terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Fim-de-semanário – Semana 1

O Inverno cai com fúria em Portugal. Um país de condições mínimas mas de grande alma. Sinto-me zangado, revoltado! O meu país está uma treta! Até parece que todo o português de jeito vive no estrangeiro.

Às vezes queixo-me da vida, tem sido injusta comigo... Isso de ser preciso ter um canudo com não sei quantos níveis para se treinar um grande apagou a minha chama. Mas depois, o padre disse-me — Se não podes cavar com as duas mãos, cava só com uma — E prá frente caminhei... Abandonei o sonho de ser treinador de futebol de um grande e abracei a escrita de um fim-de-semanário, aliado com o trabalho de guarda-nocturno. Para quem não sabe, um fim-de-semanário é um diário de fim-de-semana.

Aqui vão ler opiniões espertas sobre os principais eventos do futebol nacional agendados para os fins-de-semana. Também vão saber tudo sobre os fins-de-semana dos nossos futebolistas imigrantes. E ficarão a conhecer os principais eventos a ter debaixo de olho na semana seguinte.


Vá ao estádio, cá dentro

Para inaugurar o fim-de-semanário, seleccionei a partida entre Vitória de Setúbal e Sporting como destaque nacional deste fim-de-semana. O encontro prometia. O facto de ser transmitido em canal aberto era o que mais me seduzia. O jogo (ainda há quem se atreva a o catalogar de Clássico) mobilizou quatro mil espectadores para se deslocarem ao Estádio do Bonfim. A noite fria não justifica tudo. Desconheço o preço dos bilhetes, portanto não posso afirmar que esse pormenor não justifique tudo. Posso afirmar, no entanto, que é uma tristeza.

Começo a análise da partida pelo fim. O Vitória tem sete golos marcados em treze jogos disputados e, mesmo assim, consegue estar acima da linha de água. Outra tristeza. E há quem tenha saudades do campeonato com dezoito equipas... Passando para o início, os primeiros vinte minutos foram uma tugada à italiana. Uma tugada porque o pequeno fartava-se de correr e o grande limitava-se a olhar. À italiana porque o grande marcou na primeira oportunidade de golo. Após o tento inaugural, os jogadores do Sporting perceberam que afinal até dá gozo jogar bom futebol. Os leões mandaram na primeira parte e os sadinos provaram que estão a milhas de conseguir praticar o futebol patenteado na época anterior. Aquele Cissokho (que dizem que vai para o Porto) tem nome de jogador... Mas não sabia que isso era requisito único para equipar de dragão ao peito. A segunda parte do jogo foi uma tugada genuína. O pequeno a tentar e o grande a olhar. O marcador ficou-se no 0-2 construído na primeira metade.

Gosto de ver o Postiga a jogar ao lado do Liedson. O avançado português aparece transformado pelas mãos de Paulo Bento. À vista desarmada, percebe-se logo uma melhor postura competitiva, traduzida em grande predisposição para o trabalho defensivo e em fome de bola para atacar os adversários. Mantém intactos os restantes atributos que sempre demonstrou (categoria técnica e visão de jogo) e é um jogador com apreciável capacidade de choque. Não tenho dúvidas de que Postiga é o que melhor combina com Liedson. Se me obrigarem a escolher outro... Escolho a Mariza! Pelo menos cantava um bocadinho a seguir a marcar um golo, em vez de ficar quieto e calado como faz o Djaló e, mesmo que fosse apalpada repetidas vezes, de certeza que não tinha a média de meia agressão por jogo como o Derlei.

Na restante jornada, começo por destacar a derrota do Benfica na Trofa. Os encarnados continuam a encantar... Numa semana os seus adeptos, na semana seguinte os adeptos dos outros. Ainda mais importante do que a derrota, é a queda para o segundo lugar da Liga por troca com o Porto. Nas vésperas do jogo com o Trofense, Quique Flores mencionou que o Benfica tinha de defender a liderança como se defende um castelo. Se os seus conterrâneos tivessem a mesma competência a defender os seus castelos uns séculos atrás, hoje, seriam outros os campeões europeus em título.

O dragão safou-se mesmo no fim. E até ganhou por dois. Quatro a dois. Desses quatro, dois foram do Hulk. Pé esquerdo fogoso e um corpo à Jonah Lomu trituram os adversários. O Regisconta está a dar a volta ao texto lá para o lado das Antas e fica a sensação de que ainda só descobriu vinte e cinco por cento do que pode fazer... É um sarilho!

Ao embrenhar-me na apreciação do trabalho da arbitragem nesta jornada, reparei na partida Marítimo-Paços de Ferreira. Segundo um jornal desportivo (só leio um e não digo qual é) o árbitro Bruno Paixão poderá ter errado ao anular um golo aos insulares. Outras fontes não têm dúvidas que o golo foi mal anulado. Erro grave! Mas quem vê o resumo do Marítimo-Paços de Ferreira? Só mesmo as gentes desses sítios e o país não é afectado. Conflitos regionais são resolvidos pelas autarquias. Os casos nos jogos dos grandes é que urgem ser discutidos. E nesse capítulo, esta jornada não teve casos para comentar. Falem da mão do Binya... Do penalty do Porto no último minuto... Mas foi tudo bem apitado.


Imigrantes de chuteiras

Olho pela janela do meu posto de trabalho para contemplar o fumo branco que sai da chaminé em contraste com o preto da noite. Bebo um café enquanto desço bem fundo para observar os senhores do apito que empestam o país. E fumo um cigarro enquanto subo bem alto para admirar portugueses de luxo. Os futebolistas imigrantes. Conquistadores do século XXI e únicos que contribuem para que em Portugal ainda se sinta orgulho. Escrevo sobre eles como Camões escrevia sobre os primeiros descobridores, para que sirvam de inspiração a todo um povo!

O grande destaque imigrante do fim-de-semana residia no Valência-Atlético de Madrid, jogo onde podiam marcar presença em campo cinco portugueses — Encho-me de orgulho só de pensar nisso — O Valência venceu por 3-1, com Miguel a ser o que mais brilhou entre os três portugueses utilizados, Manuel Fernandes e Simão foram os restantes. O lateral direito fez, inclusive, uma assistência para golo. É fundamental referir os autores dos passes para golo. O reforço positivo é imperativo, porque os jogadores que passam a bola também têm orgulho. Podem não valer tanto como os que marcam mas também são gente. Maniche está lesionado e o Hugo Viana não foi convocado. Três em quatro possíveis não está nada mal.

Como sucede todos os fins-de-semana, existiam muitos focos de interesse lusitano em terras de nuestros hermanos, como o Real Madrid-Villarreal, partida que assinalava o regresso do Pepe depois de longa paragem por lesão. O nosso centralão foi titular e o esteio da defensiva merengue. Muito elogiado pelo jornal Marca, Pepe está a caminho de alcançar a forma que o confirmou como uma das maiores figuras da liga espanhola esta temporada. No seu reduto, o Málaga venceu e entrou nos lugares que dão acesso à UEFA. O único tento da partida contra o Gijón, resultou de um canto apontado por Duda, outro português a dar cartas aqui ao lado. Em Camp Nou, Nunes secou Eto’o mas o Barcelona acabou por vencer o Maiorca por 3-1. Desfecho imerecido para o possante defesa português. Por fim, o Bétis perdeu 1-0 com o Almería graças a um frango do guarda-redes sevilhano. Se é para jogar um frangueiro, então o nosso Ricardo devia ser o eleito.

Em Inglaterra houve Taça. Apenas um futebolista luso em destaque: Nani. O jovem extremo esteve envolvido em quase todas as jogadas de perigo (e marcou um golo de penalty) do Manchester United, que defrontou e venceu uma equipa oriunda de um dos muitos escalões inferiores do futebol inglês. Estranhamente, ao consultar o sítio da Sky Sports, deparei-me com um valor invulgarmente baixo na classificação atribuída pelo público ao desempenho do português. Como sou um tipo moderno, deixo-vos uma hiperligação – Clica aqui – Ou o nosso menino fez muita porcaria nos intervalos dos lances de perigo ou há muito inglês que não gosta dele. Será que depois de CR7 a fava vai calhar a N17? Vou ficar atento...

Por outras paragens das ilhas britânicas, também aconteceu bola com destaque português. Na Escócia, um bravo conquistador continua a maravilhar um bando de bêbados. Falo de Pedro Mendes. Médio ex-Guimarães; ex-Porto; ex-Tottenham; ex-Portsmouth e agora figura de proa do Rangers de Glasgow. O experiente organizador de jogo marcou o primeiro golo da partida, na tradicionalmente difícil deslocação ao terreno do Inverness. O Rangers venceu por três golos sem resposta e está a cinco pontos de distância da liderança do campeonato ocupada pelo Celtic. O nosso principal representante em terras escocesas saíu tocado por volta dos sessenta minutos. Tudo indica que terá sido retirado do relvado por mera precaução, mesmo assim, envio os meus votos para que os exames revelem tudo o que desejaste Pedro.

Mendes foi eleito o homem do jogo. Vejam e ouçam com atenção o vídeo no televisor aqui em baixo. Além de poderem apreciar o grande golo do médio português (remate perfeito em arco, sem preparação e executado na conclusão de um contra-ataque fulminante) podem ouvir o jogador responder às perguntas do entrevistador evidenciando um inglês de fazer inveja ao Sean Connery. O Pedro Mendes é um senhor!


Destacando muito rapidamente outros portugueses espalhados por esse Mundo fora, começo em Itália e com Manuel da Costa. O jovem e promissor central, que não joga na Fiorentina e por isso está em conflito com o treinador (é a regra de três simples no futebol) está a caminho da Juventus. Manobra surpreendente da equipa orientada por Claudio Ranieri, de quem se diz ser apreciador das qualidades do português.

O PAOK de Fernando Santos venceu o OFI Creta e encontra-se isolado no segundo lugar com seis pontos de atraso para o líder Olympiakos. Referência especial para o regresso de Vieirinha. O jogador emprestado pelo Porto esteve em campo pela primeira vez depois de prolongada ausência por lesão. Força rapaz!

Houve quem me pedisse para fazer uma referência a Chipre, onde foram apontados golos de autoria lusa. Mas devo informar que ali trabalham cinquenta futebolistas portugueses, assim sendo, merece tanto destaque como a nossa segunda Liga. E mais... Português que imigra para países piores que o nosso não é imigrante de luxo, é imigrante a muito custo.


Debaixo d’olho

Esta semana, o primeiro assunto debaixo do meu olho vai ser o hipotético caso do ódio inglês dirigido ao Nani. Será que os bifes vão continuar a atribuir notas injustas ao nosso craque? A seguir com atenção....

Debaixo do outro olho vai estar a primeira jornada da terceira fase da Taça da Liga. Essa competição que faz lembrar um elevador de arranha-céus. Viaja pelos dias da semana com a mesma facilidade com que o elevador sobe ao topo da Torre Vasco da Gama. Na quarta-feira, o Benfica joga em Guimarães. Encontro crítico para os encarnados, mais um. Na quinta-feira, o Porto recebe o Setúbal. Não me perguntem pelos outros jogos da jornada porque não faço ideia quando são ou se já aconteceram.

Debaixo do último olho vai estar a opinião do Sousa Tavares, um borrão de tinta no único jornal desportivo que leio. Oops! O importante é não apanhar uma constipação com a nortada que se aproxima.


Por Bernardino Glória

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