segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Da teoria à prática

É difícil encontrar forma de justificar o empate da nossa Selecção diante da Albânia. Mais fácil é justificar a derrota frente à Dinamarca, até porque a exibição foi boa. No caso da Albânia, no entanto, quase tudo foi mau... quando se passou da teoria à prática.

Importa atribuir culpas, pois claro! Mas, acima de tudo, o que pretendo é analisar o trabalho do actual seleccionador nacional, até ao jogo com a Albânia, e retirar conclusões sobre a sua competência para ocupar esse cargo.

Não vou entrar em análises curriculares, nem enfatizar o percurso de Carlos Queiroz. Interessa o presente e, obviamente, o futuro próximo. Isto porque, neste momento, a qualificação para o Mundial está em risco. Claro que também não vou fazer paralelismos com o anterior seleccionador.

Tenho de admitir que fui a favor da nomeação de Queiroz para treinar as quinas. Sei que a maioria dos entendidos foi do contra, mas eu não sou da maioria e, provavelmente para muitos, nem sou entendido. Estava convencido de que, depois da experiência em Manchester, o professor teria a prática necessária para lidar com os nossos craques. A teoria, essa todos sabemos que a tinha.


Montar a equipa

Portugal tem quatro jogos disputados nesta fase de qualificação. Uma vitória frente a Malta (grande jogo), uma derrota frente à Dinamarca (grande jogo, resultado injusto) e dois empates consecutivos: Suécia (resultado e exibição aceitáveis) e Albânia (o escândalo).

Nessas quatro partidas, o esquema táctico da Selecção foi sempre o 4x3x3. Seria de esperar algo diferente? Eu gostaria... talvez um dia. É aceitável que não se mude? Vejo-me forçado a admitir que sim. A escassez de pontas-de-lança de qualidade mantém-se e, afinal, foi com esta disposição que conseguimos bons resultados nas últimas grandes competições. Portanto, em relação ao esquema táctico, não podemos ser excessivamente críticos, por muito que me apetecesse.

Outro ponto a analisar é a formação inicial para cada partida.
Em relação ao guarda-redes, nada há a comentar. Na defesa, apenas a eterna questão do lateral-esquerdo. Neste caso, até podemos afirmar que Queiroz tentou. Tentou promover um lateral-esquerdo de raiz, tentou que este se enquadrasse na Selecção e que viesse a dar garantias. Alguns particulares e dois jogos a sério serviram para comprovar que ainda não foi desta. Adapte-se Paulo Ferreira ou Caneira, porque lateral-esquerdo ainda não existe. A experiência Antunes falhou.

No meio-campo, impunha-se encontrar substituto para Petit (não cheguei a ouvir este dizer que se retirava da Selecção, apenas o ouvi fazer um comentário hipotético no início do Euro-2008). Mas, passando à frente, Miguel Veloso seria o substituto na calha. Só que o rapaz insiste em portar-se mal e não joga no Sporting, logo, não joga nos AA. Sobra Raul Meireles, que se tem afirmado um jogador seguro e responsável. Os outros dois centrocampistas são, em condições normais, Deco e Maniche (que falta fizeram nos últimos dois jogos). Por ausência destes, foi preciso improvisar frente a Suécia e Albânia. Contra os altos e loiros, jogaram Meira (opção válida, na teoria) e Moutinho (opção natural). Frente aos toscos, jogaram Moutinho, de novo, e Manuel Fernandes, este último, opção arriscada mas compreensível, se bem que Carlos Martins talvez fosse a opção mais ofensiva. De qualquer forma e, mais uma vez na teoria, as opções iniciais foram aceitáveis e, em alguns casos, até louváveis. Houve quem gritasse por Danny no meio-campo... Caros amigos, desculpem, mas o moço é avançado, não é médio, ainda menos num meio-campo formado apenas por três jogadores.

No ataque... joga Cristiano Ronaldo. Em forma ou longe dela, simpático ou mal-educado, a marcar ou a falhar... joga sempre. Não sou eu quem vai dizer o contrário, embora uma substituição de vez em quando só lhe fizesse bem, e o jogo com a Albânia teria sido uma boa oportunidade para demonstrar isso mesmo. Simão também joga sempre, ou devia, e que falta fez ele, como se pode comprovar pelos muitos golos que tem marcado em Espanha. Depois... depois, o ponta-de-lança. A opção tem sido Hugo Almeida. Tal como no caso de Antunes, trata-se de uma experiência, um pouco mais bem sucedida que a do lateral. Hugo Almeida é um avançado raro no futebol português, percebe-se a intenção de tentar fazer dele o homem-golo que tanto falta a Portugal. Na teoria, só me parece bem... falta o seleccionador aprimorar os timings para o ter em campo, sozinho ou acompanhado.

Como vemos, na teoria, Carlos Queiroz faz quase tudo bem... até entrar em campo. Pensa bem a equipa, sabe que atletas tem ao seu dispor e em quem deve apostar (mais uma vez, partindo do princípio de que o sistema táctico é intocável). Na prática... bom, já todos vimos o que acontece na prática. É razoável e até acertivo referir que as substituições são tardias e, por vezes, simplesmente mal feitas. É inegável que os nossos jogadores não apresentaram, frente à Albânia, índices motivacionais aceitáveis em jogadores de alta competição. Ambos os casos já foram devidamente estudados e comentados por muitos. Permanece, no entanto, a dúvida sobre quem recai a maior dose de responsabilidade quando os jogadores não demonstram a atitude que deles se espera.


Eu acredito!

Importa, então, saber se chegamos ou não ao Mundial. Eu acredito que sim. Temos mais e melhores jogadores que os nossos directos adversários. Acredito, também, que os nossos atletas não vão querer ficar de fora de tão épica competição. Se a motivação existir, e os nossos principais jogadores estiverem aptos, pelo menos o segundo lugar do grupo (e consequente play-off) deverá ser nosso.

Depois, vem a fase final. Aí, não tenho dúvidas de que o professor Queiroz estará nas suas sete quintas. Com semanas para trabalhar os jogadores, em vez de dias, terá tempo para tirar partido das suas virtudes e disfarçar as suas deficiências. Só resta garantir que lá chegamos.

No entanto, se a coisa correr mal e for necessário encontrar novo seleccionador, eu avanço já com um nome: Zico! Curiosamente, foi o primeiro nome sugerido para substituir Scolari. Quando se fala em perfil para seleccionador nacional, dificilmente encontro perfil mais indicado que o do grande campeão brasileiro. E alguém se lembra do futebol praticado pelo Fenerbaçhe na época passada? Eu lembro... Era bem bonito.

* 16/10/2008

2 comentários:

Anónimo disse...

Esta tua análise é muito boa, pelo menos à data que foi feita. Acho que se o jogo do Brasil tivesse sido jogado, a tua análise seria outra e talvez arriscasses a mudança de táctica. Eu arriscaria...porque não se tenta um 4-4-2 em losango? Funciona no SCP, no Brasil, etc. Poderá funcionar na selecção, pois existem jogadores com as características necessárias. Se deixarmos protagonismos e vaidosismos de lado, o meu 11 seria: H.Almeida e Nuno Gomes na frente - Deco/Moutinho no vértice superior-Ronaldo/Quaresma e Danny/Simão nos extremos - Maniche/Veloso/Meireles no vértice inferior - P.Ferreira e Bosingwa a laterais - Pepe e Ricardo Carvalho a centrais - Quim/Patrício na Baliza. O que acham?
Abr.
B

O Canetas Pretas disse...

É difícil implementar um 4x4x2 em losango na Selecção. Principalmente porque esse sistema obriga a laterais ofensivos. Do lado direito estamos servidos, mas do lado esquerdo... nem por isso. E temos vários e bons extremos puros que são melhor aproveitados noutro sistema.

Partindo do princípio que todos os jogadores estão no seu melhor, este é o meu onze num 4x1x3x1x1*:
Quim. Bosingwa; Pepe; R. Carvalho; P. Ferreira.
M. Veloso. CR7; Deco; Simão.
Danny. Hugo Almeida.
(Da direita para a esquerda)
* Para ilustrar a posição do médio mais recuado e do avançado mais recuado