terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Mesquita saca do machado

Segunda-feira, 12 de Janeiro de 2009, 22:30 horas. Entro no carro depois da partida de futebol semanal, ligo o Renault e o rádio começar a tocar. Está sintonizado na Antena 1 porque, a caminho do jogo de bola, ia entretido a ouvir notícias da consagração de Cristiano Ronaldo como FIFA World Player de 2008. No regresso a casa, o tópico ainda era o mesmo e depois das reportagens habituais — ora falas tu, ora falo eu — ouvi anunciar que, de seguida, ia ficar a conhecer novas declarações relativamente à arbitragem do Benfica-Sp. Braga, proferidas pelo presidente da Mesa da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Futebol, Mesquita Machado, que também ocupa o cargo de presidente da Câmara Municipal de Braga e, como é do conhecimento geral, foi presidente do Sporting da mesma cidade.

O primeiro pensamento que me assombrou foi se seria o presidente da Mesa da Assembleia Geral da FPF, o presidente da Câmara de Braga ou o ex-presidente e adepto do clube mais representativo da capital do Minho quem prestava as declarações? Depois do que ouvi, fiquei a perceber que não fazia a mínima importância. O ultraje das suas palavras é tal, que nem importa qual Mesquita Machado disse aquilo. O homem é uma grande besta!

Esse tipo — nem a careca e o pêlo branco fazem com que ganhe o meu respeito — disse coisas como isto: «A arbitragem de Paulo Baptista foi um assalto à mão armada». Ou como isto: «Eu disse ao meu presidente [do Sporting de Braga] que se preparasse porque ia ser prejudicado no jogo com o Benfica». E, para abrilhantar ainda mais o texto, isto: «O árbitro da partida era outro e foi trocado. O presidente da comissão de arbitragem que diga porque trocaram o árbitro e puseram um benfiquista ferrenho que iria fazer tudo para prejudicar o meu clube. Ele provavelmente vai negar, eu também não tenho provas do que estou a dizer mas ele que se explique.» É, no mínimo, assustador que este tipo tenha falado nestes modos sobre uma partida de futebol. A expressão «assalto à mão armada» e o tom em que foi pronunciada, por momentos, fez-me acreditar que afinal quem protestava era um joalheiro acabadinho de ser espancado e roubado.

Fiquei deveras exaltado com a parvoíce pegada que ouvi na viagem de volta a casa e não consigo deixar de visualizar a cara vermelha e prestes a explodir do Mesquita Machado, provavelmente sendo aclamado por alguns amigos enquanto pegava no telefone e falava com o jornalista na plenitude da sua raiva. Fico verdadeiramente chocado que um presidente de Câmara, que também é presidente da Mesa da Assembleia Geral da FPF, esteja disposto a deitar a reputação pela janela fora, em troca de insultos a um árbitro e de colocar em causa a honestidade de um presidente de outro organismo e, ainda por cima, sem provas. Este tipo é uma grande besta!

Quando o futebol português vive a ferro e fogo, quando a sociedade portuguesa está descrente nos políticos e no seu próprio futuro, surge um tipo conhecido de todos, respeitado por alguns e presidente de muitos, trucidar tudo o que se puser à sua frente e do seu instinto de justiça. Um instinto à serial killer — Vamos rebentar com isto tudo, quantos mais se desgraçarem melhor, porque o que interessa é que no próximo jogo o árbitro apite o penalty a nosso favor — É uma vergonha! O Mesquita Machado é, definitivamente, uma grande besta.

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