terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Deviam morder a língua

É o tópico do momento em Portugal (como se existisse outro) mas os árbitros estão, mais do que o habitual, na linha de fogo. Os erros grosseiros sucedem-se, jornada após jornada e os protestos ecoam de norte a sul. É difícil prognosticar o fim da polémica porque os árbitros não vão deixar de errar. Esta é uma das poucas certezas no futebol.

A corrente época desportiva já viveu períodos de forte contestação à arbitragem. Podemos lembrar os comentários de Paulo Bento, quando referiu que os adeptos em Alvalade eram muito brandos com os senhores do apito. Podemos lembrar a veemente contestação benfiquista por causa do golo anulado por Pedro Henriques, frente ao Nacional. Mais recentemente, os dois jogos do Braga com Benfica e Porto foram o motivo do alvoroço. Pelo meio, o Sporting venceu um jogo da Taça da Liga graças a um golo apontado em evidente fora-de-jogo.

The Smiling Referee – David FawcettA vitória do Benfica frente ao Sp. Braga, em jogo relativo à 14.ª jornada da Liga Sagres, desencadeou uma avalanche de críticas ao trabalho da arbitragem. Treinador e presidente do clube minhoto gritaram roubo e foi apresentada queixa-crime contra o juiz da partida — Será que sou o único a ver o exagero nisto? — O Sr. Mesquita Machado acusou a comissão de arbitragem de ter substituído o árbitro inicialmente nomeado para essa partida, com o intuito de prejudicar o seu clube, acusação essa feita sem o auxílio de qualquer prova. O treinador do Porto, Jesualdo Ferreira, além de se queixar do trabalho do juiz da sua partida relativa à mesma jornada, fez questão de referir que um rival directo foi, por sua vez, claramente beneficiado pelo homem do apito.

Uma jornada mais tarde, os papeis inverteram-se. Desta vez foram os portistas claramente beneficiados por erros grosseiros de arbitragem, em jogo frente ao Braga. No entanto, o discurso de Jesualdo mudou como da noite para o dia. Na flash interview no final do encontro, quando confrontado com uma pergunta sobre a legalidade do primeiro golo, o técnico virou as costas ao jornalista. Uns minutos mais tarde, na conferência de imprensa, o treinador dos dragões referiu que não estava em posição de ajuizar o lance e que ia para casa ver as repetições na TV. Curioso constatar que na jornada anterior teve tempo para ter certezas sobre os lances polémicos de duas partidas, antes de ir a casa ligar a televisão... A hipocrisia não tem limites neste nosso futebol.

O que se ganha quando treinadores e dirigentes constantemente lançam achas para a fogueira da arbitragem? Porque não se preocupam, acima de tudo, com as suas equipas e o futebol que estas praticam e deixam para a comunicação social e para a opinião pública o exercício da crítica e, se inevitável, do insulto aos senhores do apito? Como já se comprovou, quem hoje é roubado, amanhã acaba por ser presenteado... Até o Braga há-de ter a sua vez. E se há motivos para o trabalho de um árbitro se transformar em caso de polícia, então que se respeite o segredo de justiça. Que se acabe com a hipocrisia, depois, com a peixeirada e, quem sabe, talvez os portugueses voltem a sofrer o desporto-rei com alegria.

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