quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Fim-de-semanário – Semana 2

O segundo fim-de-semana de 2009 era pródigo em eventos de gabarito, cá dentro e além fronteiras, com o futebolista lusitano como interveniente de luxo. Os espécimes desta raça são, com frequência, garanhões da província, escassas vezes, meninas da cidade mas sempre... artistas da redondinha.

No país de campeões do Mundo do acordeão — clica e chora coração vermelho e verde — as hostes benfiquistas, animadas com o triunfo na Cidade Berço a meio da semana, ansiavam a entrada em campo para defrontar o Sporting de Braga e Jesus, elemento estatisticamente aziago para os encarnados. O Porto parecia estar perante uma jornada idílica para permanecer na liderança, enquanto o Sporting recebia o Marítimo no Alvalade XXI. A partida entre Leixões e Setúbal também despertava interesse, para ajudar a compreender se os de Matosinhos perderam o gás de vez ou se conseguem ir à boleia dos grandes por mais um bocadinho.

Lá por fora, grande destaque para a batalha de gigantes em Old Trafford, Manchester United versus Chelsea. No domingo, o mundo inteiro iria fixar os olhos em Cristiano Ronaldo!... Nani!... Ricardo Carvalho!... Bosingwa!... Paulo Ferreira!... Hilário!... E Scolari, sem direito a claque, porque lembra Portugal mas não é português. Mais notícias lusas em Espanha, Itália e noutros focos de magia dispersos pelo velho continente. Não sei se repararam mas, ali atrás, o Deco ficou fora da minha lista. Não é que o moço se lembrou de confidenciar ao mundo que é no Brasil que se sente «verdadeiramente em casa». É assim que respondo a gente ingrata: — A ti Deco, só digo isto: há mar e mar, há ir e voltar...


Vá ao estádio, cá dentro

A semana passada, entristeceu-me constatar que o diário de fim-de-semana é de curto alcance. Com a jornada da Liga a começar à sexta e a terminar à segunda, senti-me moralmente corrompido ao ser forçado a escrever em conformidade com uns horários sem tino. Porque é que se insiste em espalhar a porcaria? Deve-se é colocar tudo muito juntinho, porque assim despacha-se mais depressa o martírio. Esta semana foi precisamente isso que aconteceu, com todos os jogos a disputarem-se no sábado e no domingo, parabéns à Liga. Também na jornada anterior, estranhamente, não se verificaram polémicas de arbitragem. No entanto, a felicidade durou pouco e este fim-de-semana gerou polémica suficiente para o ano inteiro. De facto, não há maneira de este nosso futebol dar duas prá caixa, quando se anda dois passos em frente, logo se encontra forma de andar um para trás.


A 14.ª jornada da Liga Sagres implicou nova troca na liderança, fruto das vitórias de Benfica e Sporting e do empate do Porto. O campeão nacional efectuou dezasseis remates, enquanto o Trofense apenas um e dispôs de quinze pontapés de canto contra um conquistado pelo seu adversário. No Dragão, viu-se os jogadores da Trofa safar duas bolas em cima da linha de golo, os jogadores do Porto rematar uma vez ao poste e falhar mais uma quantidade industrial de oportunidades para fazer o marcador funcionar. O último lance do desafio é digno de entrar para os apanhados hilariantes da época. Rodriguez, a um metro da baliza, consegue acertar no único obstáculo entre si e o golo, o seu colega de equipa Guarin. Fico com dúvidas se o principal culpado deste falhanço é o colombiano, por ter muito por onde correr sem ser em direcção de um colega que está prestes a rematar à baliza ou o uruguaio, por possuir uma visão periférica semelhante à de um burro com palas. No final do desafio, Jesualdo queixou-se do azar, da falta de discernimento na finalização e do árbitro. Ficaram duas grandes penalidades por assinalar, segundo o técnico portista, ainda por cima no mesmo dia em que um rival directo foi beneficiado por erros de arbitragem. Haja critério meus senhores. Se um grande é beneficiado, os outros também têm de o ser. Inadmissível!

O Benfica lá ganhou. Um golo, em claro fora-de-jogo, foi suficiente para estabelecer o resultado final da partida. O grande protagonista do encontro foi Paulo Baptista. Além do referido golo irregular, o juiz do encontro ofereceu um penalty ao Benfica e não quis fazer o mesmo aos arsenalistas em outras duas ocasiões. Quem igualmente merece destaque é o pacato presidente do Sp. Braga, por explicar-nos que «Paulo Baptista é o Inocêncio Calabote do século XXI». O senhor António Salvador subiu muito na minha consideração, primeiro por conseguir pronunciar o nome do ex-árbitro sem se engasgar (não é para todos) e, em segundo lugar, porque disse uma grande verdade, que eu me atreveria a classificar de tão incontestável como a pirueta ser a cambalhota do século XXI.

Já para os lados do Estádio José de Alvalade, também este do século XXI, só deu Liedson. O craque de Itaparica é mesmo bom de bola e, em dois lances de génio, resolveu a partida. O Sporting fica colado ao Benfica na liderança da Liga e vai rezando para que o mercado de Inverno feche o mais depressa possível. Referência, ainda, para o Leixões, que comprovou estar a navegar em maré baixa. Esta jornada, empatou a zero em casa com o Setúbal e contabilizou o quinto jogo consecutivo sem vencer. Talvez seja altura de trocar o isco no Estádio do Mar, visto que um quintal e algum futebol já não chegam para convencer os oponentes a morder no anzol.


Imigrantes de chuteiras

Domingo foi dia de jogo grande em terras de Sua Majestade. O Chelsea deslocava-se a Old Trafford para defrontar o Man. United e o resultado foi mais desnivelado do que o inicialmente previsto, com a equipa de Manchester a dominar e vencer a partida por 3-0. Portugueses em campo foram três e meio: Ronaldo; Ricardo Carvalho; Bosingwa e o ingrato, Deco, que, além de ser meio português de verdade, ainda cospe no prato onde come. O Ronaldo esteve em grande, marcou um golo que o ranhoso do árbitro não validou e esteve envolvido nos principais lances de perigo. Do outro lado, nada correu bem ao Chelsea e, dos tugas, apenas Ricardo Carvalho se manteve em campo até ao final da partida. O central e CR7 estiveram envolvidos num desaguisado e, por momentos, pareceu que os dois imigrantes de luxo estavam verdadeiramente zangados um com o outro. Nada disso, são coisas do futebol e os dois amigos estão prontos para jogar e brilhar juntos pela Selecção. Algumas pessoas ficaram apreensivas com a discussão entre os dois talentos nacionais mas já deviam saber que um português só está realmente zangado se leva o jornal enrolado na mão.

Em Itália, o campeonato regressou depois das férias de Natal e o Inter não foi além de um empate a uma bola na recepção ao Cagliari. Com este empate, a equipa de Mourinho passou a liderar apenas com quatro pontos de vantagem para a Juventus de Tiago, que continua a recuperar de lesão. Não havendo mais motivos de interesse lusitano em Itália, a grande notícia foi a visita de Maradona ao centro de estágio interista. El Pibe disse, bem alto para todos ouvirem, que o nosso Mourinho é o melhor treinador do planeta. Não é novidade para ninguém mas o elogio vale mais que qualquer prémio que o nosso mister venha a ganhar na sua carreira.

EliseuEm Espanha, houve novo duelo lusitano, o Bétis-Málaga. A partida teve vários pontos de interesse, começando no regresso de Ricardo à baliza sevilhana, como eu exigi há uma semana. O guardião português esteve em bom plano e apenas não conseguiu segurar o empate porque, no último minuto do encontro, outro português fez um golo de bandeira. O autor do tento que ditou a derrota do Bétis foi Eliseu, médio praticamente desconhecido do público nacional mas que já é figura de destaque na liga espanhola. Em campo tiveram ainda Nelson, pelo Bétis, Hélder Rosário e Duda pelo Málaga. Mais uma jornada positiva de propaganda lusitana.

Muitos mais futebolistas nacionais estiveram em acção na Europa do futebol mas faço apenas mais um destaque individual. Pois é, foi segunda-feira mas também vale. Se sou obrigado a escrever à segunda por causa de jogos de caca, podem querer que não ia deixar de referir este acontecimento. É que há um novo menino d’ouro em Portugal, Cristiano Ronaldo, o melhor do mundo! Contra tudo e contra todos, Cristiano tornou-se, oficialmente, o maior e agora tentem tirá-lo de lá... Mais depressa convencem a dona Dolores a vestir um fato-de-treino cor-de-rosa, do que tiram o nosso Ronaldo do trono. Continua assim rapaz, Portugal voltou a ser gente por tua causa. Muito obrigado.


Debaixo d’olho

– Debaixo d’olho vai estar mais uma jornada da Taça da Liga, a segunda da terceira fase. Desta vez, jogam todos no mesmo dia (quarta-feira). Parabéns à Liga.

– Também debaixo d’olho vão estar os órgãos de comunicação social de todo o mundo, mais propriamente, os artigos publicados sobre o nosso menino Ronaldo. Não é que o sítio do jornal Marca fez uma sondagem a perguntar se a malta ama ou odeia o génio português... E o ódio vai à frente. Embora lá votar, se faz favor.


Por Bernardino Glória

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