se de que os nomes vencem jogos; de que, mesmo sem jogar bem, sem correr, se conseguem ganhar jogos contra equipas menores; de que um campeão ganha... mesmo sem jogar bem. Este último até pode ser verdadeiro, mas há algo que um campeão nunca dispensa: atitude! Sem garra, sem vontade e sem sacrifício não há campeões. Depois destes atributos garantidos, então sim, podemos afirmar que um campeão também vence nos maus dias. Porque, pelo menos, a vontade existe.


O verdadeiro campeão

Se me permitem um paralelismo com o boxe, o verdadeiro campeão entra no ringue para arrumar com o adversário no primeiro assalto. Não fica pachorrentamente à espera do último assalto, convencido de que o oponente vai acabar por tropeçar, bater com a cabeça na campainha e perder o combate por KO. O futebol é em tudo idêntico. Frente a equipas teoricamente inferiores, há que entrar em campo com atitude guerreira. Mostrar quem manda é imperativo. Citando uma dupla de comentadores de outra modalidade – "dão vida aos mortos e depois aturem-nos". Esta frase reflecte perfeitamente o que sucede quando alguns clubes ditos grandes, defrontam os ditos pequenos. E o Benfica tem sido o espelho disso mesmo. Apenas algumas individualidades e a sorte, têm evitado que os estragos sejam maiores.

Urge mudar atitudes. A regularidade que a equipa técnica pretende atingir passa, acima de tudo, por convencer os jogadores a encararem todas as partidas com uma mentalidade de conquista. Se esse objectivo for atingido, a regularidade, nas exibições e nos resultados, será uma realidade. Porque, clubismos à parte, este Benfica tem os melhores jogadores, já tem a melhor equipa, e tem o melhor treinador da nossa Liga. Parece-me evidente. Mas não chega.


Hoje, à passagem da nona jornada da Liga Sagres, o clube da Luz é segundo classificado, um ponto atrás do (insira aqui o adjectivo) Leixões. Segue à frente de Porto e Sporting, uma novidade por si só. Nesta altura, por força da posição na tabela classificativa e, também, da qualidade do seu plantel, os encarnados perfilam-se como o grande candidato ao título. Sobra identificar qual o seu principal adversário: FC Porto? Sporting? Leixões? Na minha opinião, o próprio Benfica.

* 24/11/2008

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